Vítimas de Antônio Teobaldo, médico preso por estupros em SC e BA, enfrentam sequelas do abuso

“Hoje tenho transtorno bipolar e tomo remédios todos os dias”, as palavras revelam o trauma e as sequelas que ficarão para sempre na vida de uma das vítimas de Antônio Teobaldo Magalhães, médico preso e acusado por estupros em Joinville, em 2021, e em Uruçuca, Bahia, em 2010. Antônio Teobaldo estava foragido desde 18 de fevereiro e foi preso nessa sexta-feira (14), em Salvador.

Antônio Teobaldo

Antônio Teobaldo foi preso por estupros em Joinville e na Bahia – Foto: Redes Sociais/Reprodução/ND

Vítimas relatam sequelas e traumas psiquiátricos em decorrência dos abusos de Antônio Teobaldo

A primeira condenação do médico por estupro foi a de Joinville, em 2021. A vítima, que é professora, conversou com a reportagem do Domingo Espetacular, da RECORD, e contou que foi ao posto de saúde por conta de crises de ansiedade e depressão.

Conforme revelado pela reportagem, a paciente entrou na unidade chorando. Ela já tinha diagnóstico de ansiedade e depressão. Foi nessas condições que o médico abusou dela na UBSF (Unidade de Saúde da Família) Leonardo Schilickmann, no Iririú.

postinho de saúde onde Antônio Teobaldo abusou de paciente

UBSF Leonardo Schilickmann, no Iririú – Foto: Google Maps/Reprodução

Uma médica e uma psicóloga da unidade a acolheram e, comovidas com o estado da paciente, conseguiram um encaixe com Antônio Teobaldo. Mas logo no início da consulta, a vítima já estranhou o comportamento.

“Ele trancou a porta, e outra coisa também que me chamou atenção foi que eu sentei frente ao médico. E ele falou: ‘não, você senta aqui’, que seria ao lado dele”, conta a vítima.

Segundo ela, ele ainda ofereceu um copo com água e falou que havia pego duas gotas de um homeopático para tranquilizá-la.

Em entrevista ao portal ND Mais em 2021, a vítima contou que ele tirou a máscara dela e “fez tudo que quis comigo, você pode imaginar”. “Eu infelizmente congelei. Eu gritava por dentro, ouvia meu grito, mas não conseguia falar. Ele parou a hora que quis, recolocou a minha máscara e sentou como se nada tivesse acontecido”, relatou.

Depois de abusar dela, Antônio Teobaldo fez uma receita de um medicamento tarja preta. Ao fazer a prescrição, ele ameaçou a vítima, frisando o nome de tenente. “Lembra que eu tenho toda tua ficha cadastral aqui. Então, o que aconteceu aqui não sai daqui. Senão a gente sabe qual vai ser o desfecho dessa história”, relembrou a vítima.

carimbo de Antônio Teobaldo

Antônio usava a patente  de “tenente” de forma indevida – Foto: Record/Reprodução/ND

No dia seguinte, ela foi à delegacia e registrou o caso, além de denunciar o médico ao município. “Ainda demorei, ele achou que eu não faria isso, soube que ele fez com outras, mas ninguém havia denunciado. Pensei muito na minha filha”, relata.

“Só quero que não aconteça com outras mulheres”

O pesadelo do estupro, o medo da ameaça e a tortura psicológica não saem da memória da professora. “Tive que fazer corpo de delito, tomar remédio pra tudo. Foi uma terceira tortura. A primeira tortura com ele, a da denúncia ao relembrar tudo, a do hospital. É uma tortura constante”, lamenta.

Ainda assim, a vítima ressaltou sobre a importância de ter denunciado, a motivação foi que outras mulheres não passassem pelo mesmo pesadelo. “Eu só quero que não aconteça com outras mulheres. O ato em si foi feito, não tem como voltar atrás, mas o que eu puder fazer para a justiça ser feita, vou fazer até o último minuto da minha vida”, conta.

