Lixo internacional é encontrado em pelo menos mais três praias do RN, diz associação de proteção ambiental


Fato ocorre pelo menos desde 2018, segundo presidente da Associação de Proteção e Conservação Ambiental Cabo de São Roque. Fardo de água mineral fechado, da Malásia, encontrado em praia do RN
Divulgação/APC CABO DE SÃO ROQUE
O lixo asiático presente na Praia do Segredo, na Via Costeira, em Natal, também foi encontrado nos últimos meses em praias de pelo menos outras três cidades do litoral do Rio Grande do Norte.
As praias são Muriú (em Ceará-Mirim), Cabo de São Roque (Maxaranguape) e Búzios (Nísia Floresta).
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“Se eu for hoje, agora, em uma dessas praias, eu encontro esse lixo internacional”, disse o biólogo Lucas Veríssimo, presidente da Associação de Proteção e Conservação Ambiental Cabo de São Roque, em entrevista ao g1 nesta segunda-feira (10).
A associação faz mutirões de limpeza a cada 15 dias em praias dos três municípios e também em Parnamirim.
Segundo a associação, o problema não é novo. O biólogo Lucas Veríssimo contou que pelo menos desde 2018 materiais internacionais são encontrados nas praias.
Em 2021, relatou, a associação publicou uma pesquisa na qual registrou lixos encontrados de pelo menos 23 países apenas na Praia de São Roque, em Maxaranguape.
“Na praia de Búzios a gente também encontrou bastante, até mais que essa quantidade de países”, disse o biológo, em referência à elaboração de um novo relatório.
A associação funciona desde 2016, mas desde 2018 iniciou com um projeto para limpeza dos espaços próximos aos ninhos das tartarugas.
“Na gravimetria, que é onde a gente consegue fazer a separação do resíduo, a gente começou a perceber [os lixos estrangeiros] e se perguntar: ‘de onde é isso?'”, contou.
Os produtos encontrados tinham rótulos em mandarim, segundo o biólogo, e alguns em francês, italiano e inglês, por exemplo.
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Divulgação/APC CABO DE SÃO ROQUE
De onde chega o lixo?
Segundo o presidente da APC Cabo de São Roque, Lucas Veríssimo, o lixo internacional encontrado nos mutirões não se mostrava desgastado pelo tempo.
“A gente percebeu que o lixo que chegava na beira da praia não era um lixo que tinha um tempo que chegou na praia, que tinha uma degradação natural do resíduo, que passou muito tempo levando sol. Era um lixo limpo, que tinha acabado de ser consumido e ser descartado”, disse.
Foi aí que se levantou a suspeita do grupo de que o material estava sendo descartado de embarcações cargueiras próximas ao litoral potiguar.
“A gente começou a traçar as rotas. Existe um site que você sabe onde estão os navios cargueiros. A gente começou a traçar essas rotas e as proximidades delas com a costa. Eles chegam a uma proximidade muito perto, a até 10 km da costa. E aí possivelmente eles devem ter um custo pra ser coletado esse resíduo [nos portos]. Então entendem que é melhor colocar no mar”, disse.
O biólogo contou que as equipes já encontraram até produtos fechados, como garrafas de água, por exemplo.
“Encontramos fardos fechados de água mineral, de garrafa de 2 litros, de uma garrafa que é bem comum. Eu digo que essa garrafa é bem comum, uma garrafa da Malásia, tem um rótulo vermelho. Toda praia que a gente anda a gente encontra ela. Lacradinho, com água mineral dentro”.
Lixo tem sido encontrado desde 2018 no litoral do RN pelo grupo; Nesse caso, material foi encontrado em 2020
Divulgação/APC Cabo de São Roque
‘Mix de lixo’
Nos últimos oito meses de 2024, a Associação de Proteção e Conservação Ambiental Cabo de São Roque, em parceria com o projeto Onda Limpa, recolheu cerca de 1 tonelada de resíduos das praias em que atua no litoral do Rio Grande do Norte.
Em uma única ação recente em Maracajaú, cerca de 249 quilos de resíduos foram recolhidos, sendo 90% plásticos.
O biólogo Lucas Veríssimo contou que, do material encontrado nos mutirões, mais de 80% é de lixo de origem brasileira, mas que os 20% de origem estrangeira “podem ter um potencial poluidor muito maior”.
“O lixo brasileiro, em grande maioria, é descartável, mas o lixo que a gente está encontrando estrangeiro já é extremamente perigoso, é óleo, óleo de embarcação, seringas, medicamentos, cigarro”, disse.
“O lixo brasileiro você encontra uma garrafa, uma tampa, um canudo, que causa danos, mas não tanto quanto esse estrangeiro”.
Ele relatou, por exemplo,que no último mutirão encontrou o que chamou “mix de lixo”.
“A última vez que a gente esteve na praia a gente encontrou uma garrafa pet de água. Dentro da garrafa pet tinha um papel de chiclete, e tinha um maço de cigarro dentro. Parecia que era um mix de lixo”.
Os impactos do descarte irregular de lixo na praia e mar
Medidas para deixar praias limpas
O presidente da Associação de Proteção e Conservação Ambiental Cabo de São Roque acredita que – para além de ações que possam impedir o despejo do lixo por embarcações na costa – há como melhorar o cenário das praias com outras medidas, como implantação de pontos de coleta e maior rotina de limpeza.
“A gente anda na praia e não vê uma lixeira”, disse. “E ainda estimular às equipes de limpeza urbana a acessarem essas praias que não tem continuidade nas limpezas”.
A preocupação no mar também é com os animais, já que o litoral do RN é o maior berçário do Atlântico Sul de tartarugas-de-pente.
“A gente não consegue enxergar isso [do impacto] da poluição, porque o número de tartarugas é ainda maior – ainda bem — do que a poluição”, falou.
Apesar disso, uma parte menor das tartarugas mortas encontradas já apresentaram no organismo plásticos ou microplásticos.
“Os animais estão ingerindo e, com o passar do tempo, estão contraindo doenças e ficando debilitados. E ficam mais suscetíveis a redes de pesca e a outros tipos de impacto que acontecem no litoral”, explicou.
Lucas Veríssimo disse ainda que a sociedade em geral “também tem uma responsabilidade e o dever de cuidar dessas praias”, mesmo que seja coletando um resíduo que já estava na praia.
“Se a gente deixar isso acontecer, criar esse cemitério de resíduos, quem vai pagar somos nós”.
Garrafa na praia no litoral do RN
Divulgação/APC CABO DE SÃO ROQUE
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