‘Estão jogando corpos no mar’: associação alauíta pede intervenção internacional na Síria


Mais de 1.000 pessoas, a maioria civis, aforam mortas em confrontos em região povoada por alauítas, minoria à qual pertencia o ex-ditador Bashar al Assad, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Pessoas protestam contra o assassinato de civis e forças de segurança ligadas aos novos governantes da Síria, em Damasco
REUTERS/Khalil Ashawi
O novo governo da Síria está realizando um massacre da população alauíta e se livrando dos corpos para esconder as evidências dos crimes, afirmou à TV Globo um porta-voz da associação de alauítas da Europa neste domingo (9).
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, que tem sede no Reino Unido e monitora a situação na Síria, foram mortos 745 civis, 125 membros das forças de segurança sírias e 148 combatentes leais ao ex-ditador Bashar al-Assad, deposto em dezembro do ano passado, entre sábado e domingo.
Os crimes ocorreram em uma área de presença da minoria alauíta, à qual pertence Assad, nas províncias de Latakia e Tartous. As autoridades sírias não informaram nenhum número oficial de mortos.
Mert, que está em contato direto com moradores da região, pediu para não mostrar o rosto com medo de ser perseguido.
Segundo ele, o que está acontecendo com seu grupo religioso é uma limpeza étnica promovida por um governo extremista. Ele pediu intervenção internacional no país.
“Eles estão atirando os corpos, ou queimando, porque eles querem mostrar que nada aconteceu”, diz ele. “Precisamos de intervenção internacional. Isso é realmente importante, porque está acontecendo uma limpeza étnica. É um genocídio.”
“Eu não sou responsável por definir o que é genocídio ou não. Mas se a motivação por trás disso são apenas suas crenças – e há evidências suficientes disso –, então, na minha opinião, é um genocídio”, acrescenta Mert.
Segundo ele, há corpos nas ruas na região, mas os alauítas também estão sendo mortos dentro de suas casas, e seus pertences .
Atual governo é extremista, diz representante alauíta
Mert diz que o atual governo é, na verdade, um regime extremista do HTS, grupo de insurgentes que derrubou Assad no ano passado e que já foi comandado pelo atual líder sírio, Ahmad Al-Sharaa.
“Ele não foi eleito. Ele disse que a Síria estará pronta para uma eleição daqui a quatro anos. Isso significa que serão quatro anos de limpeza étnica”, afirma Mert.
Ele diz que os alauítas têm alertado os europeus e a comunidade internacional sobre os perigos de legitimar grupos extremistas. “Por favor, fiquem atentos, porque eles são islamistas. Não trabalhem com eles. Nós os conhecemos, da história. Eles irão massacrar não só a gente, mas todas as minorias.”
Onda de violência na Síria é a pior em três meses
Líder sírio diz que punirá envolvidos em massacres
Ahmad al Sharaa afirmou neste domingo (9) que uma comissão independente investigará os massacres de civis. Segundo ele, os responsáveis pelo “derramamento de sangue” serão responsabilizados e punidos.
Ele anunciou a formação de uma “comissão de investigação independente” sobre as “violações contra os civis” para identificar os responsáveis e levá-los aos tribunais.
“Nós responsabilizaremos, com total determinação, qualquer um que esteja envolvido no derramamento de sangue de civis, que maltrate civis, que exceda a autoridade do estado ou explore o poder para ganho pessoal. Ninguém estará acima da lei”, afirmou Sharaa em um discurso transmitido em rede nacional.
Os relatos de assassinatos de civis repercutiu na comunidade internacional. Também neste domingo, Estados Unidos e Rússia pediram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma reunião a portas fechadas na segunda-feira (10) por causa da escalada da violência no país.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, pediu às autoridades sírias que responsabilizem os “terroristas islâmicos radicais”.
No Reino Unido, o ministro das Relações Exteriores, David Lammy, também se manifestou e disse que os relatos de mortes generalizadas de civis nas regiões costeiras da Síria são “horríveis”, pedindo às autoridades de Damasco que garantam que todos os sírios sejam protegidos da violência.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que as mortes de civis “devem cessar imediatamente”, enquanto a Alemanha pediu “veementemente a todas as partes que ponham fim à violência”.
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