Pré-eclâmpsia: pesquisas indicam que Covid-19 pode aumentar risco de grávidas desenvolverem a doença


Artigo de pesquisadora da Unicamp, publicado em revista científica, compilou estudos sobre relação entre enfermidades. Cantora Lexa teve pré-eclâmpsia precoce em janeiro.
Pré-eclâmpsia: Covid-19 aumenta risco de grávidas desenvolverem a doença, indicam pesquisa
Um artigo que revisou pesquisas científicas indicou correlações entre os prejuízos causados pela Covid-19 e pela pré-eclâmpsia, doença que é uma das principais causas de morte materna no Brasil.
Uma das pesquisadoras responsáveis pelo artigo é a médica da Unicamp Maria Laura Costa do Nascimento. Segundo ela, pesquisas apontam que a infecção pelo Sars-CoV-2 pode aumentar o risco de grávidas desenvolverem pré-eclâmpsia.
A revisão foi conduzida por pesquisadores da Unicamp em parceria com o Baylor College of Medicine (EUA) e publicada na revista científica American Journal of Reproductive Immunology.
🔍 A pré-eclâmpsia é caracterizada pelo aumento da pressão arterial da mulher durante a gestação, e pode trazer graves danos tanto para a mãe quanto para o bebê. A doença ganhou evidência após a cantora Lexa desenvolver a forma precoce da enfermidade.
Lexa foi internada no fim de janeiro e, na tarde de segunda-feira (10), publicou nas redes sociais que a filha morreu três dias após o parto prematuro. Não há informação de que ela tenha tido Covid-19 durante a gestação.
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Pesquisas sugerem que infecção por COVID-19 podem aumentar em 42% o risco de pré-eclâmpsia.
Divulgação
Quais os riscos?
Professora e pesquisadora da Unicamp, Maria Laura Costa do Nascimento é especialista em doenças do aparelho genital feminino e faz parte de grupos de pesquisa que estudam saúde materna e a relação entre Covid-19 e pré-eclâmpsia.
“A relação entre pré-eclâmpsia e Covid tem sido muito estudada desde o início da pandemia, porque alguns estudos começaram a demonstrar uma maior frequência de pré-eclâmpsia dentre as gestantes que haviam apresentado Covid ou que estavam também com o diagnóstico de Covid”, explica.
E caso ela se enquadre nos fatores de risco para a pré-eclâmpsia, a atenção deve ser redobrada.
A professora conta que existem vários estudos relacionando as duas doenças. Outra revisão, que não foi conduzida pela médica da Unicamp, apontou que o risco de desenvolver pré-eclâmpsia aumenta 42% quando a grávida está com o Covid. Esse artigo comparou resultados de 1,3 mil gestantes com Covid-19 e cerca de 7 mil sem a infecção.
“Existe um risco relativo de 42% a mais de chance de ter pré-eclâmpsia naquelas mulheres que apresentaram infecção por Covid-19 na gestação”, resumiu.
Vacinação
Vacina bivalente contra Covid-19
Leandro Viccari/EPTV
Até agora, as evidências apontam que o aumento do risco de desenvolver a doença ocorre quando a grávida é infectada pelo vírus da Covid durante a gestação.
Ainda não se sabe se existe algum acréscimo de risco nos casos de infecção anterior à gestação, informou Nascimento.
“A recomendação vigente principal que deve ficar para as gestantes é a importância da vacinação. A vacinação mudou completamente a perspectiva no acompanhamento desses casos, diminuindo a mortalidade e a gravidade”, ressalta.
Nascimento também reforça que as mulheres que tiveram infecção por Covid precisam ter acompanhamento no pré-natal com atenção às condições tanto da mãe quanto do bebê.
Atuação do vírus e gravidade
Uma das hipóteses sobre a relação entre as duas doenças está no fato de o vírus Sars-CoV-2, causador da Covid, utilizar uma proteína importante na regulação da pressão arterial para entrar na célula. A redução dessa proteína contribuiria para aumentar o risco da pré-eclâmpsia.
“Uma das ideias vigentes é que a infecção geraria um consumo desses receptores [proteínas], aumentando o risco para o desenvolvimento de pré-eclâmpsia”, fala.
