Dengue: Campinas pontua dificuldades no combate a criadouros, vê ‘população saturada’ e teme aumento de casos graves


Coordenador do Programa de Arboviroses da metrópole pontua que há indicativo de aumento da circulação do sorotipo 3 e alerta para reinfecções e possíveis casos graves. Mosquito do Aedes aegypti, transmissor da dengue
Carlos Bassan/Prefeitura de Campinas
Campinas vive uma epidemia de dengue desde setembro de 2023. Sem interromper o estado de alerta, registrou os piores números da doença de sua história em 2024, e tem elementos para projetar um 2025 difícil, seja pela adesão cada vez menor às ações de combate aos criadouros, em meio a uma “saturação da população” pelo tema, seja pelo temor de uma escalada de casos graves.
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Um dos fatores de preocupação está na circulação de três sorotipos da doença na cidade (DENV-1, DENV-2 e DENV-3). Segundo Fausto Marinho, coordenador do Programa de Arboviroses de Campinas, isso já ocorria desde o ano anterior, mas há indicativos de aumento da presença do tipo 3.
Fausto explica que nos sequenciamentos realizados para identificar a circulação dos sorotipos em Campinas, o tipo 3 representava próximo de 4% em 2024, enquanto neste ano, os números estão em equivalência com os sorotipos 1 e 2.
De acordo com o Ministério da Saúde, os quatro sorotipos da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) são suficientemente distintos para que uma infecção por um deles não ofereça imunidade contra os outros. Ou seja, uma pessoa pode ser infectada até quatro vezes, uma por cada sorotipo.
Ainda segundo o Ministério da Saúde, o DENV-3 é considerado um dos sorotipos mais virulentos do vírus da dengue, ou seja, tem maior potencial de causar formas graves da doença.
“Estudos indicam que, após a segunda infecção por qualquer sorotipo, há uma predisposição para quadros mais graves, independentemente da sequência dos sorotipos envolvidos. No entanto, os sorotipos 2 e 3 são frequentemente associados a manifestações mais severas”.
Diante do cenário que a maior parcela da população infectada nos últimos anos tenha tido contato com os sorotipos 1 e 2, a possibilidade de reinfecção é o maior medo das autoridades em saúde.
“Um dos critérios para chance de ter dengue com evolução grave é ter suscessíveis infecções por diferentes sorotipos. É nosso maior medo. Tivemos mais de 90 mortes em 2024”, reforça Fausto.

‘População saturada’
Para agravar o cenário da dengue, Fausto vê parte da “população saturada com o tema”, o que impacta na adesão a ações do poder público e combate aos criadouros pelos próprios moradores.
Isso fica evidente diante dos números crescentes de casos embora seja de conhecimento geral, há décadas, quais as ações necessárias para combater possíveis criadouros do mosquito transmissor.
“Nós sabemos qual é o período de pico, período de intensificação, áreas de maior vulnerabilidade. Fazemos trabalhos, ações educativas, mas vejo que a população acaba se saturando. O medo tem ficado cada vez maior, há mais receio em receber os agentes em casa, o que é um problema. Muitos não fazem sua parte, e nem o nosso trabalho conseguimos fazer”, lamenta Fausto.
Segundo a Secretaria de Saúde, a cada 10 casas visitadas, em pelo menos 5 o trabalho deixa de ser feito, seja por imóvel fechado ou recusa dos moradores.
Cuidados redobrados no verão para evitar a transmissão da dengue e outras complicações.
Banco de Imagens
Números da dengue
Números do Painel de Arboviroses da Prefeitura de Campinas mostram que Campinas contabilizava em 2025, até sexta-feira (14), 6.688 casos confirmados da doença e uma morte. Em 2024, pior ano da série histórica, a cidade teve 121,9 mil infectados e 92 óbitos.
Fausto ressalta que qualquer comparação com 2024 é indevida, por conta dos números fora da curva, e pontua que o total de casos deste ano é elevado, considerando que ainda não chegamos ao pico da doença.
Atualmente, o maior número de casos está na região Norte de Campinas, onde estão bairros como Boa Vista, São Marcos, Aurélia e o distrito de Barão Geraldo, a incidência é de 775,7 casos a cada 100 mil habitantes.
No entanto, alguns fatores socioambientais apontam, segundo o coordenador do Programa de Arboviroses de Campinas, que a maior parcela de casos deve atingir outras regiões da cidade, como as áreas Noroeste e Sudoeste, por exemplo.
De acordo com Fausto Marinho, a dengue acaba atingindo mais as regiões de maior vulnerabilidade social, em territórios com mais acúmulo de lixo e reciclagem, que se tornam propícios para criadouros do mosquito transmissor, o que deve ampliar com os períodos chuvosos.

Clima
O clima, aliás, tem se mostrado favorável para ampliar esse estado de epidemia, com a manutenção de casos elevados mesmo em períodos que historicamente a dengue deixava de incomodar.
Os dias mais quentes ampliam e aceleram o período de reprodução e atividade do mosquito transmissor.
“De 2023 para cá, não tivemos inverno. Tivemos algumas frentes frias apenas, mas o clima tem favorecido muito o padrçao de distribuição da doença. O clima tem sido muito preponderante. Com calor durante mais tempo, o mosquito continua ativo”, explica Fausto.
Aedes Aegypti, o mosquito transmissor da dengue, em Campinas
Rogério Capela/Prefeitura de Campinas
Como saber se é grave
A Secretaria de Saúde recomenda aos moradores que, caso apresentem febre, procurem centros de saúde “imediatamente para diagnóstico clínico” e não banalizem os sintomas ou façam automedicação.
Embora a dengue não tenha um medicamento específico, há uma série de medidas clínicas que podem evitar o agramento e óbito, se feitas a tempo. Por isso, é preciso ficar atento aos sinais de alarme. São eles:
Dor abdominal;
Muitos vômitos;
Algum sinal de sangramento (gengiva, por exemplo);
Menstruação em maior volume, no caso das mulheres;
Sensação de desmaio
Orientações à população
🌡️ A dengue causa febre alta e repentina, dores no corpo, manchas vermelhas na pele, vômito e diarreia, resultando em desidratação.
🚨 Ao apresentar algum desses sintomas, o morador deve procurar uma das unidades de saúde da cidade para atendimento médico, segundo a Secretaria de Saúde.
Algumas medidas de prevenção são:
Utilize telas de proteção com buracos de, no máximo, 1,5 milímetros nas janelas de casa;
Deixe as portas e janelas fechadas, principalmente nos períodos do nascer e do pôr do sol;
Mantenha o terreno limpo e livre de materiais ou entulhos que possam ser criadouros;
Tampe os tonéis e caixas d’água;
Mantenha as calhas limpas;
Deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo;
Mantenha lixeiras bem tampadas;
Deixe ralos limpos e com aplicação de tela;
Limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia;
Limpe com escova ou bucha os potes de água para animais;
Limpe todos os acessórios de decoração que ficam fora de casa e evite o acúmulo de água em pneus e calhas;
Coloque repelentes elétricos próximos às janelas (o uso é contraindicado para pessoas alérgicas);
Velas ou difusores de essência de citronela também podem ser usados;
Evite produtos de higiene com perfume porque podem atrair insetos;
Retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa.
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