
Governo iraniano prometeu nesta quinta (12) aumentar ‘significativamente’ enriquecimento de urânio, na contramão do que EUA querem. Negociações iniciaram em abril, após Trump ameaçar bombardear estruturas nucleares do Irã. O presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei
Associated Press / Office of the Iranian Supreme Leader/WANA (West Asia News Agency)/Handout via REUTERS
O Irã prometeu nesta quinta-feira (12) aumentar “significativamente” sua produção de urânio enriquecido, três dias antes de uma nova rodada de negociações com os Estados Unidos sobre seu programa nuclear. A fala representou um desafio aos EUA porque vai na contramão do que o governo americano quer, que é zerar os níveis de enriquecimento de urânio do rival.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
A República Islâmica fez o anúncio logo após um conselho de governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão regulador da ONU, adotar uma resolução que condena o Irã e o acusa de não cumprir suas obrigações.
O chanceler iraniano, Abbas Araqchi, afirmou que esta resolução aumentou “a complexidade” das negociações com Washington, com quem Teerã se reunirá pela sexta vez no domingo, graças à mediação de Omã.
“Estaremos em Mascate defendendo os direitos do povo iraniano”, afirmou o ministro Araqchi.
Israel, arquirrival do Irã, foi rápido em instar o mundo a agir “decisivamente”.
Os Estados Unidos, Israel e várias potências ocidentais acusam há anos o Irã de tentar adquirir a bomba atômica, o que Teerã nega veementemente, alegando que seu programa é puramente civil.
O enriquecimento de urânio emergiu mais uma vez como a questão mais espinhosa nas negociações com os Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano. As tensões continuaram a aumentar nas últimas horas, três dias antes da sexta rodada de negociações, marcada para domingo em Omã.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã anunciou nesta quinta-feira que o chefe da agência atômica iraniana emitiu “as ordens necessárias” para “inaugurar um novo centro de enriquecimento de urânio em um local seguro”.
O Irã também substituirá todas as suas centrífugas de urânio de primeira geração por dispositivos de sexta geração no centro de enriquecimento de Fordow, ao sul de Teerã, disse Behrouz Kamalvandi, porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã.
Isso significa que “nossa produção de material enriquecido aumentará significativamente”, disse ele à televisão estatal.
– “Extremista” -O conselho de governadores da AIEA, em Viena, adotou por 19 votos, de um total de 35, uma resolução condenando o “não cumprimento” das obrigações nucleares do Irã, informaram fontes diplomáticas.
O diretor do programa nuclear do Irã, Mohamad Eslami, classificou a resolução como “extremista” e a atribuiu à influência de Israel.
A República Islâmica afirma que o enriquecimento de urânio é “inegociável”, enquanto Washington o considera uma “linha vermelha”.
O Irã está atualmente enriquecendo urânio a 60%, bem acima do limite de 3,67% estabelecido no acordo de 2015, embora abaixo dos 90% necessários para fabricar uma bomba atômica.
A União Europeia pediu ao Irã que “evite qualquer medida que contribua para uma escalada”, enquanto a França criticou a contínua “escalada nuclear do Irã”. A Alemanha pediu à República Islâmica que desista “de forma credível” de qualquer projeto de armamento nuclear.
Desde abril, Teerã e Washington realizaram cinco rodadas de negociações para tentar chegar a um acordo para reativar o pacto internacional de 2015 sobre o programa nuclear iraniano, do qual o primeiro governo Trump se retirou em 2018.
– Ameaças iranianas a bases dos EUA -Como parte da pressão, o Irã alertou na quarta-feira que atacaria bases americanas no Oriente Médio caso as negociações com Washington fracassassem.
Horas depois, o presidente Donald Trump confirmou a retirada de pessoal americano da região, afirmando que “poderia ser um lugar perigoso” nos próximos dias.
Para dar uma chance à diplomacia, o presidente americano revelou que dissuadiu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de atacar as instalações nucleares do Irã, país que tem patrocinado inimigos regionais de Israel como o Hezbollah libanês, o Hamas palestino e os huthis do Iêmen.
Trump, embora aberto a um acordo, não parou de ameaçar com uma ação militar caso as negociações com Teerã fracassem.
Em 31 de maio, após a quinta rodada de negociações, o Irã afirmou ter recebido “elementos” de uma proposta americana para um possível acordo, embora o Ministério das Relações Exteriores tenha posteriormente esclarecido que o texto continha algumas “ambiguidades”.
O Irã acrescentou que apresentará uma contraproposta ao último rascunho de Washington, que criticou por não oferecer alívio das sanções econômicas que o país sofre há anos.
A suspensão das sanções é uma das principais reivindicações do Irã.