Suicídio forjado: prefeito de SC teve morte semelhante à de Rubens Paiva em ‘Ainda Estou Aqui’

Higino João Pio, primeiro prefeito de Balneário Camboriú, entre 1965 e 1969, foi um dos dez políticos de Santa Catarina mortos ou desaparecidos durante a ditadura militar do Brasil (1964-1985). Nascido em Itapema, cidade vizinha no Litoral Norte catarinense, Pio foi o único morto em território catarinense.

Conheça a história de Higino Pio, prefeito de SC morto pela ditadura militar – Foto: Daniel Queiroz/Arquivo/ND

Conforme o relatório final da Comissão Estadual da Verdade, de 2014, outros cinco políticos morreram em outros estados do Brasil, além de um no Chile. Três seguem desaparecidos, e as famílias ainda buscam por respostas.

‘Ainda Estou Aqui’ traz mortes pela ditadura militar à memória

O filme vencedor do Oscar “Ainda Estou Aqui” trouxe à memória dos brasileiros a história de Rubens Paiva, ex-deputado, preso em 1971 e morto por violência praticada pelo Estado.

No dia 24 de janeiro, a certidão de óbito do ex-político foi oficialmente corrigida. O novo documento destaca morte “violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964“.

De forma semelhante, nesta segunda-feira (3), a morte de Higino completou 56 anos. Ao ND Mais, Júlio César Pio, seu filho, conta que a família aguarda o atestado de óbito atualizado, com o real motivo de sua morte.

‘Ainda Estou Aqui’ traz morte de Rubens Paiva pela ditadura à memória – Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução/ND

Higino Pio teve suicídio forjado em 1969

Higino Pio foi preso em fevereiro de 1969 e morreu em 3 de março do mesmo ano, sob custódia do Estado. A versão oficial da época alegou suicídio por enforcamento, mas perícias posteriores apontaram para homicídio por estrangulamento. As informações são da Comissão da Verdade.

Ainda de acordo com o documento, a prisão aconteceu em uma quarta-feira de cinzas e foi realizada pela Polícia Federal. Juntamente com ele foram outros funcionários da prefeitura. Higino permaneceu incomunicável após ser levado à Escola de Aprendizes de Marinheiros, em Florianópolis. Os demais funcionários da prefeitura foram soltos depois do depoimento.

Júlio Cesar Pio, filho de Higino Pio, tinha 14 anos quando o pai morreu – Foto: Daniel Queiroz/Arquivo/ND

Conforme a Comissão da Verdade, a versão oficial apontava a causa da morte como asfixia por enforcamento, sem equimoses ou escoriações no corpo. A versão foi contestada por evidências de hematomas.

O documento da Comissão da Verdade explica que a rigidez do corpo no exame do local indica o horário da morte entre meia-noite e uma hora da madrugada. A conclusão do relatório da perícia é de homicídio por estrangulamento, com o corpo colocado no local após a morte.

Filho de Higino Pio fala ao ND Mais

Ao portal ND Mais, Júlio César, filho de Higino, contou que, além de político, o pai trabalhou como empresário e hoteleiro. Ele e o restante da família, até hoje, não sabem o que aconteceu, e aguardam respostas.

“É difícil para a gente. Hoje vemos que as pessoas só falam bem dele. Ele ajudava os pobres, só pensava no bem das pessoas. Como prefeito, é responsável pelas principais avenidas, construiu mais de 200 casas e não cobrou às famílias, construiu muitas escolas”, disse Júlio. Ele enfatiza a inocência do pai e diz não saber quem fez a denúncia política.

Higino Pio, entre o deputado estadual Nilton Kucker e o governador Ivo Silveira – Foto: Reprodução/ND

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