Ensaio temático: sapo-pitanga é registrado ao lado de fruta brasileira


Em Ubatuba, biólogo fotografa anfíbio interagindo com uma pitanga para mostrar escala de tamanho e motivo do nome popular. Sapinho-pitanga ao lado da fruta
Renato Martins
Qual o melhor jeito de explicar por qual motivo o sapo-pitanga (Brachycephalus pitanga) leva a fruta brasileira tanto no nome científico quanto no nome popular? Fazendo uma sessão de fotos dos dois juntos.
“O objetivo principal das imagens foi ilustrar o quão pequena é a espécie de sapo, pois todos sabem o tamanho de uma pitanga e utilizando o fruto como escala, aproxima as pessoas da imagem e também para ter uma foto da espécie junto com o fruto que ela ‘representa’”, explica o fotógrafo e biólogo Renato Martins, que foi o responsável pelos registros.
Além da mesma coloração, tanto o sapo quanto a fruta brasileira possuem a Mata Atlântica nas origens, mas apesar da pitanga ser encontrada em diversas regiões atualmente, o sapo-pitanga continua sendo exclusivo do bioma.
Sessão de fotos foi feita no Parque Estadual da Serra do Mar, próximo ao núcleo Santa Virgínia, em Ubatuba
Renato Martins
“Ele é nativo do Brasil e endêmico da Mata Atlântica, ocorrendo principalmente em Ubatuba, São Luiz do Paraitinga e região. Ele ocupa apenas áreas de montanhas com certo grau de elevação que varia entre 600 e 1800 metros e altitude”, diz Martins, que trabalha na Universidade da Pensilvânia, no Laboratório de Doença Tropical em Anfíbios.
A saga das fotos
A vontade de conseguir registrar o sapinho junto da fruta era antiga, mas o pesquisador não queria coletar o pequeno anfíbio na natureza e produzir a foto em um laboratório. O plano era não causar estresse ao animal e utilizar a própria floresta como plano de fundo.
“Eu trabalho com esta espécie desde 2011 e, há muitos anos, venho pensando em fazer um ‘ensaio’ com uma pitanga, já que é o fruto que deu nome a espécie. O desafio sempre foi encontrar um pé de pitanga na região para que o pequeno fruto chegasse integro até as elevadas montanhas da Serra do Mar”.
Em Janeiro de 2025, em Ubatuba, enquanto estava em mais uma expedição para registrar esta e outras espécies de anfíbios na Serra do Mar, o pesquisador encontrou, em uma casa na estrada, uma árvore cheia de pitangas. “Parei o carro e pedi para a senhora da casa para colher algumas frutas. Então, levei o saco de pitanga para o mato junto com o equipamento fotográfico”, relembra.
O sapo-pitanga vive no chão úmido das florestas de altitude da Serra do Mar
Renato Martins
Renato conta que esses sapos são lentos e não pulam muito, por isso assim que encontrou um, colocou a pitanga um pouco a frente, prevendo os passos do anfíbio para que ele ficasse ao lado da fruta.
“Em algumas ocasiões ele até subiu no fruto de livre e espontânea vontade. Por ser uma espécie de movimentos lentos, ele tem o habito de escalar e descer as folhas, logo, a pitanga não foi um grande desafio para ele”.
Depois de alguns registros, a missão estava cumprida e o animal seguiu o próprio caminho.
A espécie
O sapo-pitanga é extremamente pequeno, com os machos medindo apenas 11 milímetros e as fêmeas 13 milímetros de comprimento. A alimentação é principalmente formada por pequenos insetos, ácaros, formigas, besouros e larvas de diversos animais.
Por ser tóxico, não há predadores conhecidos pela espécie
Renato Martins
É um animal diurno que habita o chão da floresta, pois precisa do solo bem úmido, já que diferente da maioria dos sapos, o sapinho-pitanga tem desenvolvimento direto e nunca vai para a água. De acordo com o pesquisador, depois que o macho e a fêmea se encontram, eles botam os ovos debaixo das folhas mortas do chão, conhecidas como folhiço ou serapilheira. Após alguns dias, os filhotes saem dos ovos completamente formados, como miniaturas do adulto.
O sapo-pitanga é tóxico, por isso dificilmente são predados. Para os humanos, não há perigo a não ser que sejam ingeridos.
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