Segunda vítima de Antônio na Bahia tinha 13 anos

Antônio Teobaldo também foi condenado por um estupro em 2010, na Bahia. Na época, a vítima tinha 13 anos e ainda hoje relembra marcas e traumas dos abusos.

silhueta de vítima de Antônio Teobaldo

Vítima contou para sua mãe o que aconteceu somente depois de muita terapia – Foto: Record/Reprodução/ND

“Eu estava andando na frente do posto de saúde, e ele me encontrou. Então ele falou: ‘você é a menina que desmaia, certo?’. Porque eu tinha problemas com pressão baixa e tal. Daí eu falei que sim e ele falou: ‘entra aqui comigo para eu puxar sua ficha, para eu poder ver porque você está passando mal direto”, contou em entrevista ao programa dominical da RECORD.

A vítima aceitou e entrou com Teobaldo na unidade de saúde. Era horário de almoço e o local estava vazio. Foi aí que ele pediu a ela que tirasse toda a roupa, com intuito de fazer um exame.

Em seguida, a adolescente foi colocada em uma maca e ali ele cometeu os abusos contra ela. Tocou as partes íntimas dela e se masturbou, relatou a reportagem do Domingo Espetacular. Na época, a adolescente de apenas 13 anos ficou em choque.

Sete anos do ocorrido se passaram e, após muita terapia, ela conseguiu contar para a sua mãe o que tinha acontecido. Foi aí então que elas entraram na Justiça contra ele.

A mãe conta como foi o dia em que a filha conseguiu falar sobre o estupro. “Ela [estava] chorando no meio da noite. Aí fui lá e ela me disse: ‘mãe, ele me estuprou, me trancou’. O que é para uma mãe ouvir isso? Você tem vontade de fazer dez vezes pior com o cara, sabe? Trancar ele e fazer ele sofrer por muito tempo”, compartilhou.

Hoje, a vítima tem 28 anos e convive com traumas do crime cometido. “Eu desenvolvi transtorno bipolar. Trato com remédios, tomo remédio todo dia. Faço terapia”, relatou.

Quem é Antônio Teobaldo Magalhães Andrade, preso nesta sexta-feira, em Salvador, após 15 anos das primeiras denúncias

Antônio Teobaldo de 68 anos atuou como médico por cerca de 40 anos. Ele foi condenado em segunda instância e teve a prisão decretada por um estupro em 2021, que aconteceu em Joinville.

Depois também foi condenado em primeira instância por um estupro em 2010, em  Uruçuca (BA), de uma menina de 13 anos, na época. As duas penas somadas ultrapassam 27 anos de prisão. Ele estava foragido desde fevereiro, mas foi preso nessa sexta-feira (14).

Nascido em Salvador em 1956, ele se formou em medicina pela Universidade Autônoma de Guadalajara, no México, em 1983, e validou seu diploma no Brasil pela UFES. Registrado como médico na Bahia desde 1984, ele teve seu registro profissional de médico cassado pelo CFM em setembro de 2024.

Teobaldo se apresentava como tenente médico, mas, conforme apurado pela reportagem do Domingo Espetacular, da RECORD, ele não tem mais nenhum vínculo com o exército brasileiro.

Ele foi oficial médico temporário no exército em 1985, onde atuou como auditor e chefe de enfermarias, alcançando o posto de primeiro-tenente, porém perdeu a patente há 36 anos.

Para além da atuação médica, Teobaldo foi diretor do Sindicato dos Médicos da Bahia e concorreu a vereador em Itabuna duas vezes, sem sucesso. Em 2024, tentou lançar candidatura pelo PMB, mas foi barrado pela Justiça Eleitoral.

Ele também ocupava a cadeira 35 da Academia Grapiúna de Artes e Letras, da qual foi afastado. Teobaldo também publicou um livro sobre estudos e terapias com pacientes.

Preso em Salvador, nesta sexta-feira (14), ele estava foragido desde fevereiro, quando o mandado de prisão foi expedido. No momento da prisão, Antônio tentou se esconder no sótão da casa em que foi encontrado, mas não teve sucesso.

Ele será transferido para Joinville, no Norte catarinense, onde iniciará o cumprimento da pena. A ação de captura foi realizada com o apoio do Departamento de Inteligência da Polícia Civil da Bahia

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