
Thamily era companheira do alvo da ação. Motorista de app que dirigia carro com casal acelerou em direção aos agentes. Defesa diz que condutor achou que policiais à paisana poderiam ser assaltantes. Estudante de odontologia morre após ser baleada pela polícia em abordagem
A estudante morta após ser baleada na cabeça em uma ação da Polícia Civil de Criciúma, no Sul de Santa Catarina, foi descrita pela irmã como cheia de energia, alegria e com risada contagiante. Thamily Venâncio Ereno tinha 23 anos e foi atingida pelo disparo quando estava em um carro de aplicativo com o namorado de 20 anos, que era o alvo da abordagem dos agentes.
O caso aconteceu na sexta-feira (21). O motorista não teria obedecido à ordem de parada dos policiais e acelerado em marcha ré em direção aos agentes, segundo o relato da Polícia Civil. A defesa do condutor de 42 anos declarou que ele se assustou e achou que os policiais à paisana poderiam ser assaltantes.
“Sempre será lembrada como uma pessoa radiante, cheia de energia, alegria e uma risada contagiante que iluminava qualquer ambiente. Sua paixão pela vida era linda, e a praia era seu refúgio, onde se sentia em paz”, afirmou a irmã Thuany Ereno.
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A jovem era estudante de odontologia e chegou a ser hospitalizada, mas teve a morte confirmada no domingo (23). A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC) de Criciúma lamentou o caso e disse que vai acompanhar a investigação. Nas redes sociais, perfis pediram a apuração do caso.
O corpo dela foi sepultado nesta segunda-feira (24) em Lauro Müller, também no Sul catarinense. A cerimônia foi marcada pela emoção da família e a exigência por Justiça. O pai de Thamily, David Ereno, questionou a ação policial.
“O que eu só não entendo é… se esse é o poder da polícia? A polícia tem o poder de tirar vidas? Eu só quero entender isso. Por que a minha filha foi arrancada de mim? Ela levou um tiro na nuca. Ela levou um tiro na nuca. Cara, isso é inconcebível. Não tem como uma polícia fazer isso. Eles são a nossa proteção”, desabafou David.
Investigação
O namorado da vítima foi preso, pois tinha mandado de prisão em aberto por tráfico de drogas e organização criminosa. O motorista de aplicativo também foi detido por tentativa de homicídio e desobediência. Ele teve o flagrante convertido em prisão preventiva.
Conforme a Polícia Civil, o homem já respondia a um processo por lesão corporal e dano (leia mais abaixo o que diz a defesa do motorista).
Quem era a jovem
Conforme a irmã da vítima, a estudante estava apaixonada pelo curso de Odontologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) e que a formação “dava significado aos seus dias e sonhos”.
Em nota, a universidade se solidarizou com a família, amigos e colegas de Thamily, incluindo sua irmã Thuany Venâncio, também é estudante de Odontologia.
“Amava profundamente os animais e se encantava com a cor rosa, que refletia sua doçura única. Thamily era, sem dúvida, uma mulher de um coração imenso. Neste momento de dor, a tristeza de descrevê-la é grande, mas sabemos que Deus a receberá de braços abertos, como ela sempre desejou, em paz e rodeada de amor eterno”, disse a irmã.
Segundo o delegado André Milanese, Thamily era companheira do homem alvo da abordagem há alguns meses, e os dois moravam juntos na cidade de Nova Veneza, vizinha a Criciúma. Ela, no entanto, não era alvo da polícia no dia da ocorrência e, a princípio, não tinha passagens pela polícia.
Thamily Venancio Ereno morreu após ser atingida por engano em Criciúma (SC)
Redes sociais/ Reprodução
O que disse a defesa do motorista de aplicativo
A defesa do motorista, que não teve o nome divulgado, é feita pelo escritório Leal, Viscardi & Zanette.
Em nota, os defensores afirmaram que o cliente fazia a viagem de um casal e, ao chegar no destino, os ocupantes “foram surpreendidos pelo que acreditaram ser um assalto, já que dois homens armados desceram de uma viatura descaracterizada e partiram em direção ao carro”.
“Diante da aparente tentativa de assalto, ele deu ré, mas, impedido por um veículo atrás, tentou desviar e, nesse momento, foi atingido por uma segunda viatura. A colisão resultou em um disparo de arma de fogo efetuado por uma agente policial, que causou a morte da passageira”, segue o texto.
A defesa também disse que durante a investigação, todos os envolvidos foram ouvidos, exceto a policial que efetuou o disparo fatal contra a jovem.
Além disso, os advogados afirmaram quem uma testemunha que presenciou os fatos e registrou o episódio no celular teria sido abordado por um policial, “que o obrigou a entregar seu telefone, sendo devolvido apenas sob a condição de apagar toda e qualquer imagem relacionada a trágica ocorrência”.
Sobre a apreensão do aparelho, a Polícia Civil explicou que quem filmava era um repórter que não estava identificado no local da ocorrência e teria descumprido orientações dos agentes.
“Não ter respeitado o pedido para não filmar o rosto dos policiais, ou editar a filmagem borrando seus rostos. Havia outros profissionais da imprensa no local filmando, mas estavam identificados com crachá e respeitaram o pedidos dos policiais. O celular foi devolvido na mesma tarde para o proprietário”, justificou.
“A defesa espera que o Poder Judiciário possa ser o verdadeiro fiel da balança, para que o motorista tenha a oportunidade de ampla defesa e contraditório, de modo que a investigação policial e o processo penal não sejam meras formalidades, podendo assim ele ter seus direitos fundamentais resguardados”, concluiu a defesa.
Thamily Venancio Ereno foi atingida por disparo durante ação da polícia em SC
Redes sociais/ Reprodução
Motorista teria sido pressionado a fugir
Segundo a Polícia Civil, o namorado da jovem foi alvo de busca em 13 de fevereiro deste ano, quando drogas, objetos para o tráfico e munições foram apreendidos. No dia da abordagem e da morte da estudante, a polícia acredita que ele tenha pressionado o motorista.
“A gente entende que foi o foragido que pressionou o motorista do Uber a tentar fugir”, disse o delegado. Conforme o investigador, o namorado da jovem tentou quebrar o próprio celular no painel do carro. O aparelho, danificado, foi apreendido.
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