‘A gente está sempre na luta para furar bolhas’, diz quadrinista homenageado no Dia do Quadrinho Nacional em Campinas


Digo Freitas é o homenageado de 2015 no evento que celebra a data na metrópole. Os quadrinistas Mario Cau e Alexandre Esquitini são dois quadrinistas que tiveram a metrópole como inspiração e alcançaram novos espaços com a nona arte brasileira. ‘A gente está sempre na luta para furar bolhas’, diz quadrinista homenageado em Campinas
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👉 As histórias em quadrinhos (HQs) podem ter diversos formatos de acordo com a imaginação do autor, e brincar com essas possibilidades é uma prática de Digo Freitas que já falou sobre pichação, publicou histórias no formato tradicional e até dentro de um baralho, além de ter escrito um livro de receitas com balões e personagens.
Digo é o homenageado da 12ª edição do Dia do Quadrinho Nacional, data comemorada nesta quinta-feira (30), que acontece na Biblioteca Municipal Professor Manoel Zink, em Campinas (SP).
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Assim como ele, outros artistas têm a metrópole como importante para a formação no mundo dos quadrinhos, como Mario Cau, que coleciona prêmios e atualmente tenta levar as obras produzidas para os EUA, e Alexandre Esquitini que deixou de ser designer de brinquedos para criar a própria editora. [conheça os artistas abaixo].
“A gente tá sempre na luta para que tenha mais opções, para furar as bolhas de pessoas que não sabem que tem o quadrinho nacional. Então, acredito que a gente está o tempo todo criando novas formas de chegar nas pessoas. Por isso que eu sempre falo que eu tenho um trabalho meio maluco de misturar as coisas”, conta Digo Freitas.
Digo Freitas é nascido e criado em Campinas e já retratou a metrópole em algumas de suas HQs.
Estevão Mamédio/g1
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💡 Inspiração nos becos de Campinas
Digo Freitas conta que em seu trabalho, além da luta para “estourar bolhas”, sempre aborda a cidade em que mora. Ele diz que “a terra onde a gente vive, a cidade que a gente respira faz parte de como a gente enxerga o mundo, a gente ser brasileiro, a gente ser do estado de São Paulo, a gente ser de Campinas, todos esses locais influenciam meu trabalho”.
O artista já retratou em seus quadrinhos os becos da Rua Barreto Leme, a Avenida Anchieta, onde fica localizada a Prefeitura, e um colégio da metrópole.
Rua que serviu de inspiração para cenário da história em quadrinhos “Tinta Fresca”, de Digo Freitas.
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Ele explica que a ideia de reproduzir esses locais surgiu em função da vontade que ele tinha, como leitor, de ler histórias em quadrinhos ambientadas no interior de São Paulo, com a possibilidade de reconhecer a própria cidade nos desenhos.
Para ele, essa é uma maneira de “furar a bolha” e mostrar que o quadrinho nacional existe, ele está próximo e possui muitas vertentes, temas e formatos.
“Ter o Dia do Quadrinho Nacional no Brasil é importante para marcar o nosso trabalho. É uma coisa maravilhosa, uma grande conquista nossa e uma homenagem ao Ângelo Agostini, [..] que é considerado um dos produtores de quadrinhos mais antigos da história dos quadrinhos”, celebra o artista.
Nos 15 anos de carreira, Digo já publicou trabalhos de humor e aventura, foi aluno de Mario Cau [conheça abaixo] em Campinas e atualmente também posta tirinhas nas redes sociais, onde encontrou um espaço para divulgar sua produção.
Editora campineira
Segundo Alexandre Esquitini, o propósito da editora, que tem pouco mais de um ano, é “produzir mais obras brasileiras inéditas”.
Arquivo pessoal
Ex-designer de brinquedos e quadrinista, Alexandre Esquitini criou uma editora em Campinas com objetivo de dialogar com o público e fomentar o cenário das histórias em quadrinhos nacionais, sempre na busca de novos espaços com os temas abordados nas HQs.
“Eu tava muito acostumado a fazer projetos que atingiam muitas pessoas. Então, eu fazia uma campanha de Barbie e vendia dois milhões de peças. Mas eu não tava dizendo nada com aquilo”, lembra.
“Mila e Milio”, contou com a participação do ilustrador Rodrigo de Freitas, onde mistura ficção e fantasia para mostrar a importância da ciência e da divulgação científica no mundo. “A gente vendeu, na pré-venda, 1.500 cópias desse quadrinho, até parece pouco, mas para HQs esse é um número muito bom”.
Segundo o quadrinista, para que esse tipo de projeto aconteça e atinja cada vez mais espaços é preciso ter em mente que a produção de história em quadrinhos disputa pelo imaginário da população, e por isso, é importante abordar temas importantes que gerem discussões relevantes na sociedade.
“Sinto que o Brasil tem uma produção gigantesca, mas a gente [editora] entende que existe um monopólio no ramo, e com isso, precisamos disputar essa linguagem. Quando a gente vai construir nossas obras, a gente pensa no que realmente precisa intensificar no debate público” conta.
Quadrinho brasileiro viaja para os Estados Unidos
“Quando vim pra Campinas eu entendi a possibilidade de publicar independente, de contar as minhas histórias, de ter o meu estilo, isso empoderou o molequinho do interior”.
Arquivo pessoal
O quadrinista Mario Cau, natural de Pedreira (SP), encontrou em Campinas um lugar para crescer e se formar na nona arte. Mario, no ramo há 20 anos, estudou artes visuais na Unicamp, e aprendeu sobre fazer HQs com os artistas Paulo Branco e Dag Lemos.
“Eu precisei ir para Campinas para fazer aula em uma escola de artes um pouco mais ampla, onde tinha aula de quadrinhos, para descobrir que tinha exposições, tinha um monte de gente, de estilos e técnicas diferentes convivendo no mesmo lugar e começar a entender o universo de trabalho com HQs”, explica.
Cau atualmente mora nos Estados Unidos e contou ao g1 sobre os projetos de adaptar obras que fez como quadrinista independente no Brasil para o inglês e vender nos Estados Unidos. Em março deste ano será a terceira adaptação.
“Estou aproveitando a oportunidade para mostrar o meu trabalho aqui [nos Estados Unidos], e, ao mesmo tempo, eu estou trabalhando como arte finalista de um quadrinho para o Brasil, de uma série de ficção científica”, afirma Mario.
O artista relembrou o que pensou quando se mudou para o país, “eu não queria abandonar a carreira de 20 anos que construí no Brasil e sumir”, por isso, mantém trabalhos no Brasil, mas sem deixar de mostrar aos estadunidenses a potência e a variedade do quadrinho brasileiro com suas HQs.
Por fim, Mario Cau reforçou a importância da existência do Dia do Quadrinho Nacional. Para ele, a data é relevante, porque possibilita diálogo entre as pessoas a respeito das histórias em quadrinhos, que segundo ele, têm uma linguagem poderosa, que pode ser usada tanto para entretenimento, quanto para a expressão artística.
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