
Redução também afeta o cacau e a banana, devido à menor área plantada e colhida, reflexo da estiagem prolongada e da falta de investimentos no setor. Colheita de café
Reprodução/TV Gazeta
Os agricultores do Amazonas podem enfrentar dificuldades em 2025, com a safra de café prevista para cair 28%, segundo o IBGE. A redução também afeta o cacau e a banana, devido à menor área plantada e colhida, reflexo da estiagem prolongada e da falta de investimentos no setor.
Cada pé de café representa um sonho para Edna Pereira, que sempre quis cultivar a planta na Amazônia.
“Eu nasci e me criei no meio de café, né? Só que ninguém acreditava, falava que eu era doida. Queria plantar café. Aí, quando foi ano retrasado, minha família deixou eu plantar. Agora estão todos entusiasmados”, conta a agricultora.
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Atualmente, o cafezal de Edna está florescendo, e no viveiro há mais de dez mil mudas sendo preparadas.
“A gente preparou a terra com adubo, com os preparos da terra, tiramos clone, muda clonada e fizemos as mudas. Dessa forma, ela passa 90 dias para ir para o campo”, explica.
O diferencial na técnica de Edna está na forma de preparo das mudas. Em cultivos convencionais, utilizando o caroço, o café leva cerca de quatro anos para dar a primeira safra. Com a clonagem adotada por ela, esse tempo cai pela metade.
“O clone é feito do broto, né? Então, a gente colhe um broto que seja bom. Aqui está um clone de café”, detalha.
Independentemente da técnica, plantar café na Amazônia não é tarefa fácil. A última estiagem foi um grande desafio para Edna, que lutou para manter a plantação viva em meio à falta de água.
“Na seca, queriam que eu plantasse 18 mil pés, mas para irrigar dois hectares de café não tem como. Foi no braço mesmo. Gastamos bastante, colocamos água dia e noite. Tinha dia que eu chorava de ver meus pés de café murchos, mas conseguimos vencer. Agora estão todos bonitos e já preparamos para a colheita”, relata.
A dificuldade enfrentada por Edna reflete nos dados do IBGE, que apontam uma queda prevista de 28% na produção de café no Amazonas para 2025.
“A pesquisa acompanha as culturas desde a intenção de plantio até a colheita e busca prever a safra do ano seguinte. Dessa forma, ela se torna uma ferramenta essencial para monitorar a área plantada, a produtividade e o rendimento médio das principais culturas do estado”, explica Adjalma Nogueira, coordenador de informações do IBGE.
Segundo ele, o levantamento inicial aponta queda na produção de banana (13%), cacau (23%) e café (28%). “Mas outros levantamentos ocorrerão durante 2025, podendo haver alterações para mais ou para menos”, complementa.
Fatores climáticos, a falta de investimentos e o pouco apoio ao setor rural são alguns dos problemas que dificultam a produção, segundo os agricultores.
“Agora nós precisamos de incentivo, maquinário principalmente. O ramal aqui fica feio, então não tem como a gente escoar a produção. Precisamos que o governo do estado olhe por nós”, pede Edna.
O Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam) acompanha os impactos da estiagem na safra de 2025. Mas, no caso do café, a irrigação pode ajudar a manter ou até aumentar a produção.
“Apesar da previsão de queda, vemos produtores investindo em irrigação. Com a adoção dessa tecnologia, acreditamos que a produção possa se manter ou até crescer”, avalia Luiz Herval, gerente de produção vegetal do Idam.
Entre desafios e inovações, Edna segue confiante para a primeira safra. “Esse ano eu vou colher, mas não tenho máquina para beneficiar. O dinheiro do café daria para comprar uma, mas, sem máquina, tenho que guardar. Não posso vender ele em coco, como dizem. Preciso beneficiar para vender”, finaliza.