

Como o cerco a Tuta, chefão do PCC, virou bandeira para avançar a PEC da Segurança – Foto: PF/Reprodução/ND
A prisão de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, apontado como “chefão” do PCC, virou peça no discurso do governo federal para defender a aprovação da PEC da Segurança no Congresso. Capturado na última sexta-feira (16) na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra, Tuta estava foragido há cinco anos e comandava o tráfico internacional da facção de forma “EAD”.
Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), o criminoso usava informações falsas para despistar a polícia. Entre as mentiras espalhadas pela própria facção estavam boatos de que ele teria sido morto ou expulso do PCC.
Essas “contrainformações”, como explicou o promotor, tinham o objetivo de confundir as autoridades e dificultar a localização.
A prisão de Tuta, no entanto, foi resultado de uma cooperação internacional bem-sucedida entre forças de segurança brasileiras e bolivianas. Ele foi detido ao tentar resolver questões migratórias usando um documento falso, o que levantou suspeitas.

Tuta é apontado como o “sucessor” de Marcola – Foto: Reprodução/ND
A Polícia Federal, com apoio da Interpol, confirmou a identidade por meio de dados biométricos e garantiu a extradição ao Brasil no domingo (18). Tuta agora está preso na Penitenciária Federal em Brasília.
Prisão de Tuta dá munição ao governo para avançar com a PEC da Segurança
Para o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o caso da prisão de Tuta mostra na prática a importância da integração entre as forças de segurança locais, nacionais e internacionais, que seria, segundo ele, o objetivo da PEC da Segurança.
“O governo brasileiro teve uma vitória muito importante contra o crime organizado ao prender este delinquente de alta periculosidade ligado a uma facção criminosa no Brasil”, disse o ministro sobre Tuta.
Durante coletiva de imprensa no Ministério da Justiça, Lewandowski defendeu que o crime organizado já ultrapassou as fronteiras dos estados e até mesmo dos países, exigindo respostas coordenadas entre polícias, Judiciário e agências internacionais. A proposta da PEC pretende fortalecer esse tipo de articulação, criando um sistema mais ágil no combate ao crime.

Ricardo Lewandowski defende a PEC da Segurança ao citar a prisão de Tuta – Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, destacou três fatores que foram cruciais para a captura de Tuta: a cooperação internacional, a identificação biométrica em tempo real e a integração entre diferentes órgãos brasileiros.
Valdecy Urquiza, secretário-geral da Interpol e delegado da PF, também ressaltou a importância do compartilhamento internacional de dados biométricos.
“Temos um banco de dados de biometria que fica localizado na sede da Interpol. É um hub biométrico, onde são armazenadas informações relacionadas a impressões digitais, a fotografias, a informações de DNA. Todas relacionadas a alguma possível atividade criminal; e geralmente relacionadas a foragidos internacionais. Com esse Hub biométrico, podemos fazer a conexão com bancos de dados nacionais”, explicou Urquiza”.
PEC da Segurança mira cooperação internacional, mas será suficiente?
Nesse contexto, a PEC da Segurança surge como uma resposta institucional a um problema que já não se limita às fronteiras municipais, estaduais ou mesmo nacionais.
Ao apostar na integração entre diferentes níveis de polícia e no fortalecimento da cooperação internacional, o governo tenta atualizar a estrutura jurídica e operacional do país a uma nova realidade criminal, onde o inimigo se move com agilidade digital, articulação global e capacidade de infiltração.

Marcos Roberto de Almeida foi expulso da Bolívia e chegou ao Brasil neste domingo (18) – Foto: Divulgação/ND
Apesar do avanço que a PEC representaria, especialistas alertam que a simples formalização dessa integração, por meio de uma emenda constitucional, pode não ser suficiente para conter organizações como o PCC.
Para um combate eficaz, seria fundamental também o investimento constante em inteligência, tecnologia e uma atuação mais preventiva, que antecipe as ações criminosas em vez de apenas reagir a elas.