A guerra acabou? Por que o acordo entre Hamas e Israel só saiu agora? Entenda a situação em Gaza


Acordo foi anunciado nesta quarta-feira (15) no Catar. Imagem tirada de Israel mostra destruição no Norte da Faixa de Gaza em 13 de janeiro de 2025
Menahem Kahana/ AFP
O acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas prevê interrupção dos combates em Gaza por 42 dias e que dezenas de reféns israelenses e centenas de prisioneiros palestinos serão libertados.
Nesta primeira fase, as tropas israelenses recuarão para as margens de Gaza, e muitos palestinos poderão retornar ao que restou de suas casas, enquanto a ajuda humanitária aumentará significativamente.
Mas o anúncio significa que a guerra acabou? Ainda não é possível saber. A questão é se o cessar-fogo sobreviverá além dessa primeira fase.
Isso dependerá de mais negociações, previstas para começar dentro de semanas. Nesses diálogos, Israel, Hamas, e os mediadores dos Estados Unidos, Egito e Catar terão que enfrentar a difícil questão de como Gaza será governada, com Israel exigindo a eliminação do Hamas.
Sem um acordo dentro desses 42 dias para iniciar a segunda fase, Israel poderá retomar sua campanha em Gaza para destruir o Hamas — mesmo enquanto dezenas de reféns permanecerem sob poder dos militantes.
Aqui está uma visão do plano e dos possíveis obstáculos no esboço a que a Associated Press teve acesso; entenda:
Reféns libertados pelo Hamas são levados para Israel em veículo da Cruz Vermelha
Reuters
Troca de reféns por palestinos presos
Na primeira fase, o Hamas deverá libertar 33 reféns em troca da libertação de centenas de palestinos presos por Israel – todas as mulheres, crianças e idosos vivos sob poder dos militantes deverão estar entre eles.
Cerca de 100 reféns permanecem cativos em Gaza, uma mistura de civis e soldados, e os militares acreditam que pelo menos um terço deles estão mortos.
No primeiro dia oficial do cessar-fogo, o Hamas libertará três reféns, depois mais quatro no sétimo dia. Após isso, haverá liberações semanais.
Quais reféns e quantos palestinos serão libertados é um ponto complexo. Os 33 incluirão mulheres, crianças e aqueles com mais de 50 anos — quase todos civis, mas o acordo também obriga o Hamas a libertar todas as mulheres soldados vivas.
O Hamas libertará reféns vivos primeiro, mas, se os vivos não completarem o número de 33, corpos serão entregues. Nem todos os reféns estão sob poder do Hamas, então obter a liberação de outros grupos militantes pode ser um problema.
Em troca, Israel libertará 30 mulheres, crianças ou idosos palestinos para cada refém civil libertado vivo. Para cada soldado mulher libertada, Israel libertará 50 prisioneiros palestinos, incluindo 30 cumprindo sentenças de prisão perpétua.
Em troca de corpos entregues pelo Hamas, Israel libertará todas as mulheres e crianças detidas desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023.
Dezenas de homens, incluindo soldados, permanecerão cativos em Gaza, aguardando a segunda fase.
Palestinos inspecionam os danos no local de um ataque israelense a uma casa, em meio ao conflito Israel-Hamas, em Deir Al-Balah, na região central da Faixa de Gaza, em 22 de dezembro de 2024
Ramadan Abed/Reuters
Recuo israelense e retorno dos palestinos
Na primeira fase proposta, as tropas israelenses recuarão para uma zona de segurança de cerca de um quilômetro de largura dentro de Gaza, ao longo de suas fronteiras com Israel.
Isso permitirá que palestinos deslocados retornem às suas casas, incluindo em Gaza City e no norte de Gaza. Com a maior parte da população de Gaza vivendo em acampamentos precários e superlotados, os palestinos estão desesperados para voltar para suas casas, mesmo que muitas tenham sido destruídas ou gravemente danificadas pela campanha israelense.
Contudo, há complicações. Durante o último ano de negociações, Israel insistiu que deve controlar o movimento de palestinos para o norte para garantir que o Hamas não transporte armas de volta para essas áreas.
Ao longo da guerra, os militares israelenses isolaram o norte do resto de Gaza controlando o chamado Corredor de Netzarim, uma faixa ao longo do território onde tropas removeram a população palestina e montaram bases. Isso permitiu que realizassem buscas nas pessoas que fugiam do norte para o centro de Gaza e impedissem o retorno de qualquer pessoa.
O rascunho visto pela AP especifica que Israel deverá abandonar o corredor. Na primeira semana, as tropas deverão se retirar da principal estrada costeira norte-sul — Rua Rasheed — abrindo uma rota para os palestinos retornarem. No 22º dia do cessar-fogo, as tropas israelenses deverão deixar todo o corredor.
Ainda assim, enquanto as negociações continuavam na terça-feira, uma autoridade israelense insistiu que os militares manterão o controle de Netzarim e que os palestinos que retornarem ao norte terão que passar por inspeções lá, embora ele tenha se recusado a fornecer detalhes.
Palestinos e grupos de ajuda humanitária suspeitam que Israel esteja gradualmente adotando uma nova tática no norte de Gaza
Reuters
Ajuda humanitária
Na primeira fase, a entrada de ajuda em Gaza deverá aumentar para centenas de caminhões por dia, incluindo alimentos, medicamentos, suprimentos e combustível. Isso é muito mais do que Israel permitiu ao longo da guerra.
As complicações operacionais incluem restrições israelenses à entrada de certos equipamentos e a exclusão da UNRWA (agência da ONU), que Israel deseja proibir de operar na região.
O texto também detalha a previsão de reconstrução na terceira fase, atrelada a um plano de supervisão internacional.
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