Defesa Civil diz que ventania pode ter chegado a 100 km/h em SP apesar de estações terem captado máxima de 60


Temporal deixou um taxista morto, 330 árvores caídas e mais de 170 mil imóveis sem energia nesta quarta-feira (12). Árvores caídas na Avenida Ipiranga com a Consolação, na região do centro de São Paulo, nesta quinta.
LECO VIANA/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
A cidade de São Paulo registrou rajadas de vento de 61 km/h durante a forte chuva na tarde de quarta-feira (12), segundo informações divulgadas pela Defesa Civil do estado. A medição foi realizada pela estação meteorológica da Força Aérea Brasileira (FAB) no Campo de Marte, na Zona Norte.
O temporal causou grandes estragos, resultando na morte de um taxista, na queda de 330 árvores e na interrupção do fornecimento de energia para mais de 170 mil imóveis. Além disso, toda a cidade ficou em estado de atenção para alagamentos, de acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da prefeitura. (Leia mais aqui.)
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Na avaliação da Defesa Civil, provavelmente os ventos foram mais intensos do que o valor registrado na estação da FAB em razão da quantidade de árvores, especialmente de grande porte, derrubadas. Com cerca de 200 anos e 30 metros de altura, a terceira árvore mais antiga da capital — um chichá da Mata Atlântica — também chegou a cair durante o temporal.
Pela Escala de Beaufort, que classifica a intensidade dos ventos, os danos ocorridos indicam a categoria 10, ou seja, com ventos entre 87km/h a 101 Km/h, de acordo com a Defesa Civil.
➡️ Momentos antes do temporal acontecer, a capital também ganhou, pelo 4° ano seguido, um prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) de preservação adequada e manejo sustentável de árvores e florestas urbanas do município.
Em entrevista à TV Globo, o porta-voz da Defesa Civil, o tenente Maxwel de Souza, explicou que um evento de 60 km/k não tem a velocidade suficiente para provocar os estragos registrados na cidade. Contudo, ele ponderou que é necessário avaliar outros fatores como a quantidade de chuva absorvida e a saúde da árvore.
“Estima-se que a árvore pode dobrar e até triplicar de peso com a chuva que ela vai absorvendo. Então isso é um fator preponderante também para ela caiar. Ela vai absorvendo aquela água, vai aumentando de peso, pode até envergar dependendo do peso. Somado ao vento, ela realmente cai. Agora de fato, 60 km/h pela nossa experiência não é um vento suficiente para fazer todo esse estrago”, afirmou o tenente.
Porta voz da Defesa Civil de SP faz balanço da chuva que deixou estragos nesta quarta (12)
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Por que tantas árvores caem em São Paulo?
Para especialistas, mais do que uma fatalidade, este cenário é um problema histórico, consequência de uma soma de fatores, e que atravessa várias gestões da Prefeitura de São Paulo e de outras prefeituras da região metropolitana. São eles:
Calçadas estreitas para árvores grandes;
Árvores “doentes”, com cupins ou fungos;
Podas mal realizadas;
Falta de acompanhamento da flora da cidade;
Ventos e chuvas fortes.
Para o pesquisador do Laboratório de Árvores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Sergio Brazolin, em entrevista ao g1 em novembro de 2020, o problema começou no início da arborização da cidade, 70, 80 anos atrás, sem planejamento entre o tamanho e espécie da árvore e a calçada que a abrigaria.
“É muito comum andar pela cidade e ver árvores enormes, de 15, 20 metros de altura, com calçadas pequenas. É uma gigante de pé pequeno”, aponta Brazolin. Hoje, os novos plantios seguem as regras estabelecidas pelo Manual Técnico de Arborização Urbana, da Prefeitura de São Paulo, desenvolvido para evitar tais discrepâncias.
Árvore centenária do Largo do Arouche cai durante chuva nesta quarta-feira (12) em SP
Arquivo Pessoal
O biólogo também lembrou que as árvores são seres vivos. Logo, também ficam doentes: “Cupins, apodrecimento, o que é natural de um ser vivo adulto que está ficando velhinho. Quando acontecem esses problemas na árvore, associado ao peso dela, elas vão se fragilizando na sua base”.
Brazolin aponta que a manutenção, com o olhar periódico de um especialista, é uma das questões principais. “Às vezes ela está bonita por fora mas por dentro está oca. Esse manejo é essencial em qualquer cidade”.
Outro fator apontado são as podas mal feitas, que podem desequilibrar a árvore, deixando um lado muito mais pesado que o outro. Os cortes também devem ser feitos nos galhos menores. Quando feito nos grandes, podem causar o alojamento de cupins ou apodrecimento.
Para o botânico e paisagista Ricardo Cardim, também em entrevista em 2020, a fiação elétrica é uma das grandes vilãs das árvores da cidade.
“A fiação elétrica aérea leva a mutilação de grande parte da floresta urbana em São Paulo”, afirma Cardim. O paisagista defende que a fiação deveria ser enterrada. Até hoje, poucos quilômetros, dos mais de 17 mil de cabos que a cidade têm, são enterrados, como a Avenida Paulista e a região do Museu do Ipiranga.
Quando a isso se somam ventos fortes e chuvas intensas, o resultado, segundo ele, pode ser fatal. “Todo verão vemos uma série de problemas com arborização na cidade e tragédias horrorosas como essa por causa de falta de cuidado”, afirma Cardim.
Para os especialistas, não é necessário remover as árvores grandes da cidade, essenciais para a qualidade do ar e para a saúde da população. A solução passa também pelo manejo eficiente dessa população arbórea. Uma das técnicas utilizadas é podar a copa de forma que ela deixe o vento fluir e não atue como um “paredão”.
Botânico fala sobre a ausência de cuidados com as árvores da Cidade de São Paulo
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