
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT-BA), pediu desculpas nesta segunda-feira (5) por declarações feitas no município de América Dourada, interior do estado, durante a inauguração da Escola Estadual Nancy da Rocha Cardoso, na última sexta (2).
No evento, Rodrigues criticou a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) durante a pandemia de Covid-19 e afirmou que Bolsonaro e seus eleitores poderiam ser levados “para a vala” com o uso de uma retroescavadeira.
“Tivemos um presidente que sorria daqueles que estavam na pandemia sentindo falta de ar. Ele vai pagar essa conta dele e quem votou nele podia pagar também a conta. Fazia no pacote. Bota uma ‘enchedeira’. Sabe o que é uma ‘enchedeira’? Uma retroescavadeira. Bota e leva tudo para vala.”, declarou.
A fala gerou reações imediatas de opositores. O ex-presidente publicou mensagem na rede social X (antigo Twitter) afirmando que o governador fez um “discurso de ódio” e que a declaração representa “normalização da violência política”.
Parlamentares aliados acionaram o STF (Supremo Tribunal Federal) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o governador, alegando incitação à violência.
A declaração repercutiu nacionalmente. No sábado (3), o deputado estadual Diego Castro (PL-BA) apresentou uma notícia-crime ao STF.
O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) protocolou representação na PGR. Ambos os pedidos afirmam que a fala do governador ultrapassa os limites da liberdade de expressão e configura ameaça à integridade física de opositores políticos.
Pedido de desculpas

Na segunda-feira (5), em entrevista coletiva concedida em Salvador, Rodrigues pediu desculpas. Afirmou que sua fala foi descontextualizada e negou qualquer intenção de incitar violência.
“Eu sou uma pessoa religiosa, de família, e não vou nunca tratar qualquer opositor com um tratamento deste. Foi descontextualizada (a declaração). Eu apresentei minha inconformação de como o País estava sendo tratado e dei o exemplo da pandemia. Se o termo ‘vala’ foi pejorativo ou forte, eu peço desculpas.”
O governador também disse que a comparação não teve relação com morte. “Se o termo ‘vala’ e o termo ‘trator’ foi pejorativo, foi muito forte, eu peço desculpa, o termo não foi a intenção. […] Não houve a intenção nenhuma de desejar a morte de ninguém, nem de querer matar ninguém. Isso está longe da minha atitude, da minha e do meu grupo.”, acrescentou.
“Eu sou um homem de igreja, tenho fé em Deus. Jamais eu faria comparação do termo ‘vala’ com a morte”, completou.
Rodrigues relacionou o comentário à sua indignação com a condução do governo federal durante a crise sanitária.
Disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstrou postura diferente ao ligar para ele na última semana para saber sobre os efeitos das chuvas no estado.
Pedido de impeachment
O deputado estadual Leandro de Jesus (PL-BA) protocolou na Assembleia Legislativa da Bahia um pedido de impeachment contra o governador, sob a alegação de que a fala configura crime de responsabilidade. O documento afirma que o pronunciamento “incita violência contra opositores políticos”.
O ex-prefeito de Salvador e ex-candidato ao governo da Bahia ACM Neto (União Brasil), adversário político de Rodrigues, também criticou o episódio.
Em nota, classificou a declaração como um “crime contra a vida” e afirmou que o governador “defende tratar criminosos com carinho, mas propõe vala para opositores”.
A expressão “vala” tem conotação histórica no Brasil. Durante a Ditadura Militar (1964-1985), valas comuns foram utilizadas para ocultar corpos de vítimas da repressão.
Um dos casos mais conhecidos é o da Vala de Perus, em São Paulo, onde restos mortais de desaparecidos políticos foram encontrados nos anos 1990. Por essa razão, o termo é frequentemente associado a violência política e repressão estatal.