Em Florianópolis, Nação Guarani leva legado de carnavalesco para a Nego Quirido

Primeira escola a desfilar na Nego Quirido no Carnaval 2025, a Nação Guarani, de Palhoça, exaltou a ancestralidade indígena e africana, relacionando-a com a natureza e suas divindades. Completando 15 anos, a última parte do desfile fez referências aos sambas históricos da escola, além de homenagear seu fundador, Márcio Schitz, falecido há um mês.

O desfile da Nação Guarani abriu a primeira noite do Carnaval de Florianópolis - Foto: Geovani Martins/ND

O desfile da Nação Guarani abriu a primeira noite do Carnaval de Florianópolis – Foto: Geovani Martins/ND

De acordo com a Comissão Permanente do Carnaval, a escola já deve começar a apuração com perda de pontos. Isso porque a comissão contou apenas 97 integrantes na bateria, sendo que a quantidade mínima, segundo o artigo 4º regulamento do desfile, é de 120 ritmistas.

Samba-enredo

O samba-enredo da Nação Guarani, “Os Filhos do Tambor – Espíritos Indígenas, Mensageiros dos Orixás”, celebrou as tradições e forças espirituais das culturas dos povos nativos e afro-brasileiros, evocando os elementos místicos e sagrados da natureza e invocando espíritos ancestrais e dos orixás, como Xangô e Obatalá.

Enaltecendo a conexão com a terra, as florestas e os ritmos sagrados, o samba-enredo fez uma reverência à sabedoria ancestral e à energia vital que se manifesta na natureza.

Além disso, o enredo também fez um convite à celebração do Carnaval como um momento de resistência e afirmação cultural, sendo um espaço onde a energia coletiva se renova e se fortalece. A importância das raízes e das tradições no cotidiano é exaltada através da alegria de um povo que, ao longo dos anos, mantém vivas suas histórias e suas crenças.

Alas e setores

Comandado pela carnavalesca Kika Rosa, o desfile da Nação Guarani foi dividido em três setores:

  • Primeiro setor: “A Dança dos Espíritos”
  • Segundo setor: “Os Orixás”
  • Terceiro setor: “Festa da União”

No primeiro setor, a Comissão de Frente liderou o desfile fazendo o ritual da pajelança, uma prática religiosa que envolve crenças e conhecimentos de ervas, uma tradição de povos indígenas. Os dançarinos, caracterizados com trajes típicos dos nativos, coreografavam um rito de magia

Já o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira veio puxando as seis alas do primeiro setor – com quatro delas homenageando os elementos da natureza (ar, água, terra e fogo), além de outras duas evocando as ancestralidades indígena e africana.

“Esse tema foi obra do Márcio Schitz, um dos fundadores da escola, que infelizmente nos deixou há pouco tempo. Então a gente faz o melhor para representar bem esse enredo desse nosso grande carnavalesco e fundador da escola”, afirmou o presidente da Nação Guarani, Lui Vandré.

Comissão de frente trouxe a Pajelança: uma prática religiosa que envolve rituais, crenças e conhecimentos de ervas, uma tradição dos povos indígenas - Foto: Antonio C Mafalda/ND

Comissão de frente trouxe a Pajelança: uma prática religiosa que envolve rituais, crenças e conhecimentos de ervas, uma tradição dos povos indígenas – Foto: Mafalda Press/ND

O branco do ar, o vermelho do fogo, o azul da água e o verde da terra coloriram a passarela durante a primeira parte. Logo atrás, os ancestrais indígenas e africanos acompanhavam os quatro elementos, fazendo a união entre a espiritualidade e a natureza.

O segundo setor contou com oito alas homenageando os orixás, as divindades naturais presentes em religiões de matriz africana. Oxalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Oxumaré, Obaluaê e Iansã tiveram uma ala dedicada a cada um.

Além deles, teve também a ala da Ibeijada, composta inteiramente por crianças –  Ibeijada são espíritos de crianças que “baixam” nos médiuns.

Abrindo os caminhos, entrou o primeiro carro alegórico, que se destacou na passarela por, além das cores vibrantes, trazer uma grande estátua de um indígena que movimentava as suas mãos, como se tocasse um tambor. Apesar do veículo balançar bastante, os dançarinos que estavam em cima dele não pararam por um minuto.


Primeiro carro da Nação Guarani – Vídeo: Júlia Reis/ND

Ainda, o setor trouxe a corte com a Rainha e as Princesas da escola. A Rainha da Nação Guarani representou Iemanjá, enquanto as 1ª e 2ª Princesas simbolizaram Nanã Buruquê e Oxum.

