O problema são os pais que não largam seus celulares, diz especialista


Isabelle Hau, que é uma referência na área da educação, lança livro sobre a importância dos relacionamentos familiares para o aprendizado Ela demorou a andar e a falar. Aos três anos de idade, Isabelle Hau foi considerada uma criança com baixa aptidão acadêmica, mas seus pais nunca se guiaram pelo diagnóstico feito na ocasião. “Pelo contrário, eles buscaram todo tipo de ajuda para que eu me desenvolvesse. Olhando para trás, vejo que a rede de relacionamentos e apoio construída na minha infância foi a base, a fundação do que sou hoje”, afirma.
Isabelle Hau, autora de “Love to learn: the transformative power of care and connection in early education”
Divulgação
E hoje ela é uma festejada especialista em educação, tendo sido incluída numa lista de mulheres inspiradoras pela Harvard Business School. Diretora executiva do centro de aceleração do aprendizado da Universidade Stanford, acabou de lançar seu primeiro livro: “Love to learn: the transformative power of care and connection in early education” (“Amor pelo aprendizado: o poder transformador do cuidado e da conexão nos primeiros estágios da educação”, em tradução livre), sobre o qual discorreu em palestra on-line.
“Houve um grande avanço no acesso universal à educação, mas não damos a devida atenção à expansão da capacidade de aprendizado – e como os primeiros anos são fundamentais para esse processo. As relações humanas são essenciais para o desenvolvimento do cérebro, para cada ser humano ser capaz de aprender, florescer e viver uma vida mais longa e ativa”, explicou.
Hau citou um estudo abrangente realizado na Romênia, país que, nas décadas de 1970 e 80, teve um número recorde de crianças enviadas para orfanatos:
“Sob o comunismo, as pessoas foram estimuladas a ter mais filhos para ajudar no crescimento do país. Só que, sem condições de sustentar a prole numerosa, aconteceu o pior: as famílias deixavam os filhos em orfanatos. Dada a magnitude do que houve, foi possível estudar profundamente o resultado da privação de afeto e estímulos nessas crianças. Seus cérebros tinham um volume 10% menor que o normal”.
A autora observa que, atualmente, as crianças têm um excesso de atividades estruturadas, e menos tempo para brincar. “Até a duração do recreio diminuiu nas escolas, mas a brincadeira estimula o aprendizado”, lamenta, acrescentando que o modelo de ensino ainda é baseado no desempenho acadêmico, sem medir, por exemplo, o espírito de colaboração. “No entanto, habilidades como capacidade de relacionamento, comunicação e trabalho colaborativo são cada vez mais valorizadas”, analisa.
Compara a tecnologia ao fogo, que permite cozinhar, mas também pode provocar um incêndio. E alerta para o que considera um problema grave: “hoje em dia, os pais estão mergulhados nas redes sociais. Fala-se muito sobre o consumo de internet das crianças, mas pouco se discute a questão do tempo que os responsáveis gastam em seus aparelhos. Eles não largam seus celulares. Não há dúvida de que estão sinalizando para os filhos a importância daquilo em suas vidas”.
Uma pesquisa internacional mostrou que os brasileiros são praticamente recordistas em tempo dedicado a celulares e outros eletrônicos: ficam conectados, em média, nove horas e meia por dia. A educadora adverte para os riscos dos chamados “pais presentes, mas ausentes”, que passam mais tempo com os filhos, mas, quase sempre, com os olhos grudados na telinha dos aparelhos. Por isso, sugere que o universo virtual receba rótulos semelhantes aos que foram criados na indústria dos alimentos:
“Assim como incorporamos rótulos para identificar a qualidade dos alimentos, distinguindo o que é saudável do que é nocivo, precisamos criar códigos para mostrar o que é tecnologia de qualidade e o que é lixo. Talvez as pessoas passem a ser mais cuidadosas com o que consomem”, finalizou.
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