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Uma pesquisa realizada em parceria por cientistas da Alemanha e Estados Unidos analisou, durante oito anos, o interior da Terra e descobriu uma diversidade surpreendente de seres vivos abaixo da superfície do planeta, em regiões mais profundas do que qualquer outra já descoberta anteriormente.
![Pesquisa Pesquisa analisou vida no interior da Terra](https://static.ndmais.com.br/2025/02/interior-terra-1-800x448.jpg)
Pesquisa analisou vida no interior da Terra – Foto: Emil Ruff/Reprodução/ND
Conduzido no Laboratório de Biologia Marinha (MBL), em Massachusetts, o estudo revelou uma diversidade microbiana alta em até 491 metros abaixo do fundo do mar e até 4.375 m abaixo do solo.
“É comumente assumido que quanto mais fundo você vai abaixo da superfície da Terra, menos energia está disponível, e menor é o número de células que podem sobreviver. Enquanto quanto mais energia presente, mais diversidade pode ser gerada e mantida, como em florestas tropicais ou recifes de corais, onde há muito sol e calor”, explicou o coordenador do projeto, Emil Ruff.
O estudo foi pioneiro em comparar os micróbios dos subsolos marinhos e terrestres, descobrindo que, assim como os animais da superfície, eles também raramente se misturam.
“Há uma divisão muito clara entre as formas de vida nos reinos marinho e terrestre, não apenas na superfície, mas também no subsolo. As pressões seletivas são muito diferentes na terra e no mar, e elas selecionam diferentes organismos que têm dificuldade de viver em ambos os reinos”, apontou o cientista.
![Navio Navio de perfuração científica, no Mar da China Meridional, em 2014, para coletar dados do interior da Terra](https://static.ndmais.com.br/2025/02/navio-pesquisa-1-800x448.jpg)
Navio de perfuração científica, no Mar da China Meridional, em 2014, para coletar dados do interior da Terra – Foto: Rick Colwell/Reprodução/ND
A vida no interior da Terra
A primeira vez que cientistas perceberam a existência de micróbios a quilômetros de profundidade da terra e do mar, foi em meados da década de 1990, explicou Ruff.
Com o avanço nas pesquisas, cientistas estimavam que entre 50 a 80% das células microbianas da Terra viviam no subsolo, onde a disponibilidade de energia é menor do que na superfície, iluminada pelo sol.
“Agora, também podemos afirmar que, talvez, metade da diversidade microbiana na Terra esteja no subsolo”, destacou Ruff. Outro ponto revelado pelo cientista é que, nesses ambientes de baixa energia, a vida acontece em um ritmo muito menos acelerado do que a de seus parentes na superfície.
“Algumas células do subsolo se dividem, em média, uma vez a cada mil anos. Então, esses micróbios têm escalas de tempo de vidas completamente diferentes, e podemos potencialmente aprender algo sobre o envelhecimento com eles”, ressaltou.
![tapete microbiano Um tapete microbiano de óxido de ferro que se desenvolve nos canais de saída dos furos perfurados na Mina de Ferro Subterrânea de Soudan](https://static.ndmais.com.br/2025/02/microbios-1-800x448.jpg)
Um tapete microbiano de óxido de ferro que se desenvolve nos canais de saída dos furos perfurados na Mina de Ferro Subterrânea de Soudan, no norte de Minnesota – Foto: Cody Sheik/Reprodução/ND
O pesquisador ainda defende que, as descobertas no interior da Terra podem ajudar a revelar a história de outros planetas.
“Se Marte ou outros planetas tiveram água líquida em algum momento de suas histórias – e há evidências de que Marte teve – então, os ecossistemas rochosos 3 km abaixo de sua superfície seriam muito semelhantes aos da Terra”, diz Ruff.
“A energia seria muito baixa, os tempos de geração dos organismos seriam muito longos. Entender a vida profunda na Terra poderia ser um modelo para descobrir se houve vida em Marte e se ela sobreviveu”, completou.
Como o grupo conseguiu estudar o interior da Terra?
![lange hidrotermal Uma flange hidrotermal de descarga, semelhantes aos vulcões de lama](https://static.ndmais.com.br/2025/02/microbios-interior-terra-1-800x448.jpg)
Uma flange hidrotermal de descarga, semelhantes aos vulcões de lama – Foto: Schmidt Ocean Sciences/Reprodução/ND
Em 2016, foi realizado um “Censo da Vida Profunda”, quando grupos de pesquisa em todo o mundo enviaram amostras do subsolo para o MBL. Foi criado um padrão para sequenciar e analisar o DNA microbiano das amostras.
Isso forneceu, pela primeira vez, um conjunto de dados consistente que permitiu a comparação entre mais de mil amostras de 50 ecossistemas marinhos e terrestres.
Na época, Ruff estava no pós-doutorado e ajudou a sintetizar as amostras. Posteriormente, montou um grupo de pesquisa apenas para comparar os dados em larga escala.