
Entenda os principais pontos sobre a morte do Papa Francisco, as cerimônias e ritos que vão acontecer, o que vem pela frente e como será escolhida a nova liderança da Igreja Católica. Papa Francisco e cardeal João Braz de Aviz.
Vatican News
O anúncio da morte do papa Francisco abalou profundamente a comunidade católica e gerou lamentações em todo o mundo. Jorge Mario Bergoglio, conhecido por seu carisma e pelas reformas que implementou na Igreja Católica, faleceu aos 88 anos nesta segunda-feira (21).
Segundo o Vaticano, sua morte foi causada por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), seguido por outras complicações (saiba mais abaixo).
Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram para marcar o momento, mas esse é apenas um dos muitos ritos que acompanham a despedida de um papa.
A partir de agora, cerimônias cuidadosamente planejadas serão realizadas, e a Igreja Católica passará por eventos que decidirão o seu futuro, como o início do Conclave para eleger o sucessor de Francisco.
O g1 reuniu 10 perguntas e respostas para ajudar você a entender os principais pontos sobre a morte do papa Francisco, as cerimônias e ritos que vão acontecer, o que vem pela frente e como será escolhida a nova liderança da Igreja Católica.
Abaixo, descubra:
Quando a morte foi anunciada?
Quais as causas da morte?
Como será o funeral?
Quando será o sepultamento?
Como Jorge Bergoglio se tornou papa?
Conclave: como é a escolha do novo papa?
Quem comanda a Igreja Católica agora?
Quando será anunciado o novo papa?
Quais os requisitos para ser papa?
Quem são os candidatos ao papado?
1. Quando a morte foi anunciada?
Jorge Mario Bergoglio faleceu aos 88 anos na madrugada desta segunda-feira, às 2h35 pelo horário de Brasília (7h35 no horário local).
Ele estava em seu apartamento na residência de Santa Marta, na Cidade do Vaticano, onde morava desde que foi eleito papa em 2013.
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, dizia o comunicado oficial.
Os sinos da Basílica de São Pedro, no Vaticano, tocaram para anunciar a notícia da morte.
2. Quais as causas da morte?
O papa morreu devido a um acidente vascular cerebral (AVC) seguido de insuficiência cardíaca, conforme informou o Vaticano.
Segundo a certidão médica que atestou a morte, ele sofreu um AVC cerebral, entrou em coma e teve um colapso cardiocirculatório irreversível.
O quadro foi agravado por uma série de problemas de saúde, incluindo uma insuficiência respiratória aguda causada por uma pneumonia multimicrobiana bilateral, bronquiectasias múltiplas, pressão alta e diabetes tipo II.
Insuficiência cardíaca e AVC: entenda as causas da morte do papa Francisco
A morte foi confirmada por um registro eletrocardiotanatográfico. Francisco estava se recuperando de uma pneumonia nos dois pulmões após ter ficado internado por 38 dias. Ele havia recebido alta há um mês e estava sob cuidados médicos.
Francisco foi hospitalizado pela primeira vez no início de fevereiro devido a problemas respiratórios.
No dia 14 de fevereiro, foi internado no hospital Agostino Gemelli para tratar uma bronquite. Mesmo hospitalizado, participou de algumas atividades religiosas, mas no dia 16 pediu desculpas por não poder participar da oração semanal na Praça de São Pedro.
No dia 17, o Vaticano informou que ele estava com uma infecção polimicrobiana. No dia seguinte, foi anunciado que ele tinha pneumonia bilateral. Francisco recebeu alta no dia 23 de março.
Personalidades e instituições lamentam morte de Papa Francisco
Divulgação/Vaticano News
3. Como será o funeral?
O funeral do papa Francisco segue a “Ordem das Exéquias do Sumo Pontífice”, que ele próprio aprovou em abril de 2024 e foi publicada em novembro.
A primeira parte do funeral é a Missa de sufrágio, que tem como objetivo interceder pela alma dos mortos. Esta missa foi celebrada na Basílica de São João de Latrão, em Roma, pelo cardeal Baldo Reina na tarde desta segunda-feira.
O corpo de Bergoglio passou por ritos de constatação da morte e deposição no caixão. O primeiro deles é a confirmação da morte, realizada pelo camerlengo – que é o cardeal responsável por administrar a Igreja durante o período de Sé Vacante.
