Renda fixa: veja quais são as boas oportunidades em 2025, com juros e inflação em alta


O g1 ouviu quatro especialistas, que elencaram suas principais apostas para o ano. Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ foram os mais citados, mas vale o alerta quanto ao prazo do investimento e os riscos da marcação a mercado. Renda fixa tem boas oportunidades em período de juros elevados.
Divulgação
Mais uma vez, o Brasil vive um bom momento para investimentos em renda fixa. Com as projeções de inflação indicando uma aceleração dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a subir os juros do país desde setembro, e indicou que deve continuar pelo menos até o meio de 2025.
A taxa básica de juros, a Selic, está em 13,25% ao ano. Os agentes do mercado financeiro esperam que ela chegue aos 15% ao ano até o meio do ano, atingindo o maior patamar em quase duas décadas.
Neste contexto, especialistas em renda fixa consideram que há muitas oportunidades boas para os investidores — dos mais iniciantes aos experientes. Porém, alguns cuidados também são importantes para que o investidor não escolha uma opção menos vantajosa ou segura.
O g1 procurou especialistas em renda fixa para encontrar boas oportunidades para os investidores, dos iniciantes aos mais experientes.
Foram ouvidos Marilia Fontes, da Nord Research, Camilla Dolle, da XP Investimentos, Rafael Winalda, do Inter, e Álvaro Frasson, do BTG Pactual. Abaixo, eles compartilham os títulos para ficar de olho em 2025 e explicam quais cuidados o investidor deve tomar.
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✅ Tesouro Selic (ou CDBs atrelados ao CDI)
A inflação brasileira voltou a dar sinais de aceleração. Como a arma de combate aos preços mais altos é a taxa de juros, o BC será obrigado a manter a Selic mais alta, por mais tempo.
Por isso, uma orientação de consenso entre os analistas é dar atenção ao Tesouro Selic.
🔎 O Tesouro Selic faz parte do Tesouro Direto, uma plataforma de acesso aos títulos de investimento do Tesouro Nacional. Por meio dela, foi possível fracionar o valor dos títulos para torná-los mais baratos, o que democratizou o acesso a esse tipo de investimento para pessoas físicas.
O Tesouro Selic é uma boa opção porque ele acompanha a taxa de juros do país. Hoje, portanto, rende perto dos 13,25% ao ano, pago dia a dia. Mas esses títulos também são conhecidos como pós-fixados, porque se houver alteração da taxa Selic, a rentabilidade vai mudar.
A projeção, inclusive, é de que os juros passem dos 15% ao ano em meados de 2025, maior patamar em quase duas décadas. São taxas muito altas, enquanto a projeção da inflação para o ano não chega aos 6%.
Isso faz com que o ganho real dessa aplicação (que é o rendimento do investimento descontando a inflação do período) seja muito elevado. O racional é o seguinte:
A expectativa para taxa Selic é de 15% ao ano em 2025, e de 12,5% ao final de 2026;
A projeção para a inflação nestes mesmos anos é de 5,5% e 4,22%, respectivamente;
Se essas projeções se concretizarem, o ganho real seria de mais de 8% em cada ano.
As projeções acima são do boletim Focus, relatório do BC que reúne as expectativas de mais de 100 instituições financeiras.
Além do Tesouro Selic, as instituições financeiras oferecem CDBs (Certificado de Depósito Bancário), que são títulos de renda fixa privados. Eles funcionam de forma muito parecida com os títulos do Tesouro Direto, mas o empréstimo do dinheiro é feito para bancos e outras financeiras.
Um dos títulos disponíveis tem rentabilidade atrelada ao CDI, um índice que acompanha a taxa Selic. Portanto, um CDB que rende 100% do CDI é muito parecido com o Tesouro Selic — e também pode ser uma boa oportunidade de investimento.
Winalda, do banco Inter, destaca que é preciso ter atenção a três fatores:
Liquidez: o Tesouro Selic tem liquidez diária, o que significa que o investidor pode resgatar o dinheiro a qualquer momento, sem perdas. Parte dos CDBs de bancos não oferece a liquidez diária, e o investimento fica congelado até o prazo de vencimento, que pode ser consultado na hora da compra do título;
Prazo de vencimento: caso o investimento não tenha liquidez diária, o investidor precisa estar organizado para não precisar daquele dinheiro antes do prazo. Um outro risco é o rendimento ficar aquém do esperado, já que não é possível mover aquele dinheiro para outro título;
Emissor: o momento é de taxas mais altas para o investidor, mas é de mais risco para as empresas. É preciso conhecer bem o banco ou instituição antes de comprar o CDB, para saber se não há algum risco de calote quando o título vencer.
Mesmo assim, os riscos são baixíssimos comparados a qualquer outro tipo de investimento, e com taxas tão altas é possível ter uma rentabilidade de mais de 1% ao mês.
✅ Tesouro IPCA+
O Tesouro IPCA+ também é um título de Tesouro Direto, mas que paga uma taxa fixa somada ao índice de inflação do período. Em períodos normais, já seria uma boa alternativa porque o título protege o poder de compra do investidor e ainda garante um rendimento real.
Mas há dois fatores importantes que deixam o investimento ainda melhor:
A perspectiva é de uma inflação em alta, então o Tesouro IPCA+ é uma boa ideia porque já corrige o dinheiro investido pelo índice de preços.
A taxa extra do Tesouro IPCA+ passa por um período muito atrativo, pois os juros prefixados estão em níveis historicamente altos, ultrapassando os 7%.
