Com avanço das voçorocas, Buriticupu decreta situação de calamidade pública; crateras chegam a 80 metros


Além da situação de calamidade pública, a Prefeitura de Buriticupu também decretou o cancelamento das festas de Carnaval na cidade. Nos últimos 30 anos, mais de 70 casas foram ‘engolidas’ pelas crateras. Prefeitura de Buriticupu decreta estado de calamidade pública após avanço das voçorocas
A Prefeitura de Buriticupu, cidade a 415 km de São Luís, decretou estado de calamidade pública devido o avanço das voçorocas na cidade. A situação tem se agravado na cidade devido as fortes chuvas registradas na região nas últimas semanas.
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Devido a situação, a Prefeitura também anunciou que as festas de Carnaval estão canceladas na cidade. Caso o decreto seja reconhecido pelo Governo do Estado e Federal, o município poderá solicitar recursos sem a necessidade de licitação, dando mais rapidez as providências.
O avanço das voçorocas já prejudicaram mais de 180 famílias. Nos últimos 30 anos, mais de 70 casas foram ‘engolidas’ pelas crateras. A cidade fica no topo de uma região com cerca de 200 metros de altitude, cercada de vales e o solo da região tem presença predominante de areia, silte e argila, com pouca porosidade.
Com o avanço do desmatamento, o solo fica ainda mais suscetível ao surgimento das crateras. Sem obras de contenção, alguns buracos chegam a 600 metros de extensão e 80 de profundidade.
Situação de emergência
30 anos das voçorocas que engolem casas em Buriticupu
Buriticupu havia decretado situação de emergência em 2023 e em 2024. Em agosto do ano passado, o Governo Federal anunciou a liberação de R$ 45,7 milhões para auxiliar nas ações de contenção das crateras, entretanto, apesar da verba, poucos esforços foram feitos na região.
Na semana passada, a Justiça do Maranhão determinou que a Prefeitura de Buriticupu tomasse providências em relação ao avanço das voçorocas na região, com a contenção dos processos de erosão (voçorocas) em diversos pontos da cidade. Consta na decisão judicial que o município deve:
delimitar e isolar, no prazo de 30 dias, com sinalização adequada, todas as áreas com risco de desabamento e movimentos de massa decorrentes das voçorocas;
atualizar, no prazo de 30 dias, o cadastro de todas as famílias residentes nas proximidades das áreas afetadas, providenciando aluguel social para aquelas expostas a risco iminente.
apresentar, no prazo de 120 dias, um plano detalhado para execução de obras de contenção das voçorocas, com cronograma físico-financeiro;
implementar, em 180 dias, as medidas para mitigação dos impactos ambientais;
recuperar, ambientalmente, as áreas degradadas no prazo máximo de quatro anos.
Voçorocas assustam moradores no Maranhão
Reprodução/TV Globo
O que diz o município
De acordo com João Carlos Teixeira (PP), prefeito da cidade, o Governo Federal apenas liberou recursos para as obras de habitação que, segundo ele, estão em andamento. Ele diz que o município aguarda os recursos federais que serão utilizados para obras de prevenção.
“De acordo com a liberação de recursos do ministério as obras estão em andamento relacionadas a habitações. Quanto a obras de emergência, de prevenção para possíveis desastres, eu quero esclarecer que não foi liberado nada relacionado a essas obras de intervenção. Todos os projetos que devem ser apresentados pelo Município a Defesa Nacional sobre essa pauta já foram apresentados e aguarda liberação da ordem de serviço para que a gente possa iniciar”, explicou.
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Os acidentes
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No dia 9 de maio de 2023, uma casa foi ‘engolida’ por uma das crateras, após um deslizamento de terra ocorrido em uma rua do bairro Vila Isaías. Segundo o Corpo de Bombeiros, a residência já havia sido evacuada e não houve vítimas.
Uma semana antes, o policial militar aposentado José Ribamar Silveira caiu dentro de uma das crateras enquanto manobrava uma caminhonete. A queda foi de uma altura de, aproximadamente, 80 metros.
José Ribamar foi encaminhado para uma Unidade de Pronto-Atendimento na época. A vítima teve um braço quebrado e uma fratura exposta no pé esquerdo. Ele foi transferido para um hospital de São Luís e passou vários dias internado.
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A mesma voçoroca onde o PM caiu é o buraco que chamou a atenção do mundo, em 2023. Nas imagens aéreas, gravadas por um morador, o tamanho das crateras impressionou e viralizou nas redes sociais.
Em 2024, no dia 19 de março, 36 pessoas foram resgatadas na região Buriticupu, e também Santa Luzia, com a ajuda de helicópteros do Centro Tático Aéreo (CTA). Ao menos cinco vilas, nos dois municípios, que ficam localizadas em uma área de vale, foram atingidas por lama de deslizamentos.
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O que são as voçoroças?
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As crateras são pequenos fenômenos geológicos que surgem como fendas no solo, geralmente provocadas pela água da chuva. Se nada é feito para conter, uma cratera pode chegar ao grau de voçoroca, quando atinge um lençol freático.
Essas crateras surgem a partir de processos de erosão acelerados pela ação da chuva, devido às enxurradas, em áreas com solos sem cobertura vegetal.
O que pode ser feito?
Vista aérea mostra cratera em Buriticupu, no Maranhão, em 28 de março de 2023.
REUTERS/Mauricio Marinho
O surgimento de novas crateras podem ser prevenidas para evitar tragédias de maiores proporções. Ao g1, o professor Fernando Bezerra explica que, para isso, é necessário investir na proteção do solo com a cobertura da manutenção vegetal da área próxima, principalmente em locais com alta declividade e próximo as nascentes de rios.
Além disso, deve-se evitar queimadas e desmatamento em áreas próximas, devido a instabilidade do solo. E para uma maior eficácia, as autoridades também precisam investir em infraestrutura com esgotamento sanitário, drenagem urbana e retirar da região a população em torno das cabeceiras das crateras.
“A população que vive em torno das cabeceiras das voçorocas precisam ser retiradas, para evitar novas tragédias. Além disso, também deve-se desviar os fluxos de águas que chegam às cabeceiras das voçorocas, investir no plantio de espécies arbóreas nas bordas e interior e no retaludamento das paredes das voçorocas com aplicação de técnicas de bioengenharia de solos”, finalizou o professor.
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Kayan Albertin/g1
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