Número de professores afastados por saúde cresce em Piracicaba, e problemas psiquiátricos são principais causas


Poder público ainda citou câncer e questões osteomusculares como causas. Professora cobrou valorização e apoio da rede municipal. Crianças brincam em recreio de escola
Tiago Aureliano/EPTV
A rede municipal de ensino de Piracicaba teve aumento de 16,66% no número de professores afastados por motivos de saúde em dois anos. Os dados foram disponibilizados pela Secretaria Municipal de Educação a pedido do g1.
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Em 2023, foram 582 afastamentos por saúde. Já em 2024, foram 679 ausências.
A pasta não disponibilizou a relação de afastamentos e CIDs (Classificação Internacional de Doenças), mas informou que os principais motivos incluem queixas psiquiátricas, como ansiedade, depressão e síndrome do pânico.
Além disso, câncer e questões osteomusculares, como fraturas, torsões, dores, artroses e cervicalgias são citadas.
Alunos brincam em escola municipal de Piracicaba
Fernanda Schimidt/ Secretaria Muncipal de Educação de Piracicaba
Educação Infantil lidera afastamentos
Em 2023, a prefeitura registrou um afastamento por saúde na Educação de Jovens e Adultos (EJA); 160 no Ensino Fundamental e 421 na Educação Infantil. Em 2024, o EJA teve dois profissionais ausentes; mas foram 218 no Ensino Fundamental e 459 na Educação Infantil.
A Secretaria Municipal de Educação informou que há 3.080 professores contratados e que em março de 2025, 106 professores têm estado fora das salas de aula por questões de saúde.
Professora afastada
Ana Franco, de 48 anos, é professora do Ensino Infantil da rede municipal de ensino de Piracicaba há 17 anos, mas trabalha na área há mais de 30 anos.
Ela foi afastada das salas de aula em agosto de 2024, quando foi diagnosticada com Síndrome de Burnout, distúrbio emocional decorrente do esgotamento profissional e que traz problema físicos e psíquicos.
Ela contou que, no início de 2024, passou a apresentar problemas, como dores na coluna, diarreia, faringite aguda e crise de pânico, principalmente na hora de trabalhar. Em agosto, foi afastada por um médico para tratamento psicológico. Desde então, não retornou ao trabalho.
“A nossa rotina é bem estressante, sim. O número de crianças é grande, a demanda é muito grande e são crianças pequenas, que exigem mais atenção e cuidado. Nós temos todo um trabalho burocrático por trás que não é visto”, detalha.
“O trabalho da sala de aula com os estudantes é apenas a ponta do iceberg […] Essa brincadeira de que o professor corrige prova e faz trabalho manual no final de semana, projeta aula no final de semana, não é só um meme de internet, isso é real e afeta nossa saúde”, afirma a professora.
Motivos da exaustão
Além da alta demanda de alunos por sala de aula e de trabalho dentro e fora do expediente, a professora cita como colaboradores da exaustão os seguintes fatores:
Falta de valorização financeira da profissão;
Mudança do perfil do aluno, que exige mais atenção e responsabilidade por parte dos professores e auxiliares;
Mudança no perfil dos pais que, segundo a professora, cobram mais sem a devida análise da situação.
Falta de apoio psicológico por parte da rede municipal.
O Sindicato dos Trabalhadores Municipais também informou ao g1 que têm percebido um aumento de denúncias de sobrecarga de trabalho ou condições inadequadas nas escolas que afetam o bem-estar dos professores.
O que diz a prefeitura
Sede da Secretaria Municipal de Educação de Piracicaba
Secretaria Municipal de Educação
A Secretaria de Educação afirmou que a nova gestão assumiu há três meses e que tem trabalhado para encontrar soluções definitivas para os desafios apresentados.
“Entre as medidas adotadas na Educação, estão a abertura de concursos e a convocação de novos profissionais para atuar nas escolas da rede municipal. No primeiro trimestre de 2025, 120 profissionais foram convocados”, informou a pasta, em nota ao g1.
“Além disso, a administração estuda parcerias para suprir a demanda de profissionais e busca formas de valorizar aqueles que já atuam na área”, completou.
O que é a Síndrome de Burnout
A Síndrome de Burnout afeta diretamente os resultados da empresa.
shutterstock
Segundo o Ministério da Saúde, a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional. Os principais sintomas incluem:
Estresse;
Cansaço físico ou mental excessivo;
Esgotamento físico por situações de trabalho desgastante;
Dificuldades de concentração;
Dores de cabeça com frequência;
Alterações no apetite;
Pensamentos negativos;
Insônia;
Pressão alta;
Alterações repentinas de humor;
Dores musculares;
Problemas gastrointestinais.
“A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Esta síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros”, escreve o Ministério de Saúde em página sobre a síndrome.
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