‘O beijo da mulher aranha’ concorreu, mas era falado em inglês e não representou Brasil. História do Brasil tem injustiça com Fernanda Montenegro e ‘vice’ de Carlinhos Brown. William Hurt em ‘O beijo da mulher aranha’
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“Ainda estou aqui” foi indicado à principal categoria do Oscar 2025, de Melhor Filme, nesta quinta-feira (23). É a primeira vez na história que um filme brasileiro disputa a maior categoria do Oscar. A produção também tem outras duas indicações: Filme Internacional e Melhor Atriz (Fernanda Torres). O filme dirigido por Walter Salles é o primeiro longa original Globoplay.
Embora seja a estreia de um filme brasileiro na premiação, uma produção oficinalmente americana e brasileira já concorreu ao Oscar de Melhor Filme em 1986.
“O beijo da mulher aranha” é uma coprodução Estados Unidos e Brasil, dirigida pelo argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, com elenco na maioria internacional. Ele concorreu ainda a ator (e ganhou, com o americano William Hurt), a diretor e a roteiro adaptado.
O filme era considerado mais americano do que brasileiro. Os astros do filme, o americano William Hurt e o porto-riquenho Raul Julia, trabalharam sob as regras do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos.
A produção sequer teve a possibilidade de ser o representante brasileiro ao Oscar de filme estrangeiro, porque era falado em inglês. O escolhido na época foi “A hora da estrela”, que não foi selecionado pela Academia americana.
Outras indicações do Brasil na história
Sergio Mendes com a mulher, Gracinha Leporace, e Carlinhos Brown, em 2012, no Oscar
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Matematicamente falando, jamais houve melhor possibilidade para ganhar o Oscar como no caso da música “Real in Rio”, da animação “Rio”, dirigida por Saldanha.
Em 2012, Carlinhos Brown e Sergio Mendes disputavam o Oscar contra um único concorrente. Mas ficaram com o “vice”. Eles perderam para “Man or muppet”, tema de “Os muppets”. Bret McKenzie, do duo Flight of the Conchords, levou o primeiro Oscar da Nova Zelândia.
Em 1999, Fernanda Montenegro foi indicada por “Central do Brasil”, mas perdeu para Gwyneth Paltrow (“Shakespeare Apaixonado”, da produtora Miramax, de Harvey Weinstein). Hoje, a derrota da brasileira é citada como um dos exemplos de como o produtor usava de sua influência para ditar os rumos da premiação. O longa de Walter Salles foi indicado a Filme Estrangeiro, mas perdeu para o italiano “A vida é bela”.
Quantas vezes o Brasil já foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional?
Leonardo Villar e Glória Menezes no filme ‘O pagador de promessas’, de 1962
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Na categoria Melhor Filme Internacional, que antes se chamava Melhor Filme Estrangeiro, o Brasil já teve cinco indicados:
“O pagador de promessas” (1963);
“O quatrilho” (1996);
“O que é isso companheiro?” (1998);
“Central do Brasil” (1999);
“Ainda estou aqui” (2025).
Quais brasileiros foram indicados em outras categorias?
Em duas categorias, o Brasil só foi lembrado uma vez:
“Uma história de futebol”, de Paulo Machline, foi indicado a Melhor Curta, em 2001;
“O menino e o mundo”, de Alê Abreu, perdeu o Oscar de Melhor Animação para “Divertida Mente”, em 2016;
“Onde Eu Moro”, de Pedro Kos, disputou na categoria Documentário Curta Metragem.
Em 1945, a primeira vez do Brasil no Oscar foi de Ary Barroso (1903-1964). “Rio de Janeiro” entrou na disputa da estatueta de Melhor Canção Original pelo filme “Brazil”, uma produção americana.
Em 2003, “Cidade de Deus” foi ignorado por Hollywood e ficou fora da disputa pelo Oscar de filme estrangeiro. No ano seguinte, a Academia mudou de opinião e colocou “Cidade de Deus” para concorrer em quatro categorias: diretor (Fernando Meirelles), roteiro adaptado (Bráulio Mantovani), fotografia (César Charlone) e edição (Daniel Rezende).
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Quais as estatuetas do Oscar são um pouco brasileiras?
Em 2005, o uruguaio Jorge Drexler ganhou o Oscar de Melhor Canção Original com “El outro lado del rio”. Ela está na trilha de “Diários de motocicleta”, do diretor brasileiro Walter Salles.
“Orfeu Negro” venceu o Oscar de Filme Estrangeiro em 1950, mas foi inscrito pela França. O longa do diretor francês Marcel Camus foi inspirado na peça “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes (1913-1980).
Essa coprodução de França, Itália e Brasil contava a história da paixão do motorista Orfeu por Eurídice, e sua descida do “Olimpo da favela” para o “inferno do asfalto” em busca da amada. Vinicius viu o filme, mas disse não ter gostado muito. Sentiu falta das músicas originais.
A figurinista e artista Luciana Arrighi fala no Festival de Berlim em 2015
Brita Pedersen/AFP
Em 1993, Luciana Arrighi ganhou um Oscar de Melhor Direção de Arte por “Retorno a Howards End”, com Anthony Hopkins e Emma Thompson. Quem entra no site oficial da figurinista descobre que ela nasceu no Rio, em 1940.
“Eu tenho a nacionalidade australiana, mas pode dizer que o Oscar que eu ganhei é um pouco brasileiro”, disse Luciana ao g1.
Qual categoria já teve mais brasileiros indicados?
Em Melhor Documentário, cinco filmes com brasileiros na direção ou produção já foram lembrados (“El Salvador: Another Vietnam”, “Raoni”, “Lixo extraordinário”, “O Sal da Terra” e “Democracia em Vertigem”).