‘Plano de saúde do PCC’ incluía botox e clareamento dental para membros da organização criminos

Operação do MPSP (Ministério Público de São Paulo) desarticulou um esquema que beneficiava os “chefões” das facções criminosas nos presídios. Funcionava como uma espécie de plano de saúde do PCC (Primeiro Comando da Capital), com direito a clareamentos dentários e até botox.

Penitenciária 2 de Presidente Venceslau

Presos da penitenciária 2 de Presidente Venceslau recebia atendimento do plano de saúde do PCC – Foto: Edson Lopes Jr./Reprodução/ND

A operação deflagrada na terça-feira (14), com apoio da Polícia Civil, contra 12 pessoas. Do total, oito estavam em liberdade, sendo três advogados suspeitos de mediar as contratações dos profissionais da saúde, conhecidos como “Sintonia dos Gravatas”.

Além de cinco integrantes de uma ONG (organização não governamental) suspeita de ser criada para fazer denúncias falsas de abusos no sistema prisional. Os outros quatro alvos já estavam presos.

Como funcionava o plano de saúde do PCC?

Estima-se que o esquema dura há, pelo menos, 10 anos. Apenas os integrantes da alta cúpula do PPC presos em diferentes unidades, como a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, recebiam os atendimentos.

Conforme apurou o Estadão, os advogados da “Sintonia dos Gravatas” contratavam médicos e dentistas, com dinheiro do tráfico de drogas, para atendimentos e até procedimentos estéticos.

Rebelião do PCC na Penitenciária de Junqueirópolis, em São Paulo, em 2006

Rebelião do PCC na Penitenciária de Junqueirópolis, em São Paulo, em 2006 – Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo/ND

Esses profissionais recebiam um valor muito acima do mercado para participar do esquema, mas não estão sendo tratados como parte do esquema criminoso.

“Não digo que os médicos e dentistas foram cooptados, porque estão prestando um serviço e são remunerados por isso”, disse o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MPSP.

No entanto, esses profissionais contratados ainda podem ser investigados caso surja indícios de envolvimento direto com as fações criminosas.

“Via de regra, aqueles que são atendidos foram presos em missão do PCC, seja por tráfico de drogas e armas, seja por envolvimento em atentados contra agentes públicos. Esses indivíduos têm direito, vamos dizer, ao atendimento VIP”, explicou Gakiya.

Sede do Ministério Público de São Paulo

Operação foi deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo – Foto: Reprodução/ND

Entre os que já foram beneficiados com o “atendimento VIP”, estão nomes como Marco William Herbas Camacho, “o Marcola”, Paulo César Souza Nascimento Júnior, o “Paulinho Neblina”, Wanderson Nilton de Paula Lima, o “Andinho”, e Rogério Jeremias de Simone, o “Gegê do Mangue”, morto em 2018.

Como o plano de saúde do PCC foi descoberto?

A investigação começou em 2021, quando uma mulher tentou entrar na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, com cartões de memória e manuscritos escondidos na roupa.

“Nos cartões, havia diversos arquivos contendo pastas dos setores de saúde da facção, rol de médicos e dentistas, advogados com codinomes, além de um material da ONG, que prestava conta à cúpula da facção”, relatou Edmar Caparroz, delegado do Deinter (Departamento de Polícia Judiciária do Interior), de Presidente Prudente.

Delegados Gilson Silveira e Edmar Caparroz, da Polícia Civil, e o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público, em coletiva de imprensa para falar sobre o plano de saúde do PCC

Os delegados Gilson Silveira e Edmar Caparroz, da Polícia Civil, e o promotor Lincoln Gakiya, do Ministério Público, em coletiva de imprensa para comentar sobre o plano de saúde do PCC – Foto: Divulgação/ND

“Em 2022, uma nova remessa de manuscritos foi apreendida na penitenciária, e trazia novas referências a advogados, médicos e dentistas”, acrescentou.

O material foi analisado, juntamente com manuscritos de detentos apreendidos no ano passado, apontando para uma divisão de setores na facção: “gravatas”, “saúde” e “financeiro”.

A seccional paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) disse acompanhar a investigação.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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