Quando Floriano, que dá nome a Florianópolis, ‘inventou’ dois carnavais no Brasil

O ano era 1892 e uma decisão, tomada para preservar a saúde da população, proporcionou a realização de dois carnavais no Brasil. Em seu segundo ano de mandato presidencial, o militar Floriano Peixoto determinou a mudança de data da festividade, naquela que seria apenas uma das diversas decisões polêmicas tomadas por ele entre 1891 e 1894. Outra delas está relacionada ao nome da capital catarinense, Florianópolis, que completa 352 anos neste domingo (23).

Marechal Floriano Peixoto, presidente que determinou mudança de data da festa, mas acabou acontecendo dois carnavais no Brasil

Marechal Floriano Peixoto foi presidente do Brasil entre 1891 e 1894 – Foto: Centro de Memória CMSP

O “Marechal de Ferro”, como ficou conhecido durante a Revolução Federalista (1893-1895), foi o segundo presidente da Primeira República. Peixoto foi o vice-presidente de Marechal Deodoro da Fonseca, eleito em 1889. Com a renúncia de Deodoro, dois anos depois, o militar assumiu o mandato.

Dois carnavais no Brasil

Sob a justificativa de que o calor agravava epidemias mortais, como varíola e febre amarela, Floriano Peixoto decidiu transferir o período do carnaval para o mês de junho, quando os dias são mais frios em boa parte do país. A decisão, comunicada pelo Ministério do Interior em 1892, acabou não tendo a resposta desejada.

O escritor David Butter conta, no livro “De Sonho e de Desgraça: o Carnaval Carioca de 1919”, que, em 1892, a população celebrou dois carnavais no Brasil. Como bons foliões, os brasileiros comemoraram a festividade “à portas fechadas”, com festas em clubes e salões particulares no mês de fevereiro.

Fantasia usada por foliões entre o século XIX e XX - Severino Ribeiro/Fundação Joaquim NabucoND

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Fantasia usada por foliões entre o século XIX e XX – Severino Ribeiro/Fundação Joaquim NabucoND

Celebração do carnaval entre o século XIX e XX - Fundação Joaquim Nabuco/ND

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Celebração do carnaval entre o século XIX e XX – Fundação Joaquim Nabuco/ND

Capa da revista Pernambuco, anunciando o carnaval em 1926 - Fundação Joaquim Nabuco/ND

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Capa da revista Pernambuco, anunciando o carnaval em 1926 – Fundação Joaquim Nabuco/ND

Em junho, período estipulado pelo governo, a adesão foi menor, mas há registros de modestas celebrações carnavalescas durante o período mais frio. No ano seguinte, a medida foi revogada para evitar que houvesse, novamente, a realização de dois carnavais no Brasil.

Em 1912, pela morte do ministro das Relações Exteriores, uma atitude semelhante foi tomada, já sob governo de Hermes da Fonseca. O governo determinou a transferência do período para abril, mas a decisão não foi acatada e a população saiu às ruas normalmente.

Relação de Floriano Peixoto e Florianópolis

Além de ter, não intencionalmente, provocado a realização de dois carnavais no Brasil, o período de Floriano Peixoto na presidência da República tem relação direta com o nome da capital catarinense, Florianópolis. Em 1993, teve início a Revolução Federalista, considerada uma das guerras mais violentas da história do país.

Presidente dos “dois carnavais no Brasil” ficou conhecido como “Marechal de Ferro” – Foto: Diretório Brasil de Arquivos/Arquivo Nacional

A disputa começou no interior do Rio Grande do Sul e se opunha aos presidentes do estado e do país, respectivamente (naquela época, a figura do governador ainda não existia). Para evitar uma guerra civil, Floriano Peixoto determinou o envio de tropas ao sul para defender o governante do estado. Os federalistas venceram diversos confrontos e dominaram as capitais de Santa Catarina e Paraná, Desterro e Curitiba respectivamente.

Em 1894, os federalistas começaram a enfraquecer e as forças florianistas tomaram o controle gradativamente. Os conflitos encerraram no início de 1895 e, ao chegar à cidade de Desterro, Floriano determinou que a capital fosse rebatizada em homenagem a ele, como forma de rendição. A ilha do Desterro passou, então, a chamar-se Florianópolis.

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