Defensoria Pública do RJ diz que ninguém pode transportar pessoas em situação de rua para ‘higienizar’ suas cidades

Prefeitura de Cabo Frio é acusada de mandar ônibus cheio de pessoas em situação de rua para o Espírito Santo coma falsa promessa de emprego. A Defensoria Pública do RJ abriu um procedimento para acompanhar a situação de pessoas em situação de rua que foram levadas em um ônibus da Prefeitura de Cabo Frio para uma cidade do Espírito Santo. Segundo a defensora, a prefeitura não pode transportar pessoas que estão em situação de rua para outros locais.
“Nós não podemos exportar pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social. O Rio de Janeiro não vai ser esse lugar, nem por meio de Cabo Frio, ou qualquer outra cidade, que vai usar desse artifício para ‘higienizar’ as suas cidades e dar uma solução administrativa. O servidor público também tem que agir com responsabilidade nas suas funções”, afirmou a defensora Cristiane Xavier de Souza.
Doze pessoas que viviam em um abrigo da Prefeitura de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, foram levadas para a cidade de Linhares, no Espírito Santo.
Segundo elas, o coordenador do abrigo ofereceu um emprego a eles em uma fazenda no estado vizinho, mas, quando chegaram lá, não tinha trabalho e nem lugar para onde ir.
Um dos homens que foi levado de Cabo Frio para o Espírito Santo com uma promessa de trabalho em uma colheita de café disse que aceitou o suposto emprego porque quer mudar de vida e sair das ruas.
“Foi o próprio Tadeu que falou, falou que já aconteceu relato do pessoal que saiu daqui para o Espírito Santo ganhar R$ 20 mil, mudar de vida. Eu quero mudar de vida, sou um cidadão em situação de rua e falei: ‘pô, vou pra lá então’. Colheita de café. Chegou aqui e não era nada disso”, afirma o pedreiro Júlio César Freire.
O grupo de 12 pessoas afirma que a oferta foi feita pelo coordenador da Casa da Passagem de Cabo Frio, na Região dos Lagos do RJ. O abrigo acolhe pessoas em situação de rua.
Entre os que foram levados em um micro ônibus, estavam homens, mulheres, idosos, crianças e até uma grávida. A viagem de ônibus foi paga pela prefeitura. Foram cerca de nove horas de viagem de Cabo Frio até Linhares.
Eles narram que ao chegar na cidade, foram deixados pelo motorista em uma rua com o aviso de que outro motorista os levaria até a fazenda de café – o que não aconteceu.
“Eu sem documento nenhum. Eu falei: ‘tô sem documento’ e eles disseram que lá ia conseguir tudo. Falaram: ‘você vai trabalhar, rapidinho vai conseguir suas coisas’”, conta o coletor de material reciclável Adílio Menezes.
Na terça (8), eles pediram ajuda e foram atendidos pela prefeitura de Linhares. A delegacia da cidade abriu uma investigação e já ouviu todo o grupo.
O prefeito de Cabo Frio nega que tenha prometido emprego e moradia ao grupo e afirma que se comprometeu com o transporte das pessoas, usando recursos do Sistema Único de Assistência Social.
O grupo aponta o coordenador Thadeu Couto como a pessoa que fez a oferta. Ele afirma que atendeu apenas a um pedido de transporte e que nunca prometeu emprego.
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