O camerlengo confirma a morte chamando o papa pelo nome três vezes. Após a confirmação, o “Anel do Pescador” é retirado e destruído, e o quarto do papa é selado.
O corpo é colocado em um caixão de madeira revestido de zinco e levado para a Basílica de São Pedro, onde será velado na manhã desta quarta-feira (23).
Na Basílica, o corpo será exposto diretamente no caixão, que será mais simples, feito de madeira revestida por zinco, ao invés dos três caixões tradicionais de cipreste, chumbo e carvalho.
4. Quando será o sepultamento?
Enterro do papa
Arte/g1
De acordo com as regras da Igreja Católica, o enterro do papa deve ocorrer entre quatro e seis dias após sua morte.
Diferente de outros pontífices, Francisco pediu para ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, ao invés da tradicional Basílica de São Pedro. A última vez que um Papa foi enterrado fora da Basílica de São Pedro foi em 1903, com o papa Leão XIII.
Além disso, missas serão celebradas por nove dias consecutivos, seguindo a tradição dos “novendiales”. Este é um período de luto e oração dedicado à alma do papa, durante o qual a Igreja e os fiéis rezam pela sua passagem para a vida eterna.
Altar da Basílica de Santa Maria Maggiore, no centro de Roma, onde o papa Francisco será enterrado.
Alberto Pizzoli/AFP
5. Como Jorge Bergoglio se tornou papa?
Bergoglio, que liderou a Igreja Católica por 12 anos, era conhecido por seu carisma e pelas reformas que implementou. Antes de se tornar papa, ele teve uma carreira diversificada: estudou química e trabalhou como professor.
Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Francisco fez história ao ser o primeiro papa latino-americano. Ele também foi o primeiro pontífice da era moderna a assumir o papado após a renúncia de seu antecessor e o primeiro jesuíta a ocupar o cargo.
Francisco foi o 266º papa. Em 13 de março de 2013, durante o segundo dia do conclave para eleger o sucessor de Bento XVI, Bergoglio foi escolhido como o novo líder da Igreja – mesmo contra sua própria vontade, como ele próprio admitiu.
Apesar de sua formação em Ciências Químicas e de ter sido professor de Literatura, Bergoglio, filho de imigrantes italianos, decidiu seguir a carreira religiosa e se dedicou aos estudos eclesiásticos.
Seu perfil jovial e descontraído fez dele uma escolha popular entre os cardeais e uma opção ideal para a Igreja, que enfrentava um período de grandes desafios.
6. Conclave: como é a escolha do novo papa?
A escolha do novo líder da Igreja Católica começa entre 15 e 20 dias após a morte do papa. Durante esse período, o Vaticano convoca o Colégio dos Cardeais, que reúne religiosos de todo o mundo. Atualmente, esse grupo é composto por 252 cardeais, incluindo oito brasileiros.
Desses cardeais, 135 têm menos de 80 anos e estão aptos a participar da eleição do novo papa, sendo sete deles brasileiros. Antes do início da votação, chamada de Conclave, o Colégio dos Cardeais participa de reuniões chamadas “Congregações Gerais”, onde discutem e votam questões governamentais da Igreja.
É através da Conclave que a Igreja Católica elege o novo papa. Durante os dias de eleição, os cardeais ficam isolados dentro do Vaticano, em uma área conhecida como “zona de Conclave”, e fazem um juramento de segredo absoluto sobre o processo. Eles são proibidos de usar qualquer meio de comunicação com o exterior.
As votações ocorrem na famosa Capela Sistina. Para ser eleito, um cardeal precisa receber dois terços dos votos, que são secretos e queimados após a contagem. Até quatro votações podem ser realizadas diariamente.
Se após três dias não houver um novo papa, uma pausa de 24 horas é feita para orações. Outra pausa pode ocorrer após mais sete votações sem um eleito. Se houver 34 votações sem consenso, os dois cardeais mais votados disputam um “segundo turno”, ainda precisando de dois terços dos votos para ser eleito. Quando um cardeal é eleito, ele escolhe um nome e veste as vestes papais na “Sala das Lágrimas”.
Cardeal coloca sua mitra durante a missa do início do conclave
Andrew Medichini/AP
7. Quem comanda a Igreja Católica agora?
Após a morte do Papa, a administração do Vaticano é confiada ao camerlengo, que é responsável pelos bens e pelo Tesouro do Vaticano.