Já as Rainhas de Bateria, tanto mirim quanto adulta, simbolizaram a pombagira Maria Navalha, enquanto a Bateria reproduziu a entidade Zé Pilintra.

Bateria da Nação Guarani entrou vestida de Zé Pilintra - Foto: Geovani Martins/ND

Bateria da Nação Guarani entrou vestida de Zé Pilintra – Foto: Geovani Martins/ND

As dificuldades na preparação para o desfile, como o orçamento limitado e o tempo reduzido, não impediram que a Rainha de Bateria, Camila da Rosa, tivesse um sorriso no rosto.

“Muito perrengue, meu Deus do céu. Foram dias e noites sem dormir, de sair virada, ir trabalhar e voltar de novo no barracão. A minha roupa fui eu que fiz. Eu estava um pouco em casa fazendo a minha, um pouco no barracão ajudando nas outras fantasias, mas no fim deu tudo certo e está tudo lindo”, exaltou Camila, tentando segurar a emoção.

À frente da bateria da Nação Guarani, Camila da Rosa interpreta a pombagira Maria Navalha – Foto: Mafalda Press/ND

Por último, entrou o setor da “Festa da União”, que celebrou os 15 anos da Nação Guarani, fundada em 2010. Foram mais nove alas, com cinco delas homenageando os principais sambas-enredo apresentados pela escola nos anos anteriores, juntamente com as alas dos amigos, da Velha Guarda e da diretoria.

Na última parte, entrou o segundo carro alegórico, que homenageou os 15 anos da escola. Atrás dele, as alas que relembravam os sambas-enredo antigos prosseguiam com o samba no pé e na ponta da língua.

A parte de trás da alegoria trouxe uma homenagem a Márcio José Schitz, que morreu no dia 16 de janeiro deste ano.

Segundo carro da Nação Guarani – Vídeo: Júlia Reis/ND

A escola encerrou o desfile no limite, faltando apenas dois segundos para fechar uma hora e dez minutos.

Veja mais fotos do desfile da Nação Guarani

Comissão de frente trouxe a Pajelança: uma prática religiosa que envolve rituais, crenças e conhecimentos de ervas, uma tradição dos povos indígenas e - Divulgação/Mafalda Press/ND

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Comissão de frente trouxe a Pajelança: uma prática religiosa que envolve rituais, crenças e conhecimentos de ervas, uma tradição dos povos indígenas e – Divulgação/Mafalda Press/ND

Casal de cidadãos samba interpretaram as manifestações artísticas dos ancestrais africanos e indígenas - Divulgação/Mafalda Press/ND

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Casal de cidadãos samba interpretaram as manifestações artísticas dos ancestrais africanos e indígenas – Divulgação/Mafalda Press/ND

Ala das crianças representou a Ibeijada - Geovani Martins/ND

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Ala das crianças representou a Ibeijada – Geovani Martins/ND

A inclusão de pessoas com deficiência foi uma das marcas do desfile da Nação Guarani - Geovani Martins/ND

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A inclusão de pessoas com deficiência foi uma das marcas do desfile da Nação Guarani – Geovani Martins/ND

A ala das passistas representou Iansã, divindade das religiões afro-brasileiras e da mitologia iorubá associada aos ventos e às águas - Geovani Martins/ND

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A ala das passistas representou Iansã, divindade das religiões afro-brasileiras e da mitologia iorubá associada aos ventos e às águas – Geovani Martins/ND

Sempre presente, a ala das baianas homenageou Oxalá, divindade africana divindade da razão e da sabedoria - Geovani Martins/ND

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Sempre presente, a ala das baianas homenageou Oxalá, divindade africana divindade da razão e da sabedoria – Geovani Martins/ND

Estrutura da primeira alegoria balançou bastante enquanto era empurrada, mas isso não tirou o samba do pé dos dançarinos - Geovani Martins/ND

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Estrutura da primeira alegoria balançou bastante enquanto era empurrada, mas isso não tirou o samba do pé dos dançarinos – Geovani Martins/ND

Sobre a Nação Guarani

A Nação Guarani foi fundada em 15 de dezembro de 2010, a partir da união de blocos de Palhoça e com a ideia do carnavalesco Márcio Shutz. O nome homenageia os povos indígenas Guarani e suas cores representam a diversidade.

Em 2015, a escola foi campeã do Grupo de Acesso, subindo para o Grupo Especial em 2016, divisão em que permanece desde então. Além de desfiles, realiza projetos culturais e sociais na comunidade. A sede da Nação Guarani fica no bairro Caminho Novo, a 2 km do Centro de Palhoça.

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