Segundo o estudo, uma paciente que teve Covid em qualquer fase da gravidez terá o risco de desenvolver pré-eclâmpsia aumentado. O quadro se agrava caso a infecção pelo vírus aconteça no terceiro trimestre.
“Os trabalhos mostram também que os desfechos, os resultados dessas mulheres que têm as duas condições são piores, mais desfavoráveis do que com pré-eclâmpsia de maneira isolada”, diz.
Além disso, a professora ressalta que muitas das condições de risco para as duas doenças são semelhantes. Assim, mulheres com obesidade, doenças autoimunes, ou outra comorbidade tem mais risco tanto de uma infecção grave quanto do desenvolvimento de pré-eclâmpsia.
Uma paciente que teve Covid em qualquer fase da gravidez terá o risco de desenvolver pré-eclâmpsia aumentado.
Agência Brasil
Descoberta da relação entre as doenças
Nascimento explica que, durante a pandemia, médicos perceberam que gestantes que haviam apresentado ou que estavam com o diagnóstico de Covid desenvolviam pré-eclâmpsia com mais frequência.
Além disso, as duas condições tem alguma semelhança na apresentação clínica, especialmente na gravidez, pois ambas podem comprometer diversos órgãos. Situação que no início da pandemia, quando ocorriam casos mais graves de ambas as condições, dificultava o diagnóstico.
Descobrir qual era a doença era importante por causa dos procedimentos que seriam feitos.
“Nos casos de Covid grave, a gente tentava dar o suporte respiratório para paciente conseguir superar a infecção. E nos casos de pré-eclâmpsia com gravidade, como na síndrome Help, é preciso resolver a gestação. Ou seja, nos casos de prematuridade extrema, em especial, era fundamental garantir esse diagnóstico diferencial”, conta.
Mas como médico diferencia as duas doenças?
A infecção coronavírus, assim como a pré-eclâmpsia, apresentam quadros semelhantes por envolverem múltiplos órgãos e provocarem inflamações e danos nas camadas internas dos vasos sanguíneos.
Para ajudar no diagnóstico e procedimentos clínicos da pré-eclâmpsia a professora explica que são utilizados dois biomarcadores, proteínas produzidas pela placenta e que podem ser medidas com ajuda do sangue periférico (que circula fora de órgãos vitais).
A recomendação principal que deve ficar para as gestantes é a importância da vacinação contra a Covid-19
Gilson Abreu/AEN
Fatores de risco da pré-eclampsia
Histórico de pré-eclâmpsia numa gravidez prévia, especialmente de maneira precoce antes das 34 semanas de gestação,
Gestações múltiplas,
Gêmeos,
Obesidade,
Antecedente de hipertensão arterial crônica,
Paciente previamente diabética,
Antecedente de doença renal,
Doenças autoimunes como lupus,
Gestações decorrentes de reprodução assistida como fertilização em vitro.
Outros fatores de risco são moderados.
Primeira gravidez,
Histórico familiar de mãe ou irmã com pré-eclâmpsia,
Idade materna avançada, ou seja, uma gestação depois dos 35 anos,
Intervalo muito longo entre uma gravidez e outra, mais de 10 anos desde a última gestação.
Prevenção da pré-eclâmpsia
Segundo a médica existem práticas que as gestantes podem fazer para reduzir o desenvolvimento da pré-eclâmpsia:
Programar gestação com supervisão médica,
Controlar o peso,
Fazer atividade física regular,
Controlar as doenças crônicas.
Diante de fatores de risco positivo, fazer durante o pré-natal uso de medicações preventivas.
“O uso do AS da aspirina e do carbonato de cálcio podem reduzir o risco de pré-eclâmpsia, especialmente aquela pré-eclâmpsia precoce que acontece antes de 34 semanas de gestação. A atividade física regular também é uma forma de prevenir a doença”, diz.
No entanto, ressalta que tão importante quanto a prevenção da doença, é preciso procurar o atendimento médico diante de qualquer sinal de alerta ou de aumento da pressão arterial. “Saber sobre a pré-eclâmpsia é fundamental para evitar as consequências diversas as complicações dessa doença”.
Saiba como identificar os sinais da pré-eclâmpsia
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