Transtornos mentais causam cerca de 2,6 mil afastamentos do trabalho no Amazonas em 2024


Dados, obtidos com exclusividade pelo g1, revelam que o afastamento por ansiedade lidera o ranking como a condição de saúde mental que gerou a maior quantidade de concessões no estado. Além da ansiedade, as licenças também foram concedidas devido a outras condições, como depressão, vícios e transtorno bipolar.
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Transtornos mentais causaram cerca de 2,6 mil afastamentos no Amazonas em 2024. Os dados, obtidos com exclusividade pelo g1 junto ao Ministério da Previdência Social, revelam também que as concessões por ansiedade ocupam o topo da lista de doenças que mais geraram benefícios por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença) no estado. Veja a lista abaixo.
➡️ Os dados representam afastamentos do trabalho e não trabalhadores. Isso porque uma pessoa pode tirar mais de uma licença médica no mesmo ano e esse número é contabilizado mais de uma vez.
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No total, o Amazonas registrou 2.603 afastamentos relacionados à saúde mental. Além da ansiedade, as licenças também foram concedidas devido a outras condições, como depressão, vícios e transtorno bipolar.
O burnout, por exemplo, não está na lista. De acordo com os dados do Ministério da Previdênica, no ano passado, foram 4 mil afastamentos por esse motivo em todo o Brasil. Os especialistas explicaram que o número tem relação com a dificuldade do diagnóstico.
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Dor na coluna lidera motivos de afastamento do trabalho em 2024; transtornos mentais têm aumento
Essas doenças foram as principais causas para a concessão de benefícios por incapacidade temporária, um auxílio fornecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) quando o trabalhador precisa se afastar por mais de 15 dias. Para obter o benefício, é necessário passar por uma perícia médica, que atesta qual condição justifica a licença.
O levantamento ainda indica que o estado ocupa a segunda posição na Região Norte em número de afastamentos, ficando apenas atrás do Pará que contabilizou 5.441 concessões.
Os transtornos mentais são multifatoriais e não há uma explicação única para o que está acontecendo. Especialistas ouvidos pelo g1 destacam algumas questões como:
➡️ O luto pós pandemia, que causou mais de 700 mil mortes.
➡️ Estresse emocional após a crise, com anos de isolamento.
➡️ Insegurança financeira com o aumento do custo de vida. De 2020 até 2024, o preço dos alimentos subiu 55%. (Leia mais aqui)
➡️ Aumento da informalidade;
➡️ E o fim de ciclos. Na pandemia, por exemplo, houve um aumento de 16% nas separações.
🗺️ Cenário nacional

O Brasil alcançou uma situação inédita no último ano, de acordo com dados exclusivos do Ministério da Previdência Social. Em 2024, foram concedidas 472.328 licenças médicas devido a transtornos mentais no país. Esse número, quando comparado ao ano anterior, representa um aumento de 68%.
O maior número de licenças está nos estados mais populosos como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Apesar disso, proporcionalmente, quando se considera o número de afastamentos em relação à população, os maiores índices foram registrados no Distrito Federal, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
O afastamento por ansiedade foi a principal condição de saúde mental que gerou a maior quantidade de concessões. Esse transtorno passou a ter um impacto mais significativo nos afastamentos a partir de 2021, como revelou o levantamento do g1.
Com base nos dados do INSS, foi possível traçar um perfil dos trabalhadores atendidos: a maioria é mulher (64%), com idade média de 41 anos, e diagnosticada com quadros de ansiedade e depressão. Essas pessoas ficam afastadas do trabalho por até três meses.
No entanto, não foi possível realizar análises mais detalhadas sobre raça, faixa salarial ou escolaridade, pois essas informações não foram fornecidas pelo instituto.
Crise de saúde mental
A crise levou o governo federal a adotar medidas mais rigorosas, incluindo a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que estabelece diretrizes de saúde no ambiente de trabalho. Com a nova regulamentação, as empresas serão obrigadas, a partir de maio, a implementar medidas preventivas contra assédio, sobrecarga e estresse, equiparando os cuidados com a saúde mental à segurança física, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Para a psicóloga Maria do Carmo Lopes, especialista em Psicologia Organizacional, essa mudança representa um avanço para os trabalhadores.
“A NR-1 traz mais humanização, respeito e valorização do ser humano dentro das empresas. Se o maior capital de uma empresa, que é o ser humano, não estiver bem, certamente essa organização terá dificuldades em honrar seus compromissos e oferecer serviços com qualidade”, destacou.
Com a mudança, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) vai intensificar a fiscalização, especialmente em ambientes de alta pressão, como unidades de saúde, bancos e teleatendimentos.
A fiscalização será feita com base em denúncias enviadas ao Ministério, com inspeções realizadas por auditores-fiscais, que vão verificar o local de trabalho, dados de afastamentos por doenças ou acidentes, rotatividade de funcionários, conversas com trabalhadores e análise de documentos para identificar riscos.
Se forem encontradas situações que justifiquem o adoecimento mental dos trabalhadores, multas de R$ 500 a R$ 6 mil poderão ser aplicadas. O empregador terá ainda um prazo para ajustar as condições de trabalho e evitar novos afastamentos. As ações das empresas serão monitoradas pelo Ministério do Trabalho.
Caso sejam encontrados episódios que justifiquem o adoecimento mental dos trabalhadores, pode ser aplicada uma multa que varia entre R$ 500 a R$ 6 mil por cada situação. Além disso, o empregador vai ter um prazo para ajustar o formato de trabalho e evitar mais afastamentos.
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