Tudo isso aconteceu porque o cenário de incerteza econômica aqui e lá fora faz com que o mercado peça juros mais altos para comprar títulos públicos brasileiros. Assim, o Tesouro é obrigado a emitir os títulos com taxas mais altas.
⚠️ Uma observação importante: a rentabilidade prometida só está garantida se o título for carregado até o vencimento. Caso contrário, ele está sujeito a marcação a mercado.
A marcação a mercado é um mecanismo que faz com que o título tenha o valor que o mercado aceita pagar por ele no momento em que o investidor quer se desfazer do investimento. A depender das perspectivas de juros e inflação, ele pode variar para cima ou para baixo.
Quando há um aumento das taxas de referência, o título se desvaloriza;
Quando há uma redução, ele se valoriza.
Veja, no infográfico abaixo, como isso funciona na prática:
Renda fixa: saiba como funciona a marcação a mercado
Arte g1
Então, os analistas indicam que o investimento em um título do Tesouro IPCA+ pode ser interessante no momento, porque as taxas estão muito elevadas. Mas esse é o risco do investimento: elas podem subir ainda mais.
Por isso, é importante que o investidor que queira seguir por esse caminho não precise de liquidez diária, pois o momento de resgate de um título Tesouro IPCA+ é determinante para separar o lucro do prejuízo.
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✅ Renda fixa isenta
Na mesma linha dos títulos do Tesouro e CDB, há ativos de renda fixa emitidos por bancos ou outras instituições financeiras que estão isentas do Imposto de Renda. Algumas delas são as Letras de Crédito Imobiliárias (LCIs) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).
Em geral, os títulos de renda fixa estão sujeitos à tributação, já retidos na fonte. Os descontos são feitos em cima do lucro que o investidor teve com o investimento. Veja abaixo as alíquotas:
Até 180 dias: 22,5%;
De 181 a 360 dias: 20%;
De 361 a 720 dias: 17,5%;
Mais que 720 dias: 15%.
A vantagem das LCIs e LCAs é que estão isentas dessa tabela de recolhimento do Imposto de Renda. Os riscos, contudo, são os mesmos da renda fixa privada:
Liquidez: em geral, elas não oferecem a liquidez diária, e o investimento fica congelado até o prazo de vencimento, que pode ser consultado na hora da compra do título;
Prazo de vencimento: quando o investimento não tem liquidez diária, o investidor precisa estar organizado para não precisar daquele dinheiro antes do prazo. Um outro risco é o rendimento ficar aquém do esperado, já que não é possível mover aquele dinheiro para outro título;
Emissor: o momento é de taxas mais altas para o investidor, mas é de mais risco para as empresas. É preciso conhecer bem o banco ou instituição antes de comprar o título, para saber se não há algum risco de calote quando chegar o vencimento.
❌ Cuidados a tomar
🧨 Títulos prefixados
Além dos pós-fixados (como o Tesouro Selic e o IPCA+), existem títulos de rentabilidade prefixada. O Tesouro ou CDB Prefixado pagam uma taxa fixa, prometida ao investidor na data da compra.
Um CDB, por exemplo, pode render 10% ao ano. E aquela será a rentabilidade no fim do prazo do investimento, independentemente da variação da inflação ou da taxa Selic.
Por conta dessa inflexibilidade, os especialistas consideram que esse não é um título tão interessante em um período em que os juros podem subir muito mais — e, assim, o retorno do prefixado fica inferior ao oferecido por um título que acompanha a Selic.
Além disso, os títulos prefixados também estão suscetíveis à marcação a mercado. Se, de fato, os juros subirem, o título se desvaloriza e só atinge a rentabilidade prometida se for carregado pelo investidor até o final do prazo.
Álvaro Frasson, especialista em renda fixa do BTG Pactual, comenta que os títulos prefixados podem até fazer parte da carteira de investimento neste momento, mas que devem ocupar uma pequena parte, visto que a tendência é que a taxa Selic continue subindo.
🧨 Prazo do investimento e liquidez
As incertezas na economia interna e externa deixam o cenário ainda mais difícil de prever. Por isso, o investidor (especialmente o iniciante) deve contar com títulos de prazos mais curtos na carteira, para que seja possível ter alguma previsibilidade sobre o retorno dos investimentos.
Um prazo de investimento “mais curto” é de menos que cinco anos. O investidor pode não aproveitar oportunidades de retornos maiores com a marcação a mercado, mas correria menos riscos.
Os especialistas reforçam que a marcação a mercado pode ser um risco grande para o investidor que ainda não tem tanto conhecimento deste universo, já que ele pode comprar ou vender o título em um momento errado.
Além do prazo, é importante ter atenção à liquidez do investimento. Um ativo com uma liquidez alta significa que o investidor terá mais facilidade ao resgatar o dinheiro. Já a liquidez baixa representa uma demora a mais no retorno do dinheiro.
🧨 Emissores privados
Por fim, os especialistas reforçam o alerta em relação aos riscos dos investimentos na renda fixa privada. Como são emitidos por empresas privadas, o nível de endividamento precisa ser analisado.
Com as taxas de juros elevadas e podendo subir mais, essas dívidas das empresas podem crescer ainda mais, aumentando o risco de que não consigam arcar com seus compromissos financeiros — inclusive devolver o dinheiro do investidor no tempo correto.
As debêntures, por exemplo, são boas alternativas de investimento. São títulos de dívida que empresas privadas emitem no mercado para financiar investimentos. Mas, em momentos de juros altos, esse endividamento pode ser tornar crônico ou o investimento da empresa pode não se pagar.
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