Saúde e nutrição com Clayton Camargos: Ozempic ou Mounjaro?

Saúde e nutrição com Clayton Camargos: Ozempic ou Mounjaro?Clayton Camargos

A obesidade é um dos principais desafios de saúde coletiva em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS*), mais de 1,9 bilhão de adultos estão portadores de sobrepeso, dos quais 650 milhões estão obesos. No Brasil, dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL*, 2023) apontam que 22,35% da população está obesa e 57,25% apresentam excesso de peso, refletindo um cenário alarmante.

Para enfrentar essa epidemia, medicamentos como Ozempic e Mounjaro têm se tornado cada vez mais populares, prometendo resultados significativos no controle ponderal. No entanto, é crucial compreender as diferenças entre eles, suas indicações, benefícios, riscos e impacto no sistema de saúde.

Diferenças entre Ozempic e Mounjaro

  • Ozempic (Semaglutida)

Ozempic é um análogo do GLP-1 (glucagon-like peptide-1), um hormônio que regula o apetite, a glicemia e a saciedade. Originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2, sua eficácia no emagrecimento foi comprovada em doses maiores, levando à aprovação de sua formulação específica para obesidade (Wegovy, disponível no Brasil). Estudos clínicos, como o STEP Trial*, demonstraram que pacientes tratados com Semaglutida podem emagrecer até 15% do peso corporal em um ano.

  • Mounjaro (Tirzepatida)

Mounjaro é um agonista duplo dos receptores GLP-1 e GIP (polipeptídeo insulinotrópico glicose dependente). A combinação de ação em dois hormônios promove maior redução do apetite e melhora metabólica, isto é, o indivíduo fica saciado e com o metabolismo mais estimulado. Segundo o estudo SURMOUNT-1*, a Tirzepatida mostrou uma redução de peso de até 22,5%, resultados superiores aos obtidos com a Semaglutida.

Indicações Terapêuticas e Segurança Ambos os medicamentos são indicados para:

  • Portadores de diabetes tipo 2;
  • Portadores de obesidade (IMC ≥30 kg/m²) ou sobrepeso (IMC ≥27 kg/m²) associado a comorbidades, como hipertensão ou dislipidemia.

Efeitos colaterais:

Os efeitos adversos mais comuns incluem náuseas, vômitos, diarreia e constipação. Além disso, há preocupações com o risco de pancreatite e possíveis efeitos desconhecidos a longo prazo.

Contraindicações máximas:

  • Histórico de Síndrome de Neoplasia Endócrina Múltipla tipo 2 (MEN2);
  • Gestantes e nutrizes.

Custo-benefício: qual é a melhor opção para o consumidor brasileiro? Atualmente, o preço médio mensal da Semaglutida (Ozempic e Wegovy) oscila entre R$ 800 a R$ 1.200, enquanto o Mounjaro, aprovado em setembro de 2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e ainda sem previsão de comercialização no Brasil, portanto, dependente de importação, tem um custo inicial mais elevado, podendo ultrapassar R$ 5 mil por mês. Embora o Mounjaro apresente maior eficácia, a Semaglutida pode ser uma opção mais acessível para muitos consumidores.

No entanto, ambos os medicamentos ainda são inacessíveis para grande parte da população, representando um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS). Até o momento, nenhum dos dois é fornecido pelo SUS, limitando seu uso a pacientes com maior poder aquisitivo.

Prescrição e consumo no Brasil e no mundo O aumento do uso dessas medicações gerou uma demanda tão alta que houve escassez global de Ozempic em 2023. No Brasil, observa-se um aumento nas prescrições não apenas para obesidade, mas também como estratégia de emagrecimento estético, o que é amplamente criticado por especialistas e órgãos reguladores, como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM*).

Posições das Entidades do Setor da Saúde

  1. ANVISA: aprova o uso do Ozempic e Mounjaro para diabetes tipo 2 e obesidade, mas alerta sobre uso indevido sem acompanhamento de especialista;
  2. ABESO (Associação Brasileira de Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica): defende o uso criterioso em pacientes que atendam às indicações clínicas, enfatizando mudanças no estilo de vida como parte essencial do tratamento;
  3. SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia): reforça a necessidade de prescrição supervisionada e monitora possíveis abusos no consumo;
  4. ABRAN (Associação Brasileira de Nutrição): recomenda abordagem multidisciplinar no manejo do peso;
  5. OMS: apoia o uso de terapias inovadoras, mas destaca a necessidade de equidade no acesso.

Impacto Econômico e Saúde Pública O tratamento da obesidade é caro, mas sua negligência custa ainda mais. Segundo estudos*, a obesidade e suas complicações representam 2,4% do PIB global em custos diretos e indiretos. No Brasil, os gastos relacionados ao sobrepeso e obesidade somam bilhões de reais anualmente para o SUS, devido a comorbidades como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.

Perspectiva para o SUS Embora caros, Ozempic e Mounjaro poderiam reduzir os custos com complicações graves, como insuficiência cardíaca e eventos cerebrovasculares. Estudos* de economia da saúde indicam que a adoção dessas medicações, aliada à prevenção, pode gerar economia a longo prazo.

Ozempic e Mounjaro representam avanços significativos no tratamento da obesidade, com benefícios seguros em termos de emagrecimento e controle metabólico. No entanto, desafios como o alto custo e o uso indiscriminado exigem uma abordagem cautelosa. Para o consumidor brasileiro, a escolha entre os dois depende de fatores individuais e financeiros, mas ambos devem ser usados sob orientação de um profissional de saúde.

A inclusão dessas medicações no arsenal do SUS pode ser uma estratégia transformadora, desde que integrada a políticas públicas de prevenção e educação em saúde. Afinal, o combate à obesidade não é apenas uma questão individual, mas um esforço coletivo para promover qualidade de vida e equidade no acesso a tratamentos.

Informação é prevenção. Você tem alguma dúvida sobre saúde, alimentação e nutrição? Envie um e-mail para [email protected] e poderei responder sua pergunta futuramente. Nenhum conteúdo desta coluna, independentemente da data, deve ser usado como substituto de uma consulta com um profissional de saúde qualificado e devidamente registrado no seu Conselho de Categoria correspondente.

Saúde e nutrição com Clayton Camargos: Ozempic ou Mounjaro?

*Clayton Camargos é sanitarista pós graduado pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz. Desde 2002, ex gerente da Central Nacional de Regulação de Alta Complexidade (CNRAC) do Ministério da Saúde. Subsecretário dePlanejamento em Saúde (SUPLAN) da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF). Consultor técnico para Coordenação-Geral de Fomento à Pesquisa Em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE) do Ministério da Saúde. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde (COPROM) da Diretoria de Serviços (DISER) da Fundação de Seguridade Social. Docente das graduações de Medicina, Nutrição e Educação Física, e coordenador dos estágios supervisionados em nutrição clínica e em nutrição esportiva do Departamento de Nutrição, e diretor do curso sequencial de Vigilância Sanitária da Universidade Católica de Brasília (UCB). Atualmente é proprietário da clínica Metafísicos.

CRN-1 2970.

The post Saúde e nutrição com Clayton Camargos: Ozempic ou Mounjaro? first appeared on GPS Brasília – Portal de Notícias do DF.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.