Matrículas em creches ‘desaceleram’ e ficam distantes da meta do MEC em 2024, diz Censo


De 2023 para 2024, houve um aumento de apenas 1,5% no número de crianças de 0 a 3 anos em creches. Crescimento precisa ser mais acentuado para chegar ao menos perto da meta estabelecida pelo Plano Nacional da Educação (PNE). Creches deixaram de ser vistas como locais com foco somente nos cuidados básicos. Na foto, bebês da CEI Indianópolis tomam café da manhã.
Marcelo Brandt/G1
De 2023 para 2024, o número de crianças de 0 a 3 anos matriculadas em creches (públicas e privadas) aumentou apenas 1,5% (de 4,12 milhões para 4,18 milhões), de acordo com dados do Censo de Educação Básica, divulgados nesta quarta-feira (9).
➡️É um ritmo muito abaixo do que seria necessário para que o país atingisse a meta de 5 milhões de alunos, mencionada pelo Ministério da Educação (MEC) no ano passado.
“O Plano Nacional de Educação (PNE) propõe que, no seu horizonte [2024], o atendimento chegue a 50% dessa população [de 0 a 3 anos], o que representa uma ampliação dos atuais 4,1 milhões em 2023 para algo em torno de 5 milhões de matrículas em 2024”, disse a pasta, quando divulgou a edição anterior do Censo.
Ou seja: faltaram cerca de 820 mil alunos para que esse patamar fosse alcançado.
“Termos evoluído menos de 2% de um ano para outro é preocupante, dada a distância que estamos das metas do Plano Nacional da Educação. É algo que chama a atenção, porque precisaremos crescer de maneira muito mais rápida”, afirma Gabriel Corrêa, diretor de políticas públicas da ONG Todos Pela Educação.
“Esses números reforçam o quanto é importante que o MEC, os governos estaduais e as prefeituras organizem seus planos de expansão de atendimento de creche. É preciso identificar: qual é a demanda, onde ela é maior, qual é a população que está vulnerável e que necessita mais de atendimento e qual o melhor modelo a ser adotado — construir novas creches ou conveniar instituições privadas já existentes”, diz o especialista.
👣Matricular alunos de 0 a 3 anos em creches (públicas ou privadas) não é uma prática obrigatória no Brasil — só a partir dos 4 anos é que o ensino formal passa a ser mandatório. Ainda assim, é dever do Estado garantir que todos dessa faixa etária tenham uma vaga assegurada nas instituições de ensino. O projeto de lei do novo PNE, enviado ao Congresso, deve inclusive elevar a meta de 50% para 60% de alunos matriculados em creches.
Em anos anteriores, desconsiderando os retrocessos trazidos pela pandemia, o crescimento foi significativo. De 2015 a 2019, por exemplo, eram mais de 5% de aumento ao ano. Mesmo após a Covid-19, de 2022 para 2023, o índice de matrículas em creches subiu 4,7%. Ou seja: a taxa de 1,5%, revelada nesta quarta-feira (9), foge (negativamente) do padrão.

Pobres costumam ser os mais prejudicados
Dados divulgados em março pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, focada em primeira infância, mostram que:
2,3 milhões de crianças estão fora da creche não por opção da família, mas por problemas de acesso (falta de vagas ou recusa de matrículas).;
entre os 20% mais pobres, 31% frequentam a creche — entre os mais ricos, o índice é bem maior, de 56%;
a região Norte apresenta a menor cobertura do país (no Amapá, por exemplo, é de 68,8%).
🎨Por que o acesso à creche é tão importante?
A existência de um local seguro, acolhedor, estimulante e cheio de brincadeiras permite que principalmente as mulheres voltem ao mercado de trabalho após a licença-maternidade.
⚠️Mas, atenção: a creche não é apenas um “depósito” de crianças. Ela atende alunos que estão em uma fase importantíssima do desenvolvimento infantil. Por isso, deve contar com profissionais preparados, que saibam elaborar atividades adequadas a cada faixa etária e estimular tanto o brincar “livre” quanto o brincar com intencionalidade.
“A creche de qualidade oferece à criança todos os estímulos e o ambiente necessários para o seu desenvolvimento — o que é difícil de se ter em casa. Ela não é uma etapa obrigatória, mas é muito importante, especialmente para as famílias mais pobres”, afirma Corrêa.
⚖️Investir nessa etapa é uma estratégia considerada eficaz para a redução desigualdades ao longo da vida:
Vínculos seguros formados nos estabelecimentos de ensino ajudam a construir confiança, autorregulação e empatia.
A plasticidade cerebral é maior nos primeiros 3 anos de vida, ou seja, a parte cognitiva será beneficiada com os estímulos corretos.
O desenvolvimento de habilidades de comunicação acontece mesmo antes da fala — um ambiente com leitura, música e cantigas é essencial.
Com os amigos, o aluno vai aprender a: rolar, sentar, engatinhar, andar e explorar o ambiente.
Brincadeiras com sons, cores, texturas e objetos ajudam a desenvolver a curiosidade e a criatividade.
A criança começa a conquistar autonomia nas ações básicas do dia a dia, como nos rituais de higiene e de alimentação.
🖌️O que é ser uma boa creche?
Segundo relatório da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, uma boa creche deve:
ter uma equipe que desenvolva atividades adequadas para cada faixa etária, sempre com cuidado, estímulo e afeto;
estabelecer uma relação próxima com as famílias;
ter funcionários que fiquem atentos a todos os sinais que as crianças emitem;
contar com profissionais que vão além do curso superior e sigam a formação continuada, com atualizações constantes;
ter a proporção correta de professores de acordo com a quantidade de alunos – dos 0 aos 2 anos, de 6 a 8 crianças para cada docente; aos 3 anos, 15 para cada um;
estimular o brincar livre e o brincar com intencionalidade – sem a preocupação em antecipar a alfabetização;
ter infraestrutura com parquinho, espaços ao ar livre, brinquedos na altura das mãos das crianças, materiais criativos (arte, música, teatro), biblioteca.
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