Mais presentes e mais afetuosos: o que vem mudando na relação dos homens com os filhos?


O Globo Repórter desta sexta-feira (9) conversou com os “novos pais” para entender essa mudança. Globo Repórter – Novos Pais – 09/08/2024
Cerca de 5% dos bebês que nasceram entre 2016 e 2021 foram registrados sem o nome do pai. São 859 mil vidas com os pais ausentes. Só em 2023, os cartórios emitiram, por dia, 470 certidões de nascimento sem filiação paterna.
Mas existem pais que fazem o que podem para mudar essa realidade. O Globo Repórter desta sexta-feira (9) investigou o que vem mudando na relação entre pais e filhos. O programa conversou com os “novos pais” que buscam ser mais presentes e mais afetuosos. Saiba mais abaixo.
Os ‘novos pais’?
Mais presentes e mais afetuosos: o que vem mudando na relação dos homens com os filhos?
Reprodução/TV Globo
A psicóloga Sandra Salomão é especialista em terapia familiar. Ela afirma que a sociedade está começando a entender que criar filho é um papel tanto do homem quanto da mulher.
“As principais mudanças no homem como pai estão diretamente relacionadas às mudanças no da mulher como mãe. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho e as discussões sobre machismo e valores”.
Ainda de acordo com a psicóloga, as expectativas também mudaram:
“Antes, não se esperava que o homem fosse parceiro no cuidado da casa e dos filhos. Hoje, isso é esperado. Essa é uma grande mudança”, explica a professora de psicologia da PUC-RJ.
‘Comunicação não violenta’ e ‘paternidade afetuosa’
Pai de quatro fala sobre a importância da ‘comunicação não violenta’
Thiago Queiroz é pai de quatro e vive intensamente as questões dos filhos com afeto, confiança, amor e uma presença ativa. Ele foi um dos primeiros no Brasil a falar sobre comunicação não violenta e paternidade afetuosa.
“Sabe aquela situação em que, quando você se machucava ou fazia uma besteira na adolescência, pensava: ‘Meu pai não pode saber disso’? Eu não queria que meus filhos pensassem assim. Eu queria que eles dissessem: ‘Preciso contar para o meu pai’. Nesse processo, enquanto você abraça o filho que está chorando, também recebe o abraço que faltou lá atrás, quando você mesmo se machucou e precisava de um abraço”, relata o psicanalista.
Thiago tinha 17 anos quando ele e o pai se afastaram. Após o nascimento do primeiro filho, ele quis fazer diferente.
“Eu queria trilhar um caminho novo, meu, junto com meus filhos. Muitas pessoas confundem isso com a ideia de que, ao fazer diferente do que fizeram com você, é porque quer ser melhor que seus pais. Mas não é sobre isso. É sobre descobrir seu próprio caminho”, comenta.
Thiago é autor de vários livros e se formou em psicanálise no meio desse mergulho na paternidade. Alguns dos momentos de diversão em família acontecem com jogos de tabuleiro que ele mesmo cria. Os próprios filhos são personagens (veja na imagem abaixo).
Thiago criou jogo de tabuleiro com os próprios filhos como personagens
Reprodução/TV Globo
‘Ficava na dúvida se ia conseguir ser um pai afetuoso’
‘Ficava na dúvida se ia conseguir ser um pai afetuoso’, diz pai de menino com autismo
Para Humberto Baltar, o aprendizado começou durante pandemia. Enquanto a mulher trabalhava, ele, professor e escritor, passou a ficar mais em casa com filho e mais presente.
“Eu tive um pai provedor, mas que não falava comigo sobre meus sentimentos. Essa coisa do “eu te amo”, do beijo. Isso não fazia parte do meu dia a dia. Eu ficava naquela dúvida: será que eu vou conseguir ser um pai afetuoso?”, ressalta Humberto.
Humberto afirma que encontrou respostas na própria ancestralidade.
“A cultura africana, que é matriarcal, coloca a mulher no centro. Isso me ajudou demais porque tirou qualquer possibilidade do machismo afetar nossa relação. Se eu visse o cuidado como inferior, ou apenas do feminino, como normalmente se vê em nossa cultura, não teria conseguido acolher o meu filho, nem paternar. Devo muito à ancestralidade africana por ter aprendido outros repertórios”, diz.
Rompendo ciclos
Como remar juntos fortalece os laços entre o pai Luiz e o filho João
Remar juntos, com uma equipe, fortalece os laços entre o pai Luiz e o filho João. Os dois dividem as manhãs e a canoa havaiana no mar da reserva de Itaipu, em Niterói, no Rio de Janeiro. Veja no vídeo acima.
“Essa coisa da união mesmo, de estar junto, em parceria de estar dentro d’água”, diz Luiz Mastrangelo.
Luiz é pai de três filhos adultos, mas apenas um não mora mais em casa. Ele e a esposa Verônica têm uma relação com os filhos bem diferente da que tiveram com os próprios pais.
“Meu pai, muitas vezes, poderia ter me escutado, como eu escuto meus filhos. Fui educado de forma rígida, com castigos, sem um diálogo legal. Nos tornamos muito amigos depois que casei e tive filhos. Foi só então que começamos a nos comunicar de verdade. Antes, meu pai só falava e nós, filhos, ficávamos calados, repetindo o mesmo ciclo em que ele foi criado”, comenta Luiz.
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