Controle de pragas: cientistas desenvolvem técnicas para tornar sexo mortal para insetos 

Alguns insetos são considerados verdadeiras pragas, causando estragos na agricultura e até espalhando doenças que afetam milhares de pessoas anualmente. Com objetivo de controlar esses danos, cientistas estão desenvolvendo machos que tornam o sexo um evento mortal.

Mosquito visto de perto pousado em cima de folha

Controle de pragas: cientistas desenvolvem técnicas para tornar sexo mortal para insetos – Foto: Divulgação/ Departamento de Ciências Cognitivas e do Cérebro do MIT/ND

Conforme informações do R7, estima-se que os mosquitos causaram a morte de 52 bilhões de pessoas ao longo da história, quase metade de todos os seres humanos que já viveram.

Já na economia, em relação à agricultura, a ONU (Organização das Nações Unidas) estima que 20% a 40% da produção agrícola global é perdida anualmente para as pragas, a um custo de US$ 70 bilhões.

Engenharia genética busca controlar pragas com sexo mortal

No decorrer dos anos, pesticidas foram desenvolvidos para ajudar no combate aos insetos. Contudo, eles acabaram criando resistência, o que leva à busca por novas técnicas de combate, que também sejam menos maléficas à saúde humana e animal.

A fim de evitar os problemas causados pelo uso de produtos químicos, pesquisadores desenvolveram novas abordagens que alteram geneticamente os próprios insetos. Por meio da engenharia genética, eles podem causar o colapso da população ou torná-los incapazes de transmitir doenças. Essa estratégia é chamada biocontrole genético.

Conforme o autor Bill Sullivan, o objetivo é suprimir uma população de insetos inundando-a com machos estéreis existe há décadas. Desde década de 1950, os cientistas têm usado radiação para criar mosquitos machos inférteis.

Ao acasalar com as fêmeas, esses machos não produzem descendentes. Como as fêmeas estão envolvidas em um grande número de acasalamentos improdutivos, a população geral tende a diminuir.

Nos últimos 20 anos, a engenharia genética tem sido usada para introduzir genes letais dominantes em populações de insetos. Os escendentes de machos geneticamente modificados herdam um gene que os mata antes de atingirem a idade reprodutiva.

No Brasil, um teste feito em campo constatou que a estratégia reduziu a população de mosquitos alvo em até 95%. Outra abordagem envolve a liberação de insetos geneticamente modificados para serem portadores pobres de patógenos que causam doenças.

Inseto com rabo em formato de tesoura destruindo plantação

Técnicas de engenharia genética como o sexo mortal são desenvolvidas para controlar pragas – Foto: Getty Images/ND

Mesmo com avanços significativos, o biocontrole genético leva tempo até funcionar, o que causa certa aflição no método. É preciso que ao menos uma geração nasça antes do início da supressão da população.

Com isso, as fêmeas de insetos continuam a ser vetores de doenças ou pragas agrícolas até que tenham uma morte natural.

Produção de sêmen venenoso gera sexo mortal

Na busca por um método mais rápido, os biólogos Samuel Beach e Maciej Maselko da Universidade Macquarie, na Austrália, investiram na engenharia genética de insetos machos para produzir sêmen venenoso. Por meio dele, a fêmea morreria rapidamente, reduzindo a população mais rápido do que os métodos de biocontrole anteriores.

Na pesquisa, foram usadas moscas-das-frutas chamadas Drosophila melanogaster, insetos fáceis de modificar geneticamente.

Os pesquisadores transferiram os genes do veneno da aranha errante brasileira (Phoneutria nigriventer) e da anêmona do mar Mediterrâneo (Anemonia sulcata) para os genomas das moscas-das-frutas.

A mosca geneticamente modificada produz e armazena proteínas de veneno em sua glândula acessória masculina, a próstata da mosca, juntamente com outras proteínas do fluido seminal.

Sexo mortal: mosca vista em zoom in em cima de mesa

Pragas como os mosquitos causam milhares de mortes por ano e podem ser combatidos por meio do sexo mortal – Foto: Wikipedia/ND

Depois do acasalamento, ela deposita o sêmen venenoso no trato reprodutivo da fêmea. No estudo, os pesquisadores chamaram essa abordagem de técnica do “macho tóxico”

Nele, foi constatado que o tempo de vida das moscas fêmeas que se acasalaram com machos tóxicos diminuiu em até 64%. Uma simulação computadorizada da técnica do macho tóxico para o Aedes aegypti previu que a abordagem poderia funcionar melhor do que os métodos utilizados atualmente.

Apesar de uma ideia inovadora, os cientistas ainda enfrentam alguns desafios na técnica do macho tóxico.

Quais desafios precisam ser superados

Até o momento, só foi confirmado que a técnica funciona em moscas-das-frutas, sendo necessário identificar se será eficaz em outras espécies de pragas ou insetos.

A técnica reduziu o tempo de vida da fêmea em apenas 37% a 64%. Para melhorar a taxa de mortalidade, os pesquisadores sugeriram que outras formulações de veneno poderiam funcionar melhor.

A sugestão é que pesquisadores possam experimentar milhares de genes de veneno de aranhas, cobras, escorpiões e centopeias. Cada novo veneno experimentado exigirá testes para garantir que os machos modificados os tolerem. Caso ficarem fracos, os machos não modificados poderão competir com eles pelas oportunidades de acasalamento.

Outra questão são os custos, pois a técnica pode ser muito cara para ser implementada em países de baixa renda.

 

 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.