

Suspeita da polícia é que maconha era vendida para todo o estado – Foto: PCSC/Divulgação/ND
Um estudante do doutorado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), residente de Belém (PA), propõe fazer combustível de maconha em sua tese de doutorado.
O pesquisador, que é perito criminal da PF (Polícia Federal), quer transformar a droga apreendida pelas forças de segurança em algo útil e, até mesmo, lucrativo para a sociedade.
Augusto Canelas, que cursa doutorado em Engenharia Química na instituição, atua há 22 anos na PRF e teve a ideia a partir das incinerações realizadas, anualmente, para eliminar a droga.
“Eu fui percebendo que a gente incinerava a droga sem um aproveitamento adequado e eu sempre me questionava se não poderíamos, ao mesmo tempo em que nós incineramos, aproveitar os gases para gerar biocombustível e outros produtos de maior valor agregado”, contou ao Cidade Alerta, da NDTV Record.
A ideia foi apresentada à professora Ana Paula Immich Boemo, membro do programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFSC. “É uma causa justa e que temos a ideia de que vai trazer muitos frutos, tanto para a polícia, quanto para o destino dessa droga ilegal”, destacou a docente.
Como é feito o combustível de maconha?
Para elaborar o projeto e conseguir fazer combustível de maconha, Canelas precisou montar um laboratório dentro da Polícia Federal em Belém (PA), com apoio da Universidade Federal do Pará. Por lei a maconha apreendida pelos agentes da segurança precisa ser destruída por queima e, por isso, não é possível usar a droga para nenhum outro fim.

Extração do combustível de maconha pode gerar outros produtos derivados da droga – Foto: NDTV/ND
“Diferente do que a polícia faz, que é só o processo de queima, a gente faz o processo de queima controlada. Então, essa queima vai gerar gases, que vão se deslocar até um condensador e, ao serem resfriados, eles se transformam e a gente coleta o bio-óleo”, explica a professora Ana Paula. A partir deste óleo, é possível produzir o combustível de maconha e outros similares, como querosene e diesel.
“Junto com esse bio-óleo, sai uma fase aquosa, que é condensada também e que é o vinagre de pirólise, que pode ser usado como fungicida, ou como conservante de alimentos, dentre outras aplicações. O que fica no reator é o bio carvão, que pode ser utilizado na agricultura, o que favorece o crescimento das plantas”, explica o doutorando, Augusto Canelas.
Mais de 800 toneladas de maconha foram apreendidas em 2024
Em 2024, foram 808 toneladas de maconha apreendidas apenas pela Polícia Rodoviária Federal em todo o Brasil. O estado com maior número de apreensões foi o Paraná, no Sul do país.

Paraná lidera apreensões de maconha no Brasil – Foto: PRF/NDTV/ND
O projeto para produção de combustível de maconha, atualmente, utiliza apenas essa droga, mas acredita que outras substâncias podem ser estudadas para o mesmo fim, como o crack, cocaína e até mesmo cigarros contrabandeados.
Por enquanto, o combustível de maconha é feito em uma escala menor com 500 gramas da droga por vez, como teste. A expectativa é de quê, em alguns anos, um laboratório de larga escala possa operar com 200 kg.
“Iremos avaliar qual é o custo para implementar isso e, então, faremos a viabilidade, ou não. Primeiro, nós temos que ter os melhores parâmetros de processo”, destacou Canelas.
Todos os produtos resultantes da queima poderão ser vendidos, ou até mesmo utilizados pela própria instituição. Para a professora Ana Paula, não restam dúvidas da viabilidade da proposta. “A gente tem uma grande esperança de que isso, realmente, vá para frente”, afirmou.