Venvanse: como age e quais os riscos do remédio? ‘Não é uma molécula inofensiva’, alerta psiquiatra


Remédio é indicado para tratar transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e compulsão alimentar.
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O remédio Venvanse pode oferecer sérios riscos à saúde, como problemas neurológicos e cardíacos, se não for tomado conforme a prescrição médica.
Indicado para tratar transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e compulsão alimentar, é usado muitas vezes como um estimulante por quem quer ter mais disposição e energia – mesmo por quem não tem esse diagnóstico.
💊 O Venvanse (lisdexamfetamina) é um medicamento derivado da anfetamina, um estimulante do sistema nervoso central e psicoestimulante.
“A molécula aumenta muito a dopamina, que é um neurotransmissor ligado ao bem-estar e recompensa. Ela atua diretamente na sensação de recompensa, trazendo bastante vigor, disposição e energia”, explica a psiquiatra Anny de Mattos Barroso Maciel, especialista em transtornos alimentares pela USP e terapeuta interpessoal pela Unifesp.
Referência em neurociência, neuropsicologia e em terapia cognitivo-comportamental, a psiquiatra Nina Ferreira ressalta que a lisdexamfetamina faz com que aumente a disponibilidade dos neurotransmissores noradrenalina e dopamina no cérebro.
“É como se fosse um super funcionamento do cérebro. No entanto, esses neurotransmissores em excesso são bem danosos para o cérebro e para o corpo como um todo.” – Nina Ferreira, psiquiatra
Uso do Venvanse
A psiquiatra Anny Maciel alerta que o Venvanse não costuma ser a primeira opção de tratamento para tratar déficit de atenção justamente por ser muito potente.
“Começamos com medicações de menos potência, como o metilfenidato (ritalina). Vamos da menos potente até a mais potente. Além disso, também damos ‘feriado’ da medicação. Ou seja, quando o paciente não é muito cobrado, quando não tem período de provas, por exemplo, ele não precisa usar”, completa a psiquiatra.
Também é preciso ficar atento às contraindicações, como:
paciente com histórico de hipertensão recente, crise hipertensiva;
paciente com doença com aterosclerose, com endurecimento das artérias;
paciente que tem sensibilidade à molécula;
paciente com histórias de abuso de substâncias;
paciente com histórico de depressão grave;
e alterações na tireoide, como hipertireoidismo.
“Ela não é uma molécula inofensiva. Ela melhora muito o desempenho, a resposta cognitiva e até sintomas de ansiedade secundários. Quando o paciente tem indicação, realmente melhora a hiperatividade. Mas essa medicação deve ser usada sempre com acompanhamento médico”, alerta Anny Maciel.
E quem usa sem indicação?
Os riscos vão depender muito de cada organismo e da predisposição de cada pessoa, segundo Nina Ferreira.
“Como qualquer medicação, o uso sem indicação traz uma série de riscos. Pode causar aumento de pressão arterial, disfunção do ritmo cardíaco e lesão cerebral porque pode exceder o tanto de neurotransmissor necessário no cérebro, risco de dependência da medicação. Esses são os riscos mais comuns, mas vai depender de cada pessoa”, alerta a psiquiatra.
🚨 E o risco de morte é real, adverte. “É uma medicação que tomada em excesso ou sem indicação, sem uma avaliação médica, sem monitorização dos exames, pode sim colocar a vida da pessoa em risco. Sem contar as lesões no cérebro, no organismo como um todo”.
➡️ A psiquiatra lembra que o medicamento é excelente e seguro, quando bem indicado.
Risco de dependência
As psiquiatras ouvidas pelo g1 alertam que o medicamento pode causar dependência química. Por isso, o acompanhamento médico é EXTREMAMENTE necessário.
Christiane Ribeiro, psiquiatra e integrante da Comissão de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que o Venvanse acaba criando uma tolerância, que faz com que a pessoa precise de doses cada vez maiores para ter o mesmo efeito.
“A gente sabe que as doses mais altas de anfetaminas podem agir levando a um quadro de rabdomiólise (uma quebra do nosso músculo), pode levar a hepatite. Pode levar inclusive a diminuição da memória, da atenção – um efeito contrário ao que a pessoa quer. Além disso, pode levar a sintomas de abstinência, a pessoa passa a ter sonolência excessiva se ela não usa a medicação”, diz.
“O aumento (da dosagem) pode levar a uma sobrecarga cardíaca. Pacientes que já tenham quadro de pressão alta não podem nem pensar em utilizar esse medicamento, porque ele aumenta os batimentos, aumenta a pressão arterial. Quem abusa dessas drogas também pode ter problemas cardiovasculares”, completa Christiane Ribeiro, que é Mestre em Medicina Molecular pela UFMG.
Diagnóstico de TDAH nas redes sociais
Se você costuma usar as redes sociais, talvez já tenha sido impactado com alguma frase-diagnóstico de TDAH. “Toda criança que não para quieta tem TDAH” ou “as pessoas com TDAH são mais competitivas” são alguns dos diagnósticos feitos por internautas.
O g1 alertou sobre os riscos de autodiagnosticar pela internet. Segundo os especialistas, se você se guiar só pelas redes sociais, é capaz de concluir que tem o distúrbio – e correr o risco de se automedicar, ficar mais ansioso ou acreditar em tratamentos ineficazes.
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