Toneladas de sargaço são retiradas de praia no Pará; fenômeno tem abrangência internacional, diz pesquisador


Pesquisador da UFRA coletou amostras que serão analisadas por rede internacional de pesquisadores. Remoção de sargaço na Praia do Atalaia
Divulgação
Nos últimos dias, praias do nordeste do Pará foram invadidas por algas marinhas da espécie Sargaço. Entre as mais afetadas estava a praia do Atalaia, em Salinópolis, um dos balneários mais famosos e procurados da região Norte.
Nesta quinta-feira (27), foi concluída a limpeza das praias do Atalaia e outras áreas de Salinópolis afetadas pela invasão de algas. Foram retiradas toneladas de sargaço da faixa de areia da praia do Atalaia, com o apoio de duas caçambas e um trator. Veja o vídeo abaixo:
Toneladas de sargaço são retiradas da praia do Atalaia em Salinópolis
O Sargaço é uma alga marinha pertencente ao gênero Sargassum, ela flutua na superfície do oceano, formando grandes massas ou “tapetes” que podem se deslocar com as correntes marítimas.
O fenômeno natural tem grande importância ecológica, pois serve de abrigo e alimento para várias espécies marinhas, como peixes, camarões e tartarugas. No entanto, em grandes quantidades, o sargaço pode se tornar um problema ambiental, especialmente quando chega às praias.
Veja a praia do Atalaia coberta pelo sargaço e, em seguida, após a retirada das algas:
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Fenômeno tem abrangência internacional
O professor Edson Vasconcelos, biólogo, doutor em oceanografia, coordenador do Laboratório de Ecologia Marinha e Oceanografia Pesqueira da Amazônia (Lemopa/Ufra) avalia que Salinópolis, conhecida como Salinas, por sua geografia e posição mais ao litoral, tende a receber esse maior impacto da biomassa, além de maior visibilidade.
“Outra situação é que o litoral de Salinas é habitado e com praias com atividade econômica, então esse monitoramento e maior percepção pela população ocorre com mais frequência e naturalmente”, diz.
Ele ainda conta que foram registrados Sargaço em outras localidades, mas em menor quantidade, como em Marudá, nas praias do Crispim e na praia de Marieta. A praia de Ajuruteua, no passado, também foi afetada por grande biomassa, e muito provavelmente será afetada nesse novo evento.
Segundo o pesquisador, o fenômeno está sendo estudado pelo consórcio “Weeds of Change”, que envolve países como França, Holanda, México e Brasil. O estudo visa entender o experimento do crescimento das algas, como elas estão crescendo em diferentes regiões em que passa.
A gente quer entender a nível global como é que funciona essas algas, como esse material vem crescendo e também a dinâmica de encalhe nas regiões.
Ainda de acordo com Edson, outro objetivo do estudo é conscientizar a população e também compreender os registros de chegada e o monitoramento das linhas de costa, que são áreas de grande extensão.
Sobre como é coletado o material para o estudo, o pesquisador conta que foram retirados cerca de 3 kg de macroalgas e acondicionados em tanques.
“Trouxemos com a água do local, com salinidade aproximadamente de 15 a 17. Pegamos a 10 , 12 milhas da costa, na frente da praia do Maçarico. Pegamos essas manchas, acondicionamos, trouxemos para Belém e aqui a gente fez o o experimento de crescimento no laboratório de ecologia marinha e oceanografia pesqueira da Amazônia dentro daqui da UFRA”, explica.
Contato é prejudicial à saúde
Em relação ao contato humano com as águas, o pesquisador explica que a questão aborda também a questão ambiental. Pois é necessário, fazer algumas ações de educação ambiental para impedir que as pessoas por curiosidade ou por chamar a atenção, mexam nas manchas de sargaço, tanto no mar, quanto também as que estão encostadas na na linha de areia, pois elas estão entrando no processo de decomposição.
O sargaço tem diversos organismos associados. Existem alguns organismos que podem liberar substâncias urticantes. A população tem que ter cuidado e não entrar em contato com esse material. Quando vivo, ele não é tóxico, no entanto, quando ele começa a entrar em decomposição, na linha de costa, aí sim ele começa a liberar alguns gases, naturalmente da decomposição dele. Pode ocasionar problemas respiratórios, por conta de danos a mucosa nasal e respiratória e também levar a dor de cabeça porque ele tem bastante enxofre.
Alguns estudos sugerem que a vazão do sistema estuarino amazônico e atividades no continente, como o aumento no uso de fertilizantes, desmatamento, urbanização desordenada, queimadas e lixiviação, podem ser fatores que contribuem para a formação dessa grande massa no ambiente oceânico. No entanto, trata-se de um sistema pouco compreendido, ainda repleto de hipóteses a serem investigadas”, explica Edson Vasconcelos.
Entre essas hipóteses, o biólogo menciona desde a poeira do Saara que chega aos oceanos até a redução da velocidade das correntes marinhas em nível global, além de fenômenos como El Niño e La Niña.
O pesquisador acredita que as algas não conseguem se desenvolver na região amazônica, já que é uma alga de oceano, no entanto, é necessário ficar atento. “Nós temos a questão da salinidade e das correntes que impedem esse crescimento. É muito improvável que ele se desenvolva aqui, mas precisamos observar. Isso porque, se ele crescer, é uma alga exótica, já que não pertence à Amazônia. Seria um vetor de animais exóticos que podem ter potencial invasor na região, modificando toda a dinâmica ecossistêmica”, alerta.
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