Armas turcas, organização de ataques e tráfico: o que se sabe sobre operação contra o PCC no Tocantins


Operação cumpriu mandados de prisão, buscas e sequestro de bens contra ramificação da facção criminosa. Grupo no Tocantins supostamente era comandando pela ‘Dama do Crime’. Operação prende traficantes que importavam armas da Turquia e mandavam para o Tocantins
A Operação Asfixia, da Polícia Civil, revelou detalhes do esquema criminoso de tráfico interestadual de drogas e armas encabeçado por uma ramificação do PCC no Tocantins, que também agia em outros cinco estados. O grupo é suspeito de lavar dinheiro e movimentar mais de R$ 20 milhões nos últimos dois anos.
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Peças-chave da organização foram alvos de mandados de prisão, buscas e sequestro de bens. 16 pessoas foram presas. A operação também apreendeu celulares, cadernos de anotações, armas, drogas e dinheiro. Dois suspeitos estão foragidos.
Entenda na reportagem abaixo como a investigação, que começou em 2024, após a apreensão de celulares de traficantes, conseguiu acessar a estrutura organizacional da facção criminosa.
Como a investigação começou?
A investigação contra o grupo começou em fevereiro de 2024 após a prisão de traficantes no Tocantins. A quebra de sigilo de telefones apreendidos levou à polícia a um grupo criminoso que atuava como uma empresa, organizada em diversos setores.
‘Dama do Crime’ chefiava esquema
Lúcia Gabriela Rodrigues Bandeira, conhecida como ‘Dama do Crime’, estava no topo da pirâmide da célula do PCC no Tocantins, segundo a investigação. A mulher de 25 anos foi alvo de operações anteriores e está presa desde dezembro de 2024. Conforme decisão da Justiça, ela fazia o ‘elo’ entre os traficantes locais e os líderes da facção paulista.
Após a quebra de sigilo de aparelhos celulares, os agentes da Divisão Especializada de Repressão a Narcóticos (Denarc- Palmas) tiveram acesso a trocas de mensagens e, a partir disso, foi possível refazer os passos da criminosa que comandava as operações do tráfico no estado.
Dentro da facção ela liderava outros membros, dividia as funções e organizava a distribuição das drogas entre traficantes. A Dama também fazia o “fechamento”, uma espécie de balanço do que foi comercializado no dia. Essa função posteriormente foi passada para uma mulher chamada de ‘Tempestade’, que também é investigada pela polícia.
Lúcia Gabriela Rodrigues Bandeira foi presa suspeita de tráfico de drogas e organização criminosa
Reprodução
Lúcia também organizava a logística de distribuição das drogas e dava ordens para organizar ataques e eliminar membros de uma facção rival que estariam “embaçando a quebrada”.
A defesa de Lúcia Gabriela disse que está apurando as informações sobre as novas acusações e que em breve irá se pronunciar sobre o caso.
‘Lojistas’ se comunicavam pelo WhatsApp
Toda organização e gerenciamento do grupo era feita por meio de grupos de WhatsApp. Segundo a decisão da 4ª Vara Criminal e da Justiça Militar, que autorizou a operação, o grupo liderado por Lúcia tinha uma estrutura de trabalho hierarquizada, com divisões funcionais semelhantes a uma empresa. Os agentes identificaram os setores de direção, setor gerencial, setor de transporte, setor financeiro e setor de vendas.
Lúcia aparece em diversas trocas de mensagens com os suspeitos utilizando os codinomes ‘Dama’ e ‘Larissa’. Ela seria a responsável por coordenar o setor gerencial e o setor financeiro dentro da organização.
Mensagens trocadas em grupos de Whatsapp, obtidas pela polícia, mostram que Dama tinha uma lista com o nome de todos os pontos de comercialização das drogas, as chamadas “lojas”. Dessa forma, ela fazia um controle financeiro dos locais ao cobrar dos traficantes um relatório sobre vendas e estoque.
A polícia descobriu que existia um consórcio de traficantes locais, chamados de “lojistas”, organizado com objetivo de comprar drogas, de forma coletiva, diretamente dos líderes da organização criminosa no estado, que por sua vez possuíam vínculos diretos com o PCC.
Como funcionava a rede de lavagem de dinheiro
A rede de lavagem de dinheiro deste braço do PCC no Tocantins foi descoberta após a identificação de altos valores repassados por pessoas e até empresas por meio de transferências eletrônicas como o Pix. Ao todo, a polícia acredita que o grupo tenha movimentado R$ 20 milhões nos últimos dois anos.
Os celulares apreendidos levaram os investigadores até comprovantes bancários com chaves Pix que eram utilizadas para movimentar o dinheiro do tráfico. O relatório policial apontou que as principais contas bancárias, para as quais os traficantes remetiam dinheiro, estavam no nome de quatro investigados.
Relatórios de transações emitidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontaram que os principais laranjas do esquema movimentaram R$ 20.362.121,00.
Dinheiro apreendido durante operação da Polícia Civil contra o PCC no Tocantins
Empresas são suspeitas de lavar dinheiro
A decisão também traz indícios contra duas empresas possivelmente envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro, ambas de São Paulo (SP).
A investigação encontrou indícios de que uma das mulheres apontada como laranja fez 24 transferências via Pix para uma das empresas, que supostamente atua com produtos de metal, totalizando R$ 602 mil.
Depois, essa empresa teria transferido R$ 625 mil para a segunda empresa, que atua com comércio e transportes, por meio de 16 transferências via Pix. Fotos das fachadas dos locais também chamaram atenção da polícia, levantando a suspeita de se tratarem de empresas fantasmas ou de fachada.
Armas turcas e guerra de facções
Conforme o inquérito, o grupo é suspeito de usar armas trazidas da Turquia para cometer assassinatos em Palmas. As armas seriam as mesmas usadas por facções em vários homicídios registrados na capital no primeiro semestre de 2023.
O grupo criminoso também atuava nos estados do Piauí, Maranhão, Ceará e Rio Grande do Norte. Segundo a Polícia Civil, a organização criminosa enviava armas para esses estados, alimentando guerras entre facções rivais.
Durante a investigação, a polícia teve acesso a um áudio em que a Dama do Crime dá ordens aos membros da facção para criar um grupo restrito com objetivo de organizar ataques e “eliminar” membros de uma organização rival.
No arquivo ela chama “os irmãos” para juntar forças, com armamento e dinheiro, para “fazer o bagulho acontecer”. Ao final dos avisos e pedidos, ela se colocava à disposição para tratar de outras demandas.
Investigações da Polícia Civil continuam
Durante a operação foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão e 20 ordens de bloqueio de contas bancárias. Os agentes apreenderam aparelhos celulares, máquinas de cartões, cartões bancários, cadernos com anotações do tráfico, e mais de R$ 16 mil em dinheiro.
A operação foi nomeada de ‘Asfixia’ e as investigações seguem sendo conduzidas pela Divisão Especializada de Repressão a Narcóticos (Denarc- Palmas). O objetivo principal da ação é enfraquecer os ganhos financeiros da organização, segundo o delegado Alexander Costa.
Suspeito de participar de organização crimonosa é preso pela polícia na Operação Asfixia
Divulgação/PCTO
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