Brasília é destacada nas telonas como cenário de diversas produções cinematográficas

Brasília é destacada nas telonas como cenário de diversas produções cinematográficasFernanda Moura

Brasília é uma tradução livre da palavra diversidade. No dia a dia, se ouve o “s” puxado do carioca, o “r” forte do paulista, o “uai” do goiano, o “trem bão” do mineiro, compondo a sonoridade da capital. No urbanismo, os traços de Oscar Niemeyer deram forma a uma cidade de contrastes: ao mesmo tempo uma urbe, marcada por edificações e monumentos, incrivelmente moderna, como se observa no Museu Nacional da República, a exemplo de uma das últimas construções do mestre em vida.

Essa mistura de estilos e influências atrai olhares de brasileiros e estrangeiros. Para quem mora na capital, o cenário pode se tornar cotidiano, mas para visitantes, o impacto visual é imediato. Foi assim desde os primórdios, quando, em 1959, Brasília foi apresentada ao mundo no primeiro filme inteiramente produzido aqui. Ainda cercado por obras e terrenos que viriam a se tornar bairros, o cineasta Gerson Tavares contou a história de um casal desajustado isolado em uma mansão no Lago Sul no filme Amor e Desamor.

Pequenas Criaturas | Foto: Divulgação

Mais de sessenta anos depois, o cinema encontrou em Brasília um ambiente cada vez mais promissor. A cidade, antes à sombra dos pólos tradicionais de produção, como Rio e São Paulo, se firmou como cenário para o audiovisual. “Além do forte investimento em incentivos fiscais para o audiovisual, Brasília tem essa mistura entre modernidade e história, o que atrai muitos cineastas“, explica Fernando Toledo, diretor cultural especializado em produção de locação para cinema, internet e TV.

Há muito talento local e uma estrutura técnica de suporte que vem se desenvolvendo muito”, pontua Toledo, com quase duas décadas de atuação neste segmento na capital. A escolha de uma locação envolve um extenso checklist: condições técnicas, espaço para equipe, ruídos da vizinhança, logística de filmagem, acessibilidade e custos operacionais. “É analisado se dá para filmar ali, se tem espaço para a equipe, se tem recuo, se o andar não é muito alto, o barulho na vizinhança, a proximidade com escolas e praças públicas, o tempo que leva para sair a autorização”, elenca.

Felizes para Sempre | Foto: Divulgação

A chavinha virou e a capital invadiu as grandes telas como os cenários de diversos perfis de produções. Parece que nossos criadores já sabiam que os desenhos sairiam dos croquis e ganhariam o destaque que toda concepção criativa e inovadora merece.

Personagem das telas

Nos últimos anos, Brasília esteve presente em diversas produções de repercussão. O ganhador do Oscar Ainda Estou Aqui teve cenas gravadas na cidade, incluindo o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, onde uma repórter narra o relatório da Comissão da Verdade. “A íntegra não chegou à obra finalizada, por uma preferência de utilizar imagens de apoio, como as fotos de Vladimir Herzog, Stuart Angel e do deputado Rubens Paiva, sob as falas da personagem. Mas, mesmo assim, a passagem por Brasília é histórica e reforça a relevância e o profissionalismo do mercado audiovisual da cidade”, afirma o produtor.

Ainda Estou Aqui | Foto: Divulgação

Produções como Faroeste Caboclo, Eduardo e Mônica, Capitão Astúcia e Justiça 2 também utilizaram suas paisagens. Brasília ainda chamou atenção internacional com A Machine To Live In, documentário de 2020 de Yoni Goldstein e Meredith Zielke filmado ao longo de oito anos.

A cidade planejada e organizada não influenciou apenas na qualidade de vida do brasiliense, mas também foi um dos chamarizes para o mundo audiovisual. O motivo principal é o controle mais eficiente da produção, com menos imprevistos em relação a trânsito e barulho, por exemplo. “Isso tudo sem falar da luz natural de Brasília que não tem igual em lugar nenhum. A capital tem a luz que todo fotógrafo sonha em fotografar”, complementa Toledo.

