Vídeo mostra batida de carro em viatura antes de passageira ser morta pelos agentes na madrugada de domingo (11). Caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil. Queda de barranco, barulho de tiros, disparo de advertência: o que disseram policiais envolvidos em morte na Av. Brasil
O RJ2 teve acesso aos depoimentos dos policiais que atiraram contra o carro de Elaine Esteves Pereira, na Avenida Brasil, na madrugada de domingo (11). A cozinheira de 39 anos morreu na hora. Ela estava com o marido, Carlos André Alves de Almeida, que nada sofreu.
Os policiais envolvidos na ação disseram, à Corregedoria da Polícia Civil, que ouviram um barulho, semelhante a um disparo de arma de fogo, assim que pegaram a via expressa. E que viram um carro em alta velocidade descendo um barranco e indo em direção à viatura.
O motorista da viatura atingida disse que gritou para Carlos André parar e fez um disparo de pistola para o alto.
Ainda segundo o policial, o carro do casal não parou e seguiu por mais alguns metros. Foi quando ele admitiu ter feito mais um disparo, dessa vez na direção do carro, pois teria escutado barulhos altos, semelhantes à arma de fogo.
Ainda em depoimento, o policial disse que achou que o carro era conduzido por bandidos que estariam se deslocando entre comunidades locais, já que estava em alta velocidade.
Um outro agente que vinha na viatura atrás também admitiu ter feito 2 ou 3 disparos de fuzil.
Carlos André afirmou que o carro dele foi revistado e que nenhuma arma foi encontrada. Na Delegacia de Homicídios, ele disse que não sofreu qualquer tipo de constrangimento ou violência, diferente do momento da abordagem.
“Eu tava sendo tratado como um meliante, um criminoso”.
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Batida de carro em viatura
Vídeo mostra batida de carro em viatura antes de passageira ser baleada por policiais
Imagens de câmeras de segurança mostram o acidente que terminou com Elaine morta. No vídeo, o carro em que estavam ela e o marido aparece sem controle, descendo um barranco – fora da pista – e entrando subitamente na via lateral da Avenida Brasil, próximo ao Trevo das Margaridas, perto de Parada de Lucas, na Zona Norte do Rio (assista acima, a partir de 45 segundos de vídeo).
No exato momento em que o veículo invade a via, surgindo da lateral, passava a primeira de uma série de viaturas de um comboio da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil. O veículo é atingido na lateral perto da traseira.
O carro de Carlos e Elaine segue por mais alguns metros e para, sem aparentar uma tentativa de fuga.
Vários tiros foram dados por agentes. Segundo o viúvo, ao menos quatro deles atingiram o carro, e um deles acertou Elaine nas costas e matou.
“Antes de tentar tirar o cinto dela, vários disparos, vários tiros, quatro acertaram nosso carro”, disse Carlos André.
A Corregedoria da Polícia Civil investiga o caso, já que agentes da DH, especializada em desvendar casos de homicídios, estão envolvidos.
Local onde carro desceu antes de tiros na Avenida Brasil
Reprodução
Local onde carro desceu antes de tiros na Avenida Brasil
Reprodução
Perseguição após acidente
Na madrugada de domingo, Elaine e o marido, Carlos André, voltavam de uma festa. Ele contou que um casal em outro veículo o acusava de ter batido no carro deles. Carlos não atendeu ao pedido de parar. Disse que ficou com medo e acelerou.
“Eu não notei essa batida. Eu sou um cara de caráter, íntegro, não tinha motivo de estar inventando, eu não notei, e ficamos com medo de uma abordagem assim.”
Na delegacia, ele contou que o outro motorista foi atrás dele e bateu com o próprio carro no veículo dele.
Esse casal acionou a Polícia Militar, que também foi atrás do carro de Carlos e Elaine. É a mesma viatura da PM que apareceu na imagem, pouco mais de um minuto depois da batida.
O motorista que perseguiu Carlos foi ouvido pela polícia e disse que a intenção era fazê-lo parar, mas desistiu da perseguição quando viu uma viatura da Polícia Militar.
O policial que dirigia a viatura atingida disse que Carlos apresentava sinais de embriaguez.
Ele fez exame de alcoolemia quatro horas depois do acidente. O resultado deu negativo para embriaguez, mas, segundo o laudo, havia vestígios compatíveis com consumo de álcool, como hálito etílico. Mas sem comprometimento da capacidade psicomotora, de acordo com os peritos.
“A gente entende que a polícia é refém da cidade do Rio de Janeiro, de como ela vive, e como ela é, mas também eles têm de ter preparo para esse tipo de abordagem porque não foi efetuado nenhum disparo, nenhuma atitude que pudesse após o acidente, após a colisão, que pudesse levar a polícia a entender que houvesse perigo posterior”, disse o advogado da família de Elaine, Bruno Vergílio.
A Corregedoria da Polícia Civil está investigando todo o caminho percorrido pelo casal, desde a festa até Avenida Brasil, e ainda investiga a conduta dos policiais logo após a batida.
Carlos André, marido de Elaine, negou que tenha consumido álcool naquela noite.