
Nas últimas décadas, a nanotecnologia tornou-se crucial em uma ampla gama de setores, incluindo biomedicina, telecomunicações, energia, computação e indústria aeronáutica. A descoberta de materiais inovadores, como o grafeno e o nióbio, representou um avanço significativo na nanociência, impulsionando importantes inovações tecnológicas neste milênio.

Pesquisas em nanotecnologia têm influência direta em uma sociedade sustentável, por apresentar novas soluções, reduzir o uso de insumos e recursos e contribuir na manufatura de produtos em escala nano – Foto: Germano Rorato/ND
A pesquisa em nanotecnologia tem um impacto direto em uma sociedade sustentável por apresentar novas soluções, além de permitir a redução de utilização de insumos e recursos – como energia e água – e na manufatura de produtos em escala nano, podendo gerar menos resíduos.
O Radar Tecnológico produzido pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e o Sebrae apresentou um panorama do patenteamento de tecnologias relacionadas à nanotecnologia no Brasil nos últimos 20 anos. Foram identificados 12.054 documentos de patentes depositados no Inpi a partir do ano 2000 relacionados à nanotecnologia.
Não tem um número oficial, mas segundo o catarinense Leandro Antunes Berti, presidente honorário da BrasilNano (Associação Brasileira de Nanotecnologia) e conselheiro da Nanotechnology World Association, a expectativa é que existam atualmente cerca de 400 empresas dentro da nanotecnologia no Brasil. Em Santa Catarina, a avaliação é de mais de 100 empresas.

Produtos passam por testes de caracterização e eficácia em laboratório e em campo – Foto: Germano Rorato/ND
Florianópolis, por exemplo, tem se consolidado cada vez mais como um dos principais polos tecnológicos do Brasil, sendo frequentemente comparada a um “Vale do Silício” brasileiro.
A cidade abriga um ecossistema de inovação com inúmeras startups, centros de pesquisa e desenvolvimento, além de empresas de base tecnológica que impulsionam a economia do Estado. Assim, a capital catarinense se tornou um dos principais centros de desenvolvimento de nanotecnologia do país.
Resistências de empreendedores vão de custos à falta de conhecimento
Leandro Antunes Berti diz acreditar que o crescimento da nanotecnologia é notório, porém há dificuldade do próprio empresário de entendê-la como novo negócio.
“O valor seria a palavra certa. Ela tem um valor agregado muito bom, fazer você vender o mesmo produto diferente do teu concorrente. Então é aquele diferencial que vale a pena”, comentou.

Acadêmicos realizam iniciação científica no Laboratório Interdisciplinar para o Desenvolvimento de Nanoestruturas, da UFSC, que é referência em pesquisa, presta consultoria para empresas e capacita profissionais – Foto: Germano Rorato/ND
A opinião de Berti é compartilhada pelo coordenador do Instituto Senai de Inovação em Processamento a Laser, Moisés Teixeira. Ele observa que algumas empresas ainda hesitam em investir na nanotecnologia.
“Por falta de conhecimento, elas acabam acreditando que qualquer tipo de nanotecnologia pode trazer problemas para a saúde, mas não é bem assim. Todos os produtos são exaustivamente testados em laboratórios. Essa é uma barreira que também precisa ser rompida”, acredita Teixeira.
Ele ainda reforça que a resistência vem também do custo para investir em um produto inovador.
“Há o custo da inovação, então algumas empresas ainda têm a tendência de não querer investir para pagar para ver. Ela tem um custo alto, mas o custo-benefício é grande”, conclui.
O que é nanotecnologia?
A nanotecnologia é a aplicação tecnológica realizada em escala nanométrica de estudos e pesquisas capazes de ajudar a criar soluções modernas que potencializam os efeitos nas áreas em que é utilizada.
Ela auxilia a desenvolver materiais, produtos e processos novos para diversas áreas.

Áreas de atuação da nanotecnologia – Foto: Gil Jesus/ND

Escala nanométrica – Foto: Gil Jesus/ND
Referência em inovação, Florianópolis também é polo nanotecnológico
Florianópolis se destaca como o principal polo nacional de nanotecnologia, reunindo centros de pesquisa e inovação de ponta na área. Entre as instituições que contribuem para esse status, a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) abriga o Laboratório Interdisciplinar para o Desenvolvimento de Nanoestruturas, conhecido como Linden.
Este laboratório é uma referência crucial na pesquisa, presta consultoria para empresas e capacitação de profissionais, e faz parte do SisNano (Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias), programa criado e financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Atualmente, são 23 laboratórios associados especializados em nanotecnologias do Linden que trabalham em estreita colaboração com empresas de diversos setores da indústria, que vão do setor têxtil aos fármacos e ao agronegócio.
O professor doutor Dachamir Hotza, coordenador do Linden, explica que um nanômetro é a bilionésima parte de um metro, destacando a magnitude das estruturas que o laboratório estuda.
“São estruturas pelo menos 100 mil vezes menores no seu diâmetro do que um fio de cabelo. São partículas muito pequenas que não conseguimos ver a olho nu, mas com funcionalidade e aplicação amplas e eficazes”, diz.
“Essas tecnologias são muito ativas e conseguem um resultado necessitando menos quantidade, ou seja, são mais sustentáveis, já que exigem menos recursos energéticos e matérias-primas”, conclui.

Dachamir Hotza, coordenador do Linden da UFSC – Foto: Germano Rorato/ND
O Linden desempenha também um papel fundamental para ajudar a diminuir a resistência em relação às nanotecnologias. Como explica Hotza, o laboratório funciona com o trabalho de acadêmicos que, através da iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, se habilitam para seguir no laboratório, caso queiram.
“Muitos deles, talvez a maioria, acabam sendo absorvidos pelas empresas. Essa área é um modelo para o Brasil e concentra o maior número de instituições que trabalham, produzem e se destacam na área há mais de 10 anos”, conclui Hotza.