SES-MA afasta direção do Hospital Regional de Balsas e instaura comissão para investigar morte de duas grávidas durante o parto


Segundo as famílias das vítimas, o hospital teria forçado as duas mulheres a terem parto normal, quando elas deveriam passar por uma cesariana de emergência. As mães e os bebês morreram na unidade hospitalar. SES-MA afasta direção do Hospital Regional de Balsas e instaura comissão para investigar morte de duas grávidas durante o parto
Reprodução/TV Mirante
Após a família de duas grávidas, que morreram durante o trabalho de parto no Hospital Regional de Balsas, no sul do Maranhão, acusarem a unidade hospitalar de ter sido negligente no atendimento às gestantes, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-MA) afirmou que instaurou uma comissão de investigação e apuração sobre os óbitos e afastou a direção do hospital para que a apuração seja feita da melhor forma.
A informação foi dada pelo secretário estadual de Saúde, Thiago Fernandes, durante entrevista à TV Mirante, nesta quinta-feira (6).
O secretário destacou que os casos precisam ser investigados, pois o Hospital Regional de Balsas estava completando 700 dias sem nenhum óbito registrado. Thiago Fernandes também disse que os prontuários médicos apontam que o protocolo era para parto normal de indução e ainda não cesariana.
“E é isso que nós estamos investigando, o porquê da adoção desse protocolo clínico, pela equipe médica. E também a necessidade de se apurar com responsabilidade, pra não tomar nenhuma medida de forma injusta com todo o corpo clínico, que nós estamos dentro do Hospital Regional de Balsas, com toda a nossa equipe e, também, com o instituto que realiza a gestão daquela unidade hospitalar, pra nós realizarmos uma apuração fidedigna e, também, dar uma resposta justa e necessária que essas famílias merecem”, destacou o secretário.
Thiago Fernandes também afirmou que, durante essa investigação é preciso analisar desde a atenção primária, entender se as pacientes estavam realizando o pré-natal corretamente, se tinham alguma situação de comorbidade e entender o que estava sendo relatado no protocolo clínico, pelos profissionais de saúde.
“A priori, sobre a primeira paciente que foi a óbito, se relata no prontuário um mal súbito durante o parto, e é isso que está sendo investigado e o porquê da opção pelo parto normal e não, naquele momento, pelo parto cesariano. E, no segundo caso, o relato que se tem no prontuário é de que a mãe estava com uma criança incompatível com a vida. Tinha dois exames de ultrassonografia que atestavam uma criança anencéfala, que foi procurada a unidade regional de Balsas para ter uma terceira opção”, explicou.
O secretário da SES-MA destacou que, nos casos de crianças anencéfalas, a mãe tem a opção pela indução do parto ou seguir com a gestação e, cabe ao corpo clínico passar a segurança para essa mãe. E é isso que a Secretaria de Estado da Saúde está investigando.
“Ainda esse mês de fevereiro a investigação será concluída com outras medidas enérgicas sendo tomadas”, afirmou o secretário.
Veja a entrevista na íntegra
Secretário de Saúde fala sobre mortes de gestantes em Balsas
Entenda o caso
Mulheres morrem no parto e famílias acusam hospital de negligência em Balsas
Segundo as famílias das vítimas, o hospital teria forçado as duas mulheres a terem parto normal, quando elas deveriam passar por uma cesariana de emergência. Os dois casos aconteceram em menos de um mês. Os bebês das vítimas também morreram no hospital.
A primeira vítima foi Naísia Nascimento de Santana, de 30 anos, que procurou, por dois dias consecutivos, atendimento no Hospital Regional de Balsas, antes de ser internada.
Naísia Nascimento de Santana, de 30 anos, morreu durante o parto em Balsas-MA.
Reprodução/TV Mirante
Segundo a família dela, apesar das dores intensas e pouca dilatação, a equipe médica decidiu induzir o parto normal, com uso de medicamentos. Durante o procedimento, Naísia teve convulsões, sofreu três paradas cardíacas e morreu no dia 14 de janeiro.
O bebê dela ainda passou oito dias na UTI Neonatal, mas acabou morrendo também.
O irmão da vítima, Jorge Santana, afirmou que o atendimento no hospital foi desumano, já que havia sinais claros de que a grávida não tinha condições de ter um parto normal.
“Se você tiver um bicho bruto lá na sua pastagem e ela tiver tentando dar a luz e não conseguir, rápido você vai e busca um veterinário e você manda fazer uma cesárea. Então, o que a gente se perguntou hoje é por que ao ser humano é permitido que sofra tanto. Haja vista que minha irmã estava com um centímetro de dilatação e ela não tinha condição de ter um filho normal e forçaram com isso, induzindo o parto normal dela”, lamentou o irmão de Naísia.
A família denunciou o caso no Ministério Público do Maranhão e espera uma resposta da justiça.
“Alguém tem que buscar isso, as coisas não podem ficar desse jeito, porque enquanto todos se calarem, o Hospital Regional de Balsas vai continuar fazendo a mesma coisa”, destacou Jorge Santana.
Segundo o Ministério Público em Balsas, o órgão está analisando a denúncia e, em breve, irá se manifestar.
O segundo caso aconteceu no dia 1º de fevereiro. Ana Carolina da Silva Bezerra, de 26 anos, passou nove dias internada tentando o parto normal, já que, segundo a família, a equipe médica teria se recusado a realizar o parto cesariana. Tanto ela quanto o bebê morreram.
Ana Carolina da Silva Bezerra, de 26 anos, morreu durante o parto no Hospital Regional de Balsas-MA.
Reprodução/TV Mirante
Segundo Poliana Cavalcante, que era amiga de Ana Carolina e acompanhou a paciente durante a internação, disse que mesmo com um exame de ultrassonografia atestando que o bebê já estava morto dentro da barriga da mãe, o hospital insistiu em fazer o parto normal.
“Lá eles induziram mais de 20 comprimidos nela e eu questionei eles se aquilo não poderia causar uma infecção nela, se ela não tava arriscando a vida dela e eles só diziam que ‘não’, que aquilo tinha que ser o procedimento, porque ele não ia fazer uma cesariana nela e perder o diploma dele, porque ela corria risco de vida”, relatou Poliana.
A coordenadora da Rede de Assistência Materna e Infantil da SES-MA, Tércia Carvalho, afirmou que medidas estão sendo adotadas para reforçar os protocolos de atendimento às gestantes.
“A Secretaria está aqui e ela se solidariza com essas perdas dessas famílias. E a gente está com uma comissão analisando esses prontuários, pra ver, individualmente, cada caso”, destacou Tércia Carvalho.
Protesto contra morte de gestantes em hospital de Balsas.
Reprodução/TV Mirante
Na manhã desta quinta, familiares e amigos das vítimas fizeram um protesto, em frente ao Hospital Regional de Balsas, pedindo por Justiça.
Manifestantes cobram respostas após mortes de gestantes em hospital de Balsas
Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.