Justiça 2 | Foto: Divulgação

Quando produziu o segundo filme da adaptação das canções de Renato Russo para o cinema, o diretor René Sampaio comentou: “Eduardo e Mônica é um triângulo amoroso com a cidade, que é uma parte da história. Ela é uma cidade-personagem”. E completou: “Visualmente, a capital é sensacional. Pela arquitetura, pelo céu, pela luz, pela beleza em geral. O contraste do que é bonito com o que é feio. Tem a questão estética que eu gosto de explorar, tento colocar nos planos abertos em contradição com os planos fechados. E tem a narrativa, acho que Brasília faz pessoas, tempos e espaços diferentes”.

Eduardo e Mônica | Foto: Divulgação

Boa anfitriã

Incentivos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, e a atuação da Film Commission Brasília facilitam autorizações para filmagens em áreas públicas. “Há também o apoio do Brasília Convention Bureau, que aproxima as produções do trade turístico local“, destaca Toledo.

Outro diferencial é a segurança e infraestrutura. O suporte da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Detran e outros órgãos governamentais permite o fechamento de ruas e organização de trânsito sem maiores dificuldades. Segundo o diretor Renato Barbieri (Pureza e Servidão), esse tipo de mobilização é essencial para produções de grande porte. “Em Brasília conseguimos fechar ruas e áreas públicas para uma produção porque a população e as autoridades entendem que o cinema gera um retorno significativo para a cidade”, diz.

Curta Via Sacra | Foto: Divulgação

Embora esse tipo de facilidade não tenha custo financeiro direto para as produções, o retorno para Brasília é imenso. Geração de empregos locais, movimentação da economia em setores como hospedagem, alimentação e transporte, e a projeção da imagem da cidade para o Brasil e o mundo são apenas algumas das recompensas. “É um diferencial enorme em comparação com outros grandes centros audiovisuais, como Rio de Janeiro e São Paulo”, ressalta Toledo.

Nosso aeroporto é considerado um dos melhores da América Latina em termos de infraestrutura e qualidade de serviços. No setor privado, o trade turístico, que inclui hospedagem, transporte e alimentação, oferece tarifas especiais e apoio logístico integral às obras. Locais particulares, na grande parte das vezes cheios de história, agregam um valor imenso às produções, como o icônico Brasília Palace Hotel, queridinho de diretores e cineastas.

Nossa história com o cinema

Desde a sua construção, o Planalto Central despertou uma enorme curiosidade em várias partes do Brasil e do mundo. Como disse o grande cineasta brasileiro Vladimir Carvalho durante entrevista a Fernando Toledo para a série Brasília Cidade Turística e Cinematográfica, “quando se lançou a pedra fundamental, Brasília já estava presente na imprensa escrita, falada e cinematografada. Isto é um vaticínio! Ela tinha que respeitar a arte cinematográfica. De repente, Brasília, ao ser partejada, nascida, conheceu a luz do dia já filmada”.

Capitão Astúcia | Foto: Divulgação

Ao falar sobre o crescente fluxo cultural na capital, é impossível deixar de fora o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, um dos mais tradicionais e importantes do País, consolidando a cidade como um polo de referência para o cinema nacional. Historicamente, o público do festival sempre foi um dos mais temidos por quem trabalha no setor, pelo seu olhar crítico e exigente.

O festival, criado em 1965 como Semana do Cinema Brasileiro, é promovido anualmente pelo GDF e é realizado no Cine Brasília, outro protagonista quando o assunto é audiovisual brasileiro, já que mantêm viva a essência dos cinemas de rua.

O potencial de Brasília em diferentes vertentes não surpreendeu. O que nasceu de um sonho virou cenário para novos sonhos. Os traços de Niemeyer, que um dia eram apenas croquis, tornaram-se um dos palcos mais fascinantes do cinema nacional e internacional.

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