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Recurso do Instagram tem sido usado como meio para ações de lançamentos de projetos e, também, para aproximar artistas de fãs. Artistas usam close friends do Instagram para estratégia de marketing
Criado em 2018, o recurso “Close Friends” ou “Amigos Próximos” do Instagram deixou de ser apenas uma ferramenta para os amigos e vem ganhando status de estratégia de marketing para artistas.
A primeira a usar essa ferramenta foi Billie Eilish. Em abril de 2024 a cantora colocou seus mais de 111 milhões de fãs no “Close friends”. E claro, cada um deles, se sentiu muito especial, porque aparecer ali na bolinha verde gera a sensação de exclusividade e intimidade.
Mas para além disso, também aumenta o engajamento, já que o algoritmo do Instagram entrega primeiro os posts de pessoas com quem o usuário interage com mais frequência e as que te colocam na lista de melhores amigos.
Close Friends de Billie Eilish
Reprodução/Instagram
No caso da Billie, a estratégia foi usada para antecipar o lançamento “Hit Me Hard and Soft”, terceiro álbum de estúdio da cantora. O disco foi lançado um mês após a ação nas redes.
E segundo a Social Blade, plataforma que analisa os dados dos usuários nas redes sociais, com essa estratégia, Billie ganhou quase 10 milhões de novos seguidores só naquele momento.
A cantora mostrou que a estratégia foi bem-sucedida ao usar a psicologia da exclusividade e da conexão pessoal. E abriu o caminho para outros artistas seguirem o exemplo.
Close do Luan
Luan Santana foi a quarta atração da noite de Réveillon no festival Virada Salvador 2025
Joilson Cesar/Ag. Picnews
Na última semana, Luan Santana também adotou a estratégia. No caso do sertanejo, foram poucos posts e a ação foi atrelada à campanha de lançamento da faixa “Aluga-se” do álbum “Ao Vivo na Lua”, gravado em julho de 2024.
Diferentemente de Billie, o cantor sertanejo não adicionou todos os seguidores no “Close friends”.
Mas segundo Yan Lassance, diretor de Marketing digital da LS Music / Luan Santana, a decisão era parte da ação.
“Além de limitações técnicas, realizamos a inclusão somente para parte dos fãs para criar um sentimento ainda maior de exclusividade e gerar uma conversa aquecida nas redes entre seus seguidores, que comentariam sobre estar ou não no ‘Close Friends’ do Luan, além da corrida dos que não foram inclusos para ter acesso aos conteúdos”, explicou Yan em entrevista ao g1.
Segundo Yan, a decisão de quem entrava na lista de melhores amigos ou não foi feita de forma aleatória.
Ele também explicou que a ação foi pontual e que não pretendem fazer novas publicações. Yan ainda celebrou o fato de a estratégia ter batido a meta de mais de 50.000 pré-saves da música, além de o termo “Close do Luan” ter entrado nos Trending Topics.
Proximidade com os fãs
Matheus, dupla de Kauan, aderiu ao Close Friends para aumentar proximidade com fãs
Reprodução/Instagram
Matheus, da dupla com Kauan, também adotou a estratégia do “Close friends”. O cantor sertanejo tem mostrando na plataforma momentos mais pessoais, como sessões de terapia e compartilhamento de conversas com amigos no WhatsApp.
A equipe responsável pelo social media da dupla explicou que só Matheus está fazendo uso da estratégia (Kauan, não) e que a ideia, por enquanto é aumentar o contato com as fãs.
“A motivação é aproximar o artista dos seus fãs, mostrando mais do seu dia a dia, curiosidades, momentos em família, além de conversar e responder alguns fãs. Eventualmente pode ser aliado a algum momento da dupla, como na divulgação de músicas novas”, explicou o time.
Assim como Luan, Matheus também não incluiu todos os fãs de uma vez e tem feito essa inserção de forma gradativa.
Prós e contras
Luan Santana no “Close friends”
Reprodução/Instagram
Para o especialista em mídia sociais e gestão de comunidades Gustavo Lopes, a estratégia de artistas em adotar o “Close friends” é muito interessante porque eles costumam ter a imagem de serem intocáveis.
“Essa coisa de quase semideuses, de que a galera não pensa que conseguiria um dia ter uma interação mínima, mesmo que gerada por uma plataforma que colocasse essas pessoas “em contato” com o ‘Close Friends’ de um desses artistas. Então eu acho que é uma estratégia super legal”, analisa Gustavo.
Ele também afirma que outro foco da estratégia é o clássico boca a boca. As pessoas começam a falar sobre o assunto, comentam com os amigos, a conversa aumenta, e o nome do artista, assim como possíveis projetos, vai se espalhando, e furando a bolha de fãs.
O especialista acha positivo o uso de novas plataformas e exploração de novos formatos para futuras ações. Mas ele destaca dois pontos de atenção: se o “Close friends” ganhar a adesão de muitos artistas, pode ficar uma estratégia bem maçante.
“É igual quando surge uma plataforma nova. Todo mundo acha legal e aí, no terceiro, no quarto dia, as pessoas já não querem interagir tanto assim.”
“Eu acredito que é super interessante fazer coisas novas, mas é preciso tomar cuidado para não fazer coisa repetida e nem ficar repetindo o que os outros estão fazendo”, analisa.
Um segundo ponto seria a questão da exclusividade, para não dar a impressão de ser uma “panelinha”. Isso porque, quem fica de fora, pode ficar chateado.
“Na minha opinião, é melhor colocar todo mundo mesmo, e aí todo mundo vai lá ver. A ação tem até um alcance maior do que deixar essa exclusividade e correr o risco de magoar pessoas”, diz.
“A exclusividade é um gatilho muito legal para usar e já vem sendo usado, não só por artistas e influenciadores, mas também por marcas. Mas tem que ter muita cautela quando o assunto é fã. Porque fã é paixão, fã é amor, fã é a ideia de se sentir especial.”
“Então, da mesma forma que a gente trata as pessoas que são muito especiais para a gente, para manter um relacionamento que seja saudável, o artista tem que tratar o fã como essa pessoa muito especial também. E essa exclusividade às vezes é um terreno muito perigoso para isso.”
Billie Eilish adotou o “Close friends” como estratégia de lançamento para seu terceiro disco, ‘Hit Me Hard and Soft’
Richard Shotwell/Invision/AP