Tambaqui: o peixe amazônico de mordida forte que fez balneário ser fechado após ataques em Bonito


Segundo especialista, espécie tem dentes fortes adptados ao consumo de frutos duros. Turista levou oito pontos ao ser mordido em balneário
Em Bonito (MS), a “capital nacional do ecoturismo”, um problema inusitado levou à interdição de um balneário pelo Instituto de Meio Ambiente do Estado (Imasul) no mês passado: mordidas de peixes em banhistas. A situação se tornou preocupante, com pessoas relatando ferimentos causados pelos ataques dos peixes.
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Os casos envolvendo, principalmente, o tambaqui (Colossoma macropomum) ocorreram na lagoa artificial do empreendimento, do Balneário Praia da Figueira. Uma das vítimas relatou que levou oito pontos no dedo da mão em 2023.
Conforme apurado pelo g1, somente em 2025 foram registradas 30 ocorrências do tipo. No ano passado, foram 64 ataques.
Tambaqui (Colossoma macropomum). Espécie ocorre na bacia Amazônica.
Reprodução/Brian Gratwicke
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Para entender mais sobre as características do tambaqui, o g1 conversou com um especialista no assunto. Conforme o biólogo e professor visitante da Universidade de Campinas (Unicamp), a espécie não é encontrada nos rios de Mato Grosso do Sul e ocorre na bacia Amazônica.
“O tambaqui ocorre naturalmente em áreas de planície da bacia amazônica. Desde os anos 1980 tentaram trazer para o sudeste e centro-oeste (ainda não havia legislação proibindo a translocação entre bacias). Com limitações fisiológicas para suportar as friagens, as tentativas de introdução do tambaqui não tiveram sucesso”, explica o professor.
Ainda conforme José Sabino, o tambaqui é da mesma família do pacu, com a diferença de que a dentição é mais forte.
“No caso do tambaqui, os dentes da frente são muito robustos porque o tambaqui é amazônico e ele entra no que a gente chama de floresta inundada. Quando ele entra na floresta ele vai para comer frutos. E a boca dele é adaptada a pegar frutos que caem da floresta, inclusive frutos muito duros”, acrescenta.
A espécie se reproduz em rios de águas barrentas, pode chegar a 1 metro de comprimento e pesar mais de 30 quilos, segundo o Museu da Amazônia. Veja abaixo outras características:
possui nadadeiras curtas
a coloração geralmente é parda na parte de cima do corpo, e preta na parte de baixo
possui dentes fortes
tem cauda bifurcada
são considerados os ‘jardineiros’ dos rios, porque auxiliam na dispersão de sementes
Mordida de peixe
Banhista foi mordido por peixe em atrativo de Bonito em 2023.
Arquivo pessoal
O fato de consumir alimentos mais duros, conforme Sabino, faz com que a mordida do tambaqui tenha força, o que pode causar ferimentos graves em humanos.
“Por se alimentarem de frutos, os tambaquis ficam sempre atentos a qualquer movimento dentro d´’gua, podendo se confundir e, ocorrendo então a mordida em banhistas”, ressalta o professor.
Contudo, outras espécies de peixe, como o dourado, também podem se confundir e atacar banhistas. Nessa espécie, o que chama a atenção são objetos brilhantes, como aneis, por exemplo.
“[os dourados] eles comem, normalmente, peixes que brilham. Então, se você tá com alguma pulseira, um brinco, algum adereço prateado, por exemplo, isso pode ser um componente que ajude, vamos dizer assim, a ocorrer os acidentes”, enfatiza.
O professor alerta para a importância de não culpabilizar os peixes pelos ataques a seres humanos.
“A culpa não é do tambaqui, com certeza não. Infelizmente as pessoas, pelo seu egocentrismo, tendem a querer deixar os locais mais atrativos e introduzem espécies em locais fora de seu habitat”, finaliza Sabino.
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