Economistas tentam explicar o sobe e desce do real em relação à moeda americana


Se no fim de 2024 a escalada do dólar desafiava o entendimento dos economistas, agora a missão é explicar a queda. Depois de doze fechamentos seguidos em queda, dólar comercial sobe
Nas últimas duas semanas, os brasileiros assistiram a um movimento inédito na história. O real ganhando valor sobre o dólar por dias e dias seguidos. E chama atenção que ainda persistam os mesmos problemas da economia brasileira que tinham explicado o derretimento da nossa moeda em dezembro de 2024.
Se no fim de 2024 a escalada do dólar desafiava o entendimento dos economistas, agora a missão é explicar a queda. A maior sequência de baixas desde o início do Plano Real. Foram 12 fechamentos seguidos. No dia 17 de janeiro, o dólar valia R$ 6,06. Na terça-feira (4), encerrou a R$ 5,77 – uma queda de quase 5% no período ou uma diferença de R$ 0,29. Nesta quarta-feira (5), subiu um pouco, mas, mesmo assim, ficou abaixo dos R$ 5,80.
Valores difíceis de se imaginar no fim de 2024. Em 5 de novembro, dia da eleição nos Estados Unidos e de apreensão nos mercados mundiais, o dólar valia R$ 5,74. Subiu para R$ 5,98 no dia 28, quando o governo detalhou o plano de ajuste fiscal, depois de mais de um mês de espera. As medidas foram consideradas insuficientes e a trajetória do dólar seguiu em alta.
Em 18 de dezembro, a moeda americana fechou em R$ 6,26 – o maior valor da história. Em 20 de janeiro, dia da posse de Donald Trump, ficou em R$ 6,04. Na época, além das incertezas em relação ao cenário externo e ao equilíbrio das contas públicas, analistas apontavam o dólar alto como um dos motivos para a inflação, que por usa vez, levava o Banco Central a aumentar a taxa de juros.
Já em 2025, o que veio em seguida nos Estados Unidos acalmou o mercado financeiro, explica o economista Sérgio Vale.
“Quando ele vira presidente, ele toma posse, mal fala da China. Ataca Canadá e México essencialmente na questão tarifária e China fica de fora. Sinaliza dias depois subir só 10%. Em relação a 50%, 60% de tarifa, foi muito menos. O final do ano passado foi um conjunto externo/interno. A gente teve o pacote fiscal no final de novembro, a eleição do Trump também foi em novembro. Então, as duas coisas em conjunto meio que se potencializaram, se juntaram e a gente teve um efeito muito mais forte do que eventualmente a gente teria se tivesse acontecido uma coisa ou outra”, diz Sérgio Vale, economista-chefe MB Associados.
Dos R$ 6,15 aos R$ 5,75: como o dólar enfileirou quedas em 2025
Se o cenário externo ficou menos nebuloso, aqui dentro, na prática, pouca coisa mudou. Os economistas dizem que o humor melhorou com a sinalização dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado de que a agenda econômica terá prioridade. O Banco Central do Brasil, sob nova direção, anunciou na semana passada o aumento de um ponto percentual nos juros para desacelerar a economia. Mas pontos centrais, como a inflação e o risco fiscal, continuam no radar.
Na ata da reunião, divulgada na terça-feira (4), o Copom fala em um “cenário de inflação adverso”; diz que “os preços de alimentos se elevaram de forma significativa”; e que a inflação vai seguir acima do teto da meta nos próximos seis meses.
Economistas tentam explicar o sobe e desce do real em relação à moeda americana
Jornal Nacional/ Reprodução
O documento também manteve o tom duro sobre as contas públicas, dizendo que “o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal” tem o potencial de elevar os juros e sinalizou outro aumento de um ponto percentual na próxima reunião, em março. Ou seja, basicamente os mesmos pontos do fim de 2024, quando o dólar disparou. O que mudou, então?
A economista Cristiane Quartaroli explica que a taxa de juros no Brasil ajuda a baixar a cotação do dólar porque atrai investidores estrangeiros.
“É um diferencial de juros crescente com relação aos Estados Unidos e isso acaba atraindo o fluxo de capital sobre o ponto de vista de investimentos aqui para o Brasil. Então, é dólar entrando no Brasil. Então, quando a gente tem mais dólar aqui entrando, a cotação também tende a cair. É o que está acontecendo, é o que aconteceu nesses últimos dias que a gente tem visto aí a cotação cedendo”, diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.
Economistas tentam explicar o sobe e desce do real em relação à moeda americana
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Na avaliação do economista Felipe Salto, o patamar do dólar hoje é mais realista do que aquele do fim de 2024.
“Acho que o fator preponderante é que, quando do anúncio do pacote, a reação foi muito negativa e foi exageradamente negativa. O câmbio foi para quase R$ 6,30, que é uma taxa muito elevada, afetando a inflação e tudo mais. E um outro movimento nesse início de ano tem a ver com as declarações e as sinalizações do ministro Fernando Haddad e do presidente Lula. Ambos têm feito um esforço importante de melhorar a comunicação e de dizer que há, sim, um compromisso com a responsabilidade fiscal, se precisar fazer novos cortes esses cortes serão feitos. Agora, claro que é preciso materializar tudo isso e essas medidas precisam vir, precisam acontecer”, afirma Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos.
Sérgio Vale destaca a importância de um Banco Central independente para uma estabilização do câmbio:
“Certamente esse Banco Central que está atento, que está olhando o cenário está com vontade de levar a taxa de juros até onde for necessário, a gente imagina, isso também acalma o mercado, também ajuda a trazer uma certa tranquilidade para o mercado. É como se a política fiscal não está funcionando como a gente gostaria, mas o Banco Central está sinalizando que ‘olha, eu vou tentar fazer o máximo aqui para evitar que a gente tenha uma piora geral das expectativas’. Isso é bom, isso é positivo, o mercado gosta”.
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