
Mulher é testemunha na operação do Ministério Público de Roraima que investiga a interferência da prefeita no processo seletivo realizado em 2023. Em nota, Luís Paulo informou que recebeu a acusação com ‘surpresa e indignação’ e vai tomar medidas judiciais. Luiza Maura (PP) e o marido Luiz Paulo de Oliveira
Reprodução
A ex-secretária de Educação de São João da Baliza registrou um boletim de ocorrência contra Luiz Paulo de Oliveira, policial militar e marido de Luiza Maura (PP), prefeita do município por ameaçá-la. Segundo o relato, ele disse para pessoas próximas que iria “matar ou mandar alguém matar” a mulher.
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Ela é testemunha na operação do Ministério Público de Roraima (MPRR), deflagrada em março, que investiga a interferência da prefeita no processo seletivo realizado em 2023. O boletim de ocorrência foi registrado na delegacia do município no último dia 4 de abril.
Segundo ela, ele disse para outras pessoas que “só não tomou essa atitude ainda porque ficaria muito na cara e poderiam desconfiar dele”. Ao g1, a mulher conta que desde então saiu do município como maneira de se proteger das ameaças.
“As pessoas preocupadas comigo que viram ele falando, pessoas próximas deles lá, que viram ele falando que eu vou pagar pelo que eu fiz. Ele disse que a a privacidade deles foi invadida por minha causa, porque eu sou a denunciante e a testemunha chave do caso. Estou aqui [em outro município] para ficar mais próximo para que eles [autoridades] possam me ajudar qualquer coisa, ficar mais vigilante. Na casa, a gente colocou cachorro e já solicitou câmera também”, disse.
Em nota, Luís Paulo informou que recebeu a acusação com “surpresa e indignação” e disse que a mulher “tem criado diversas situações para tentar prejudicar” ele e a esposa. Ele registrou um boletim de ocorrência sobre falsa acusação contra ex-secretária e deve tomar medidas judiciais.
As investigações iniciaram após denúncia da secretária de educação. O certame ofertava vagas para contratação temporária de professores da educação básica, pessoal de apoio e formação de cadastro reserva para atender às necessidades da rede municipal.
Luiza Maura, segundo o MP, é suspeita de determinar que as aprovações passassem por sua análise, além de alterar as notas dos candidatos originalmente atribuídas pela comissão examinadora, o que resultou na modificação da classificação final dos candidatos.
Para a ex-secretária, as ameaças são para intimidá-la e silenciá-la diante das investigações. Por conta disso, pediu proteção. A mulher teme pela vida pois, segundo ela, o homem tem arma e conhece as atitudes que ele pode tomar, pelo tempo que conviveram.
“No início eu fiquei assim apavorada, que você receber isso de várias pessoas ao mesmo tempo. No momento me assustou. Agora eu tô mais calma, porque eu falei com as autoridades e eles me acalmaram”, disse.
O g1 procurou a Polícia Civil para saber se o caso de ameaça é investigado, mas não obteve resposta até a última atualização dessa reportagem.
Investigações no processo seletivo
Trechos de conversas mostram que Luiza Maura determinava que as aprovações passassem por sua análise e que ela alterava as notas originais atribuídas pela comissão examinadora, modificando a classificação final de acordo com a própria vontade e a de aliados políticos.
Durante a operação, foram apreendidos R$ 190 mil em espécie na casa da prefeita na cidade. A operação foi conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Ministério Público de Roraima apoio da Polícia Civil.
Os prints das mensagens estão disponíveis na decisão da Justiça de Roraima que autorizou buscas na casa de Luiza. Na decisão, a juíza Rafaella Holanda Silveira da Vara da Fazenda Pública de São Luiz do Anauá, diz que a prefeita adotava “critérios subjetivos” para decidir quais seriam os aprovados. O g1 teve acesso a trechos de conversas em que a prefeita diz, em tom de ironia, que a pessoa foi “eliminada do Big Brother”.
Trecho de conversa da prefeita Luiza Maura afirmando eliminação de candidata; transcrição está na decisão judicial que autorizou buscas na casa da investigad
Reprodução/Facebook e Reprodução/Decisão judicial
As investigações apontam que Luiza chegava a se reunir com os candidatos aprovados para “deixar claro” que eles não passaram no certame por méritos próprios, mas sim com a ajuda dela. Trechos de conversas mostram que ela, inclusive, priorizava interesse próprios.
A prefeita demonstra nas conversas que tinha intenção de incluir no seletivo pessoas que já haviam trabalhado anteriormente, orientando-as a se inscreverem, mas conversando antes.
“A [candidata] me ligou ontrm. Cheia de vergonha dizendo que tinha passado no seletivo. Perguntando se eu tinha visto. E que daí ela teria que sair do creas. Wu falei: meu amor, fui eu que tr ajudei. Sua pontuação ficou lá em baixo. Ela tava achando que era por mérito [Sic]”, disse a prefeita em conversa com a então secretária.
A juíza então permitiu que fossem apreendidos “aparelhos telefônicos, tablets, smartphones, computadores, notebooks, pendrives, HDs, e quaisquer materiais com capacidade de armazenamento de dados”.O objetivo foi colher material probatório referente a irregularidades cometidas no processo seletivo.
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