De ocupação irregular a falta de obras: entenda por que enchentes do Rio Capivari atravessam décadas sem solução


Em uma das áreas mais críticas da cidade, a Agência PCJ propõe a construção de diques próximos do rio para evitar que a água saia e invada as residências. Enchentes em Capivari persistem há mais de 10 anos na cidade
As inundações provocadas pela cheia do Rio Capivari, em Capivari (SP), afetam os moradores da cidade desde a década de 1970. Localização da cidade, ocupações irregulares e falta de obras estão entre os motivos da falta de solução para o problema.
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O Rio Capivari nasce em Jundiaí (SP). A cidade que leva o nome do rio é a mais plana e a mais próxima da foz, que fica em Tietê (SP). Além do município ser cortado pelo rio e outros ribeirões, ele recebe todo o volume de chuva que cai em outras cidades da região, como Campinas (SP).
Essas condições do território, em conjunto com a ocupação de área de preservação permanente (APP) às margens do rio, ampliaram os estragos causados pelas enchentes.
A Agência PCJ, responsável pelas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, aponta que, se o nível do Rio Capivari estiver baixo, o volume de chuva que cai em Campinas tem potencial para inundar o município de Capivari em 12 horas.
O lixo que fica nas margens vai para a água, o que reduz a calha e também aumenta a inundação local.
Vias alagadas em Capivari
Reprodução/ EPTV
Ocupação de APP
A cidade conta com 1.200 casas em área de risco, perto do leito do Rio Capivari. Pela lei atual, as casas estão irregulares por ocuparem a APP, informou Sérgio Razera, diretor presidente da Agência das Bacias PCJ.
“Ela [APP] não pode ter impermeabilização de jeito nenhum […] A prefeitura deveria tirar [as residências], deveria cuidar disso”, alerta Razera.
O prefeito de Capivari, Vitor Riccomini (PL), afirmou que as famílias afetadas pelas enchentes recorrentes do Rio Capivari ocuparam o local quando a legislação permitia a construção.
“Inclusive, com direito a matrícula e pagam os impostos”, afirma o chefe do Executivo.
Barco atravessa área inundada em Capivari
Reprodução/ EPTV
De acordo com o prefeito, o problema não foi resolvido por conta do território e por questões financeiras.
“O rio e os córregos passam na área urbana. O volume [financeiro] que o município precisaria para desapropriar todas essas residências e comércio é um volume que o município não seria capaz [de arcar]”, acrescenta Riccomini.
Mudanças climáticas
A atual gestão, que está no segundo mandato, apostou no desassoreamento do rio e de dois ribeirões afluentes. A ação resultou na retirada de três mil toneladas de lodo. Mas a inundação voltou em 2025.
“O desassoreamento era um pleito antigo dos moradores. Há três décadas, eles estavam esperando esse serviço. Em parceria com o estado, isso [desassoreamento] mitigou e muito a problemática com as cheias. O que não deu certo são as mudanças climáticas. Elas estão cada vez mais causando estragos no mundo e no Brasil”, informa o chefe do Executivo.
Morador em rua inundada durante cheia do Rio Capivari, em Capivari
Reprodução/ EPTV
Plano é requisito para pleitear recursos
A Agência PCJ investiu em um estudo nos 15 municípios em que o rio passa. O plano de macrodegrangem teve investimentos superior a R$ 1 milhão e foi entregue aos municípios.
Agora, Capivari e outras cidades precisam enviar um plano detalhado das obras necessárias para conter as enchentes. Com isso, é possível pleitear recursos financeiros nos governos estadual e federal, apontou o presidente do PCJ.
No caso do bairro Moreto, em Capivari, o plano feito pela Agência PCJ propôs a construção de diques próximos do rio para evitar que a água saia e invada as residências.
“Seria como um muro. Alguns trechos seriam de concreto e outros de terra com revestimento […] Cada trecho estudado foi pensado um tipo de solução”, explica Sérgio Razera.
O prefeito de Capivari informou que o município já fez o pedido do projeto ao PCJ e que, agora, tem pleiteado um estudo local sobre a macro e microdrenagem. Mas não informou datas de quando os estudos estarão prontos.
Moradores relatam transtornos
Enquanto isso, moradores têm que lidar com os riscos à saúde física, mental e financeiros ao passarem por enchentes recorrentes.
“Todo ano tem cheia. A gente já não sabe o que faz mais. Esse ano [2025] já é a segunda enchente”, afirma a moradora Telma Pereira, que mora há 11 anos no bairro Moreto.
“Tô fazendo uma limpeza. Perdi guarda roupa, estante, colchão, sofá nessa enchente. Mas na outra [enchente] eu perdi mais. Toda vez que chove, dá as enchentes e a gente perde tudo”, conta Américo da Silva, auxiliar de serviços gerais e morador do bairro há 16 anos.
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