Acúmulo de gelo nas asas do avião pode ter causado acidente em Vinhedo, apontam especialistas

O piloto Pedro Santos, que passou pela região do acidente nesta sexta-feira (9), confirmou que as condições meteorológicas não eram boas. Gelo nas asas do avião pode ter causado acidente em Vinhedo, apontam especialistas
O Jornal Nacional ouviu especialistas em avião sobre o acidente em Vinhedo, interior de São Paulo. Eles analisaram as imagens da queda e também as condições meteorológicas durante o voo.
As imagens da queda do avião são o ponto de partida da investigação sobre as causas do acidente. Elas mostram o ATR-72 da Voepass desgovernado, girando até cair e pegar fogo.
“Ele sobe o nariz, perde a sustentação e, normalmente, ele entra de nariz, ele cai de nariz, entra no chamado parafuso. Ou seja, ele perdeu a capacidade de se manter e veio ao chão, girando, perdendo altura, perdendo altitude, mas sem deslocamento horizontal para dar sustentação para ele prosseguir no voo”, afirma Roberto Peterka, especialista em segurança de voo.
O céu estava nublado na hora da queda. Chovia fraco. A carta meteorológica apontava nuvens de dois tipos pelo Sul e Sudeste do país: isolado e cumulonimbus. As cumulonimbus são nuvens densas, evitadas pelos pilotos. A carta mostra também outro dado preocupante: gelo severo em aeronaves.
Em entrevista ao jornalista Rodrigo Bocardi, o piloto Pedro Santos, que passou pela região do acidente nesta sexta-feira (9) cedo, confirmou que as condições meteorológicas não eram boas.
“A gente se deparou com formação de gelo na asa, e o olhar é muito importante para verificar a quantidade de gelo que está se formando, porque, a depender da quantidade, a gente precisa fazer uma descida de emergência para encontrar uma temperatura positiva”, afirma o comandante Pedro Santos.
O piloto e professor de transportes aéreos da USP Jorge Leal Medeiros explica que o acúmulo de gelo é um risco.
“O ar bate na frente da asa, uma parte vai por cima, a outra vai por baixo. A que vai por cima vai mais veloz, cria uma pressão negativa, faz com que o avião voe. Essencialmente é isso. Agora, se por acaso forma gelo, a aerodinâmica da aeronave muda e você perde a característica de sustentabilidade da asa”, explica Jorge Leal Medeiros.
Aeronaves comerciais contam com dois sistemas anti-gelo: um que evita a formação de gelo e outro que derrete a água congelada nas asas. Em situações extremas, os equipamentos podem ser insuficientes, e o piloto precisa agir rápido.
“Se o gelo não for muito grande, se ele mudar a altitude do avião, se ele for procurar uma camada que não tenha tanta formação de gelo. Me espanta que essa formação de gelo tenha sido tão rápida também. Por isso, temos que aguardar um pouco mais a análise desse acidente”, diz Jorge Leal Medeiros.
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Um gráfico mostra detalhes do voo 2283 da Voepass. O avião voava a 5 mil metros de altitude, a cerca de 500 km/h, até 13h20. Em um minuto, a aeronave despencou 3,6 mil metros.
Gerardo Portella, especialista em gerenciamento de risco, diz que outras hipóteses devem ser apuradas.
“Tendo um avião com dois motores, bimotor, se você tem problema com um, ele consegue ainda manter o controle do voo. Exceto se houver uma falha no gerenciamento daquela emergência, porque, em teoria, ele conseguiria voar apenas com um dos motores. Os investigadores vão coletar muito mais informações, e aí nós vamos poder entender melhor o que levou a esse descontrole e a essa queda catastrófica”, afirma.
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