Como será o atleta daqui a 60 anos? Tecnologia vai facilitar os treinos e diminuir as lesões


No aniversário da Globo, o repórter Guilherme Roseguini propôs um desafio: olhar para o passado e tentar imaginar como vai ser o atleta do futuro, daqui a 60 anos. Como será o atleta daqui a 60 anos? Tecnologia vai facilitar os treinos e diminuir as lesões
Na comemoração do aniversário da Globo, o repórter Guilherme Roseguini propôs um desafio: olhar para o passado e tentar imaginar como vai ser o atleta do futuro, daqui a 60 anos.
O tempo não acabou com a desenvoltura. Muito menos com a memória. Por isso, aos 76 anos, Servílio de Oliveira é o guia perfeito para uma viagem na história. Ele conquistou a primeira medalha olímpica do Brasil no boxe – um bronze, lá em 1968 – e é testemunha viva de como os avanços da tecnologia mudaram o esporte.
Basta olhar para a evolução das luvas. Servílio lutava com luvas recheadas com crina de cavalo. Um material que oferecia pouquíssima proteção aos esportistas.
“Com a luva de crina, você sentia mais a mão no adversário. Ela ficava mais sequinha. E a pegada era muito mais firme”, conta Servílio Oliveira.
Nas voltas e reviravoltas do tempo, o boxe se transformou. Abner Teixeira é atleta da seleção brasileira e também dono de um bronze olímpico, conquistado em 2021. Ao experimentar o material do passado, o espanto.
“Eu só tinha ouvido falar de luva de crina de cavalo, nunca tinha pegado uma assim. Segurei, assim, dá para tocar no dedo. E eu sempre ouvia histórias, do pessoal falando, onde pegava não nascia mais cabelo. Era melhor sair na mão seca logo”, diz Abner Teixeira, medalha de bronze no boxe em 2021.
Como será o atleta daqui a 60 anos? Tecnologia vai facilitar os treinos e diminuir as lesões
Jornal Nacional/ Reprodução
Também pudera. As luvas de hoje são feitas com várias camadas de espumas sintéticas. Elas, de fato, protegem os atletas e contribuem para um esporte mais seguro.
Em várias modalidades, inovações transformaram a paisagem esportiva. E, nos próximos 60 anos, vamos nos acostumar a encontrá-las em locais improváveis, escondidas até em uma meia. Pois é. Nos Estados Unidos, o cientista Irmandy Wicaksono já desenvolveu um tecido inteligente. Micro sensores de movimento e pressão foram integrados à meia e, com eles, é possível saber medidas como impacto, força de um chute, áreas do pé utilizadas na hora de tocar na bola. Irmandy me diz que, no futuro, intervenções em tempo real poderão ocorrer, com meias e chuteiras vibrando e oferecendo respostas ao jogador sobre como ele está chutando.
Treinar também deve ganhar um novo significado. Por conta de inovações como os gêmeos digitais. A ideia é recriar, com precisão, ossos, músculos e órgãos dos atletas no computador, com exames de imagem e testes de desempenho atlético. Esse irmão do mundo virtual vai servir como cobaia.
Funcionaria assim: imagine que o atleta tem um gêmeo digital que reproduz, com precisão, anatomia e funções do corpo dele. Antes de sair para um treino, o corredor poderia testar como o gêmeo digital se comportaria. Por exemplo, vamos ver uma corrida de 10 km na pista. Aí é possível avaliar: será que o coração consegue suportar esse esforço? Os músculos já estão recuperados da sessão do dia anterior? A cartilagem do joelho, desgastada, vai suportar o impacto? O atleta virtual chegou cansado, mas chegou bem. O atleta real, então, pode partir para o treino, sem medo.
O cientista americano Bill Quinn, do projeto Atletas do Futuro, conta que esse irmão digital vai fazer com que os esportistas tomem decisões melhores sobre saúde, exercícios, dieta e sono.
A forma como lesões esportivas são tratadas também vai mudar. Os atletas, no futuro, poderão contar com estruturas feitas sob medida, via impressão 3D, para o caso de lesões, ligamentos, cartilagens, próteses com potencial para reduzir tempos de afastamento do esporte e propiciar carreiras mais longevas.
“Queria eu poder estar vivendo esse momento também. Mas acho que, para o futuro, vai ser muito bom, é bem interessante”, diz Rebeca Andrade.
A rainha da nossa ginástica artística, Rebeca Andrade, dona de seis medalhas olímpicas, encarou na carreira três cirurgias no joelho direito por conta de lesões graves nos ligamentos.
“Eu espero, de verdade, que aconteça. A medicina está sempre evoluindo, sempre trazendo coisas novas, mostrando coisas novas. Hoje, eu acredito que essa geração que já está aqui no ginásio já tem uma preparação melhor do que a nossa também. É isso, é a evolução. A gente pode evoluir em todos os âmbitos”, afirma Rebeca Andrade, seis medalhas olímpicas.
Pode mesmo. No esporte, o futuro já começou.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.