Atualmente, esse cargo é ocupado pelo cardeal irlandês naturalizado norte-americano Kevin Joseph Farrell. O camerlengo tem a função de organizar a transição durante a Sé Vacante, o período em que a Igreja Católica fica sem um pontífice. Ele também foi responsável por confirmar a morte do papa e assume temporariamente o Palácio Apostólico, a residência oficial do papa.
Enquanto o camerlengo mantém a autoridade administrativa, o Colégio dos Cardeais discute assuntos comuns ou urgentes da Igreja. No entanto, o Colégio dos Cardeais não pode fazer mudanças profundas na estrutura da Igreja, como alterar ou corrigir leis estabelecidas pelos papas.
Quando o papa morre, quase todos os religiosos da cúpula do Vaticano deixam suas funções, incluindo o Cardeal Secretário de Estado e os responsáveis pelos Dicastérios da Cúria Romana. Permanecem em seus cargos: o camerlengo, o Penitenciário-Mor, o Cardeal Vigário-Geral para a Diocese de Roma, o Cardeal Arcipreste da Basílica do Vaticano, o Vigário-Geral para a Cidade do Vaticano e o Esmoleiro Apostólico.
8. Quando será anunciado o novo papa?
A duração do conclave pode variar bastante. Por exemplo, o conclave que elegeu o papa Francisco em 2013 durou apenas dois dias, enquanto o mais longo da história, realizado entre 1268 e 1271, durou 34 meses.
Por isso, ainda não é possível saber exatamente quando a Igreja Católica anunciará seu novo líder. No entanto, é tradicional que o novo papa seja apresentado à multidão que aguarda na Praça de São Pedro, no Vaticano.
O pontífice é apresentado diretamente da sacada da Basílica de São Pedro, onde é proclamada a famosa frase “Habemus Papam”, que significa “Temos um papa”.
Foto divulgada pelo Vaticano mostra o Papa Francisco durante a mensagem pascal na galeria central da Basílica de São Pedro
Handout / VATICAN MEDIA / AFP
9. Quais os requisitos para ser papa?
Oficialmente, não há requisitos básicos para que uma pessoa seja eleita papa – basta que ela seja católica e tenha pleno uso da razão. No entanto, na prática, há muitos séculos o eleito sempre tem sido do Colégio de Cardeais, o grupo que emite os votos no conclave. Este grupo é restrito a cardeais com menos de 80 anos.
Os cardeais são bispos e arcebispos nomeados pelo papa para auxiliar em questões religiosas.
O conclave, que é o processo de eleição do novo papa, deve começar entre 15 e 20 dias após a morte do Papa. Desta vez, 135 cardeais estão aptos a participar da eleição, sendo sete deles brasileiros
10. Quem são os candidatos ao papado?
O número de cardeais com direito de voto está acima do limite estabelecido por Paulo VI, que era de 120. A maioria desses eleitores foi nomeada cardeal pelo papa Francisco, mas nem todos compartilham sua filosofia ou política.
Um exemplo notável é o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, um dos maiores críticos de Francisco, quase um inimigo. Outro exemplo é o cardeal Robert Sarah, da República da Guiné, na África Ocidental.
Entre os principais candidatos ao papado está o brasileiro Sérgio da Rocha, arcebispo metropolitano da Bahia. Desde 2023, ele faz parte do grupo dos nove cardeais conselheiros escolhidos pelo papa.
Sérgio da Rocha é um grande apoiador das reformas de Francisco e está comprometido com o combate à homofobia e a inclusão de casais gays na Igreja.
Outros fortes candidatos incluem:
Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, francês, 66 anos;
Cardeal Peter Erdo, húngaro, 72 anos;
Cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, maltês, 68 anos;
Cardeal Juan Jose Omella, arcebispo de Barcelona, espanhol, 79 anos;
Cardeal Pietro Parolin, italiano, diplomata do Vaticano, 70 anos;
Cardeal Luis Antonio Gokim Tagle, filipino;
Cardeal Joseph Tobin, arcebispo de Newark, NJ, americano, 72 anos;
Cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, ganês, funcionário do Vaticano, 76 anos;
Matteo Maria Zuppi, italiano, arcebispo de Bolonha, 69 anos.