O que acordo de cessar-fogo aceito pela Ucrânia revela sobre Trump


O fato de ambos os países terem conseguido progredir após uma reunião tumultuada na Casa Branca sugere que Trump está sempre aberto a novas negociações. Presidente dos EUA, Donald Trump (à direita), e presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Getty Images via BBC
Ainda não é exatamente um grande avanço, pois há pela frente um longo caminho a se percorrer até uma paz duradoura. Mas o acordo de terça-feira (11/03) entre os Estados Unidos e a Ucrânia sobre uma proposta de cessar-fogo temporário na guerra com a Rússia representa uma mudança de rumo notável.
Há apenas uma semana, os EUA suspenderam a ajuda militar e o compartilhamento de inteligência com a Ucrânia após o caótico encontro entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump na Casa Branca poucos dias antes.
O fato de diplomatas americanos e ucranianos terem conseguido melhorar as relações e traçar um caminho mostra como Trump, apesar de sua aparente arrogância e disposição para insultar os outros, sempre parece aberto a novas negociações.
Para o presidente americano, arrogância e intimidação costumam ser parte fundamental do processo de negociação.
Mas uma estratégia que envolve um turbilhão de ameaças e concessões públicas não vem sem riscos — como ficou evidente para mais de 60% dos americanos com investimentos no mercado de ações dos EUA nas últimas semanas.
Os principais índices de ações continuaram caindo na terça-feira depois que Trump intensificou sua guerra de palavras — e tarifas — com o Canadá, o maior parceiro comercial dos EUA.
Em uma postagem agressiva em sua conta no Truth Social, Trump disse que dobraria as tarifas iminentes sobre o aço e o alumínio canadenses em resposta a uma sobretaxa canadense planejada sobre eletricidade destinada aos Estados do norte dos EUA.
Ele repetiu que o Canadá se tornar um Estado dos EUA é a “única coisa que faz sentido”.
O estilo agressivo produziu resultados em poucas horas — o primeiro-ministro de Ontário, Doug Ford, recuou da sobretaxa de energia por enquanto, e então Trump disse que não dobraria mais as tarifas de 25% que entrariam em vigor na quarta-feira (12/03).
Mas a disputa comercial em andamento apagou trilhões de dólares em riqueza do mercado de ações dos EUA. E ainda há a perspectiva de mais tarifas contra o Canadá e outros parceiros comerciais dos EUA no mês que vem.
Enquanto isso, apesar da Ucrânia ter aceitado uma trégua temporária se a Rússia fizer sua parte, ainda não há sinal de um acordo que daria aos EUA uma parte das futuras receitas de mineração da Ucrânia.
Trump deixou claro o quanto quer isso — mas o acordo pode ser um obstáculo no futuro nas negociações de paz na região.
Ainda não há indicação se a Rússia aceitará a proposta de cessar-fogo de 30 dias. Também não está claro o que a equipe de Trump está disposta a fazer para convencer Vladimir Putin a dizer sim.
O mesmo manual de negociações funcionará? Ou Trump terá que encontrar outra ferramenta em seu kit de negociação?
No entanto, há um claro progresso em direção à promessa de Trump — repetida durante grande parte da campanha presidencial do ano passado — de que ele é o líder mundial que pode acabar com a guerra depois de três anos.
Ele escolheu realizar uma estratégia de alto risco, onde o sucesso pode significar paz e prosperidade. O preço do fracasso, no entanto, será medido em vidas perdidas.
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