Trump constrange presidente da África do Sul ao acusar país de genocídio branco


O presidente Cyril Ramaphosa pediu a reunião. O objetivo, segundo ele, era recomeçar a relação com os Estados Unidos. O presidente dos Estados Unidos usou, mais uma vez, o Salão Oval da Casa Branca para constranger o líder de outro país. Ao receber o presidente da África do Sul, Donald Trump fez acusações falsas de que o país enfrenta um genocídio contra pessoas brancas.
O presidente Cyril Ramaphosa pediu a reunião. O objetivo, segundo ele, era recomeçar a relação com os Estados Unidos. Desde que tomou posse, em janeiro, Donald Trump acusou a África do Sul de ter uma política externa antiamericana e uma política interna antibrancos. Ele cortou toda a ajuda financeira ao país, além de expulsar o embaixador sul-africano de Washington.
Trump também ofereceu status de refugiado a 59 sul-africanos brancos, alegando que são vítimas de um genocídio. O que nunca foi nem denunciado nem provado em tribunais internacionais. Nem mesmo o partido que representa a comunidade branca do país afirma que crimes do tipo estejam acontecendo.
No Salão Oval, Trump começou o encontro em um tom cordial:
“É uma honra receber o presidente sul-africano. Ele é um homem muito respeitado em alguns círculos. Em outros, um pouco menos, como todos nós”.
Trump constrange presidente da África do Sul ao acusar país de genocídio branco
Jornal Nacional/ Reprodução
Ramaphosa destacou as parcerias comerciais que já existem entre os dois países, pediu laços mais fortes e ofereceu acordos por minerais raros. Trump, então, falou que conversaria sobre a perseguição e genocídio contra fazendeiros brancos.
Quando abriram para perguntas, uma jornalista questionou o que faria Trump se convencer de que não há um genocídio na África do Sul. Ramaphosa disse que poderia responder pelo americano e que Trump precisaria ouvir as vozes da África do Sul:
“Se houvesse um genocídio contra fazendeiros brancos, eu aposto que esses três homens não estariam aqui. Inclusive meu ministro da Agricultura”.
Ramaphosa estava se referindo aos integrantes brancos da comitiva presidencial sul-africana. Trump respondeu que há milhares de histórias de crimes e, em um ato inédito no Salão Oval, mandou apagar as luzes da sala:
“Eu posso te mostrar”, disse o americano.
Trump constrange presidente da África do Sul ao acusar país de genocídio branco
Jornal Nacional/ Reprodução
Com o Salão Oval no escuro, a equipe da Casa Branca exibiu um vídeo. Diante de uma multidão, um homem fazia um discurso de ódio:
“Matem os bôeres”, uma referência aos fazendeiros brancos.
Quem aparecia no vídeo era o líder de um partido de oposição da África do Sul, Julius Malema – expulso do partido de Ramaphosa e de Nelson Mandela há mais de uma década por discurso de ódio.
Outro vídeo mostrava, segundo Trump, mais de mil cruzes, e cada uma representava um branco morto na África do Sul. Cyril Ramaphosa perguntou onde estavam aquelas cruzes; disse que nunca tinha visto. Trump respondeu que não sabia o lugar, apenas que ficava na África do Sul.
Depois da exibição dos vídeos, uma repórter perguntou ao presidente Trump o que ele gostaria que Ramaphosa fizesse. Trump disse que não sabia e começou a mostrar, sem entrar em detalhes, reportagens sobre crimes contra brancos. O sul-africano afirmou que o governo é totalmente contra discurso de ódio e explicou:
“Existe criminalidade no nosso país. As pessoas que são mortas não são só brancos. A maioria delas é de pessoas negras”.
A última estatística de assassinatos do país é do período de outubro a dezembro de 2024: 6.953 pessoas morreram; 12 pessoas em ataques a fazendas. O ministro da Agricultura da África do Sul ressaltou para Trump que a violência no meio rural afeta a todos, não apenas os brancos.
Na África do Sul, quase todos os brancos são africâneres. É como são conhecidos os descendentes dos europeus, principalmente holandeses, que chegaram ao país há quase 400 anos.
Trump constrange presidente da África do Sul ao acusar país de genocídio branco
Jornal Nacional/ Reprodução
Em 1948, políticos dessa minoria étnica criaram um regime brutal de segregação racial contra os negros: o apartheid. Por mais de 40 anos, a África do Sul viveu sob esse regime, que só acabou totalmente em 1994, com a eleição de Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul. Mandela nunca propôs uma política de vingança contra os africâneres e, sim, de união de todos os povos que formam a África do Sul.
No Salão Oval, Ramaphosa, que foi ativista ao lado de Mandela na luta contra o apartheid, citou o ex-presidente:
“Como aprendemos com Mandela, sempre que há problemas, as pessoas devem se sentar em uma mesa e conversar”.
O bilionário Elon Musk estava no Salão Oval durante a reunião de Trump e Ramaphosa. Musk nasceu e viveu na África do Sul até a adolescência. Hoje, é um dos principais críticos do país.
Depois da reunião, os presidentes e suas delegações participaram de um almoço de negócios. Antes de ir embora, quase três horas mais tarde, Cyril Ramaphosa respondeu a perguntas de jornalistas na Casa Branca. Ele indicou que o encontro foi positivo.
LEIA TAMBÉM
Trump constrange presidente da África do Sul com supostos vídeos de ‘genocídio branco’
Está havendo genocídio de sul-africanos brancos como diz Trump?
Entenda o que foi o regime racista do apartheid e como ele foi derrubado
Trump quer levar primeiros ‘refugiados’ brancos da África do Sul para os EUA na próxima semana, diz jornal
Adicionar aos favoritos o Link permanente.