
Irmgard Furchner, ex-secretária docomandante do campo de concentraçãode Stutthof, morreu aos 99 anos na Alemanha, em 14 de janeiro. A informação foi confirmada à agência Spiegel pelo promotor local nesta segunda-feira (7).
A morte ocorreu dois anos após sua condenação por cumplicidade em mais de 10 mil assassinatos no campo, localizado no norte da Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. O Tribunal Federal de Justiça da Alemanha confirmou a sentença em agosto do ano passado.
Furchner trabalhou como estenógrafa no escritório do comandante de Stutthof entre 1º de junho de 1943 e 1º de abril de 1945. O tribunal concluiu que ela tinha conhecimento das ações realizadas no campo e que seu trabalho contribuiu para a morte de 10.505 prisioneiros.
As mortes ocorreram por gaseamento, más condições de vida, transporte para Auschwitz e marchas forçadas no fim da guerra. Estima-se que entre 63 mil e 65 mil pessoas — incluindo judeus, presos políticos, homossexuais e Testemunhas de Jeová — foram assassinadas em Stutthof entre 1939 e 1945.
Furchner foi acusada de integrar o funcionamento do campo, próximo à cidade de Danzig, hoje Gdansk, na Polônia. A condenação incluiu cumplicidade em 10.505 casos de assassinato e cinco de tentativa de assassinato.
Durante uma audiência em julho no Tribunal Federal em Leipzig, seus advogados questionaram se ela poderia ser considerada cúmplice e se tinha pleno conhecimento dos crimes cometidos. O tribunal concluiu que ela tinha ciência das mortes e que suas funções administrativas contribuíram para a execução dos prisioneiros.
Como tinha entre 18 e 19 anos à época dos fatos, Furchner foi julgada por um tribunal juvenil. Embora não tenha sido determinada sua maturidade mental naquele período, o tribunal confirmou sua participação nos crimes.
Em setembro de 2021, Furchner tentou fugir de uma casa de repouso em Norderstedt, no norte da Alemanha. Ela pegou um táxi até a estação ferroviária, mas foi detida cinco dias depois, o que atrasou o início do julgamento.
Prisioneiros mortos

Durante o processo, foi relatado que prisioneiros foram mortos por meio de dispositivos de tiro no pescoço e gaseamento com Zyklon B. Em 22 de julho de 1944, o oficial Paul Maurer ordenou a transferência de prisioneiros para Auschwitz.
Quatro dias depois, uma lista foi elaborada no escritório do comandante Paul Werner Hoppe, com confirmação do transporte por rádio. A promotoria alegou que Furchner redigiu essa mensagem.
Durante o julgamento, ela afirmou não ter conhecimento das mortes, apesar de trabalhar diretamente no comando do campo. Testemunhos revelaram que seu marido, ex-soldado da SS, afirmou em 1954 estar ciente dos gaseamentos.
O caso de Furchner está entre os últimos processos de crimes nazistas na Alemanha. Um escritório de promotores em Ludwigsburg informou que apenas três casos permanecem pendentes.
A condenação seguiu precedente de 2011, que considera suficiente a participação em funções de campos para acusações de cumplicidade em assassinatos.