
Descoberta foi feita em testes com camundongos e abre caminhos para novos tratamentos. Exercício físico pode evitar que dores musculares se tornem crônicas, diz Unicamp
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Uma proteína envolvida na dor muscular crônica pode ser “desligada” por meio do exercício físico. A descoberta, feita por cientistas da Unicamp em testes com camundongos, ajuda a explicar por que se exercitar protege contra dores persistentes e abre caminho para novos tratamentos.
O estudo, publicado na revista científica PLOS ONE, mostrou que o exercício físico foi capaz de “reprogramar” células de defesa chamadas macrófagos, diretamente envolvidas tanto na dor muscular causada por inflamação quanto na persistência da dor.
A pesquisa apontou que o exercício tornou essas células menos inflamatórias e, com isso, ajudou a prevenir a cronificação, conforme explica a professora Maria Cláudia Gonçalves de Oliveira, coordenadora do Laboratório de Estudos em Dor e Inflamação (Labedi) da Unicamp e autora do artigo.
“A gente conseguiu caracterizar uma proteína que fica na membrana cerebral desse macrófago e que ativa uma via de finalização, que contribui para que aconteça a transição da fase aguda em fase crônica da dor muscular. […] Vimos que o exercício feito previamente ao estímulo inflamatório, como medida de prevenção, ele de alguma forma previne essa via [de inflamação] de ser ativada”, detalha.
Como foi feito o estudo?
Os pesquisadores colocaram camundongos para fazer natação durante quatro semanas. Depois desse período, os animais receberam um estímulo inflamatório diretamente no músculo, provocando uma dor aguda com tendência a evoluir para um quadro crônico.
A partir disso, os cientistas perceberam que os animais que tinham feito exercício físico não desenvolveram dores crônicas, ao contrário daqueles que não fizeram natação.
🔬 Esse efeito, segundo Oliveira, está relacionado a dois protagonistas moleculares:
o receptor P2X4, presente nas células de defesa, que desencadeia a dor crônica muscular; e
a PPAR-Gama, proteína que parece atuar como um “freio” nesse processo e é ativada com o exercício.
“Percebemos que, de alguma forma, se atuarmos sobre o receptor P2X4, talvez a gente consiga contribuir com a indústria farmacêutica no desenvolvimento de medicamentos mais específicos para essa proteína em si ou usar o PPAR-Gama como coadjuvante à prática regular de exercício físico para minimizar a dor crônica”, completa.
Entenda o que é a dor crônica e como pode prejudicar sua vida
Novos caminhos
Além de comprovar os benefícios preventivos do exercício, o estudo abre espaço para o desenvolvimento de novos tratamentos. Segundo a pesquisadora, entender como a dor crônica se instala é o primeiro passo para criar medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais.
“Sentir dor é importante, porque a dor é um sinal que o corpo nos emite para que a gente possa se proteger de lesões. Mas uma vez que essa dor se torna crônica, ela não é mais um sinal de proteção, ela é uma doença. Então prevenir que essa dor se torne crônica é fundamental”, explica Oliveira.
A expectativa do grupo agora é estudar como essas vias celulares interagem e também avaliar se o exercício pode ser usado como tratamento a partir do momento em que ocorre a dor crônica, além da prevenção.
“Hoje a gente já sabe os benefícios para o sistema cognitivo, psicológico, para sono, para humor, ansiedade, depressão, mas a gente não faz exercício com tanta frequência com o objetivo de reduzir ou prevenir dores. O grande problema é que a população vai envelhecendo, vai ficando cada vez mais predisposta a ter dor e ter dor diminui a qualidade de vida. Então, se a gente conseguir mobilizar as pessoas a fazerem atividade física também pensando na dor, vai ser super importante”